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terça-feira, 22 de dezembro de 2020

"His Dark Materials" - 2a Temporada: uma expansão surpreendentemente contida (Bilíngue)

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E aí, meus caros cinéfilos! Tudo bem com vocês? Estou de volta, para falar sobre a segunda temporada de uma das melhores séries que eu já vi nos últimos anos! Abordando o segundo livro da trilogia em que a série é baseada, a temporada em questão consegue expandir seu universo fictício, e ao mesmo tempo, ter uma história bem mais centrada do que a anterior, resultando em muita ação e um desempenho incrível de seu talentoso elenco. Então, sem mais delongas, vamos falar sobre a segunda temporada de “His Dark Materials”. Vamos lá!

(What's up, my dear film buffs! How are you guys doing? I'm back, in order to talk about the second season of one of the best TV shows I've watched in recent years! Adapting the second book in the trilogy it is based on, the season I'm about to analyze manages to expand its fictional universe, and at the same time, have a much more centered story than its predecessor, resulting in loads of action and an amazing job from its talented cast. So, without further ado, let's talk about the second season of “His Dark Materials”. Let's go!)



Baseado em “A Faca Sutil”, segundo livro da trilogia Fronteiras do Universo, escrita por Philip Pullman, a trama acompanha Lyra (Dafne Keen), que, após o abalo emocional sofrido no final da primeira temporada, cruza caminhos com Will Parry (Amir Wilson), um garoto à procura de seu pai desaparecido, em um mundo paralelo. Juntos, Lyra e Will deverão viajar por entre os mundos para cumprirem seus objetivos. Enquanto isso, o aeróstata Lee Scoresby (Lin-Manuel Miranda) recruta um misterioso xamã (Andrew Scott) para se juntar às feiticeiras em uma iminente guerra contra o temido Magisterium, influenciado pela manipuladora Sra. Coulter (Ruth Wilson).

(Based on “The Subtle Knife”, the second novel in the His Dark Materials trilogy, written by Philip Pullman, the plot follows Lyra (Dafne Keen), who, after an emotional rollercoaster in the season 1 finale, crosses paths with Will Parry (Amir Wilson), a boy looking for his missing father, in a parallel world. Together, Lyra and Will must travel inbetween worlds in order to fulfill their goals. Meanwhile, aeronaut Lee Scoresby (Lin-Manuel Miranda) recruits a mysterious shaman (Andrew Scott) to join the witches in an imminent war against the feared Magisterium, influenced by the manipulative Mrs. Coulter (Ruth Wilson).)



Antes de começar a falar de como o material fonte foi adaptado para a TV, eu gostaria de dedicar algumas linhas para discorrer sobre o desenrolar da trama da trilogia Fronteiras do Universo. O primeiro livro, “A Bússola de Ouro” (que já foi adaptado na primeira temporada dessa série, cuja resenha você pode ler aqui: http://nocinemacomjoaopedro.blogspot.com/2019/12/his-dark-materials-uma-adaptacao.html), é uma introdução ao universo fictício da história. Vários dos personagens-chave são encontrados pela primeira vez, e há uma boa exploração da mitologia que será aprofundada nos livros seguintes. O segundo livro, “A Faca Sutil”, que é a base para a temporada em análise, é uma expansão do universo, apresentando dois dos personagens mais importantes para o restante da trama, e ao mesmo tempo, uma história bem mais centrada do que seu antecessor. Não é muito descritivo, é bem mais realista, e explora poucos pontos de vista simultâneos, colaborando para uma leitura bem mais contida. E o terceiro livro, “A Luneta Âmbar”, que será adaptado na já confirmada terceira e última temporada da série, é de longe, o mais ambicioso da trilogia, sendo mais longo do que os dois primeiros combinados. A complexidade presente ao longo da trama em geral atinge seu pico nesse último capítulo, explorando vários pontos de vista, e é bem dependente da mitologia crescente e absolutamente fascinante criada por Philip Pullman. Com isso dito, vamos falar sobre o roteiro da segunda temporada de “His Dark Materials”. Uma das melhores coisas que essa nova leva de episódios fez em relação à primeira é o aumento na equipe de roteiristas. Enquanto a primeira temporada foi inteiramente escrita pelo Jack Thorne, a segunda contou com o auxílio de Francesca Gardiner, Sarah Quintrell, Namsi Khan e Lydia Adetunji, que ajudaram muito a apresentar outras perspectivas sobre esses personagens, permitindo que nós, como espectadores, possamos vê-los sob uma diferente lente. Como dito anteriormente, é uma história bem mais contida do que a primeira temporada, podendo ser dividida em três histórias simultâneas que vão se destrinchando em suas próprias linhas narrativas: 1) a trama envolvendo a Lyra e o Will; 2) Lee Scoresby e as feiticeiras; 3) Sra. Coulter e o Magisterium. A partir dessas três bases, novos personagens vão dando as caras, contribuindo para o surgimento de novas subnarrativas, acopladas à essas dinâmicas já existentes. Tem um ritmo bem mais frenético, se comparado com a leva anterior de episódios, contendo muito mais ação, como acontece no material fonte. Outra coisa que gostei bastante foi a ousadia ao adaptar “A Faca Sutil”. É uma temporada mais violenta e arriscada, e transforma a linha entre entretenimento familiar e uma veia mais adulta em algo bem mais tênue. É também um conjunto de capítulos bem mais tematicamente carregado. Além da onipresente fantasia no cerne da história, há comentários bem relevantes sobre a nossa cultura consumista, sobre saúde mental, e é claro, as críticas cada vez mais evidentes ao caráter repressivo de algumas das instituições religiosas predominantes, o que foi um ponto de partida para o autor dos livros elaborar a trama da trilogia como um todo. Tendo lido os livros, posso dizer que foi uma excelente adaptação, especialmente pelo fato de ter tomado certas liberdades narrativas que (mesmo que mudando algumas partes que funcionaram de forma mais eficiente no livro) permitiram que a série andasse com os próprios pés, ao invés de ser uma mera tradução dos acontecimentos no material fonte. E depois desse último episódio (que inclusive tem cena pós-créditos!), mal posso esperar para ver como a conclusão épica dessa adorada trilogia será adaptada para as telinhas.

(Before I start talking about how the source material was adapted into TV, I'd like to dedicate a few lines to discuss the unraveling of the plot of the His Dark Materials trilogy. The first novel, “The Golden Compass/Northern Lights” (which was already adapted into the first season of this show, you can read my review on that season here: http://nocinemacomjoaopedro.blogspot.com/2019/12/his-dark-materials-uma-adaptacao.html), is an introduction to the story's fictional universe. Several key characters are discovered there for the first time, and there's a good exploration of its mythology, which will be dealt with in a deeper way in the subsequent books. The second novel, “The Subtle Knife”, which is the basis for the analyzed season in this review, is an expansion of its universe, introducing two of the most important characters for the rest of the plot, and at the same time, it's a much more centered story than its predecessor. It's not as descriptive, it's much more realistic, and explores very few simultaneous points of view, collaborating for a pretty contained read. And the third book, “The Amber Spyglass”, which will be adapted in the show's already confirmed third and final season, is, by far, the most ambitious one in the pack, being thicker than the first two combined. The complexity throughout the general plot hits its peak in this final chapter, exploring multiple points of view, and it's really dependent on the growing and absolutely fascinating mythology created by Philip Pullman. With that out of our way, let's talk about the script for season 2 of “His Dark Materials”. One of the best things this batch of episodes did in comparison to the first one is the increase of writers credited in the screenplays. While the first season as a whole was written solely by Jack Thorne, this time around, he relied on the help of Francesca Gardiner, Sarah Quintrell, Namsi Khan and Lydia Adetunji, who really helped presenting alternative perspectives on these characters, allowing us, as viewers, to see them under a different lens. As previously stated, this is a much more contained story than last season, managing to be divided into 3 simultaneous storylines which will be branching out into their own, personal narrative plotlines: 1) the plot involving Lyra and Will; 2) Lee Scoresby and the witches; 3) Mrs. Coulter and the Magisterium. From those three bases, new characters show up, contributing for the origin of new storylines, attached to these already existent dynamics. It has a much more frenetic pace, if compared to the previous set of episodes, containing much more action, as it happens with the source material. Another thing I really enjoyed was the show's boldness in adapting “The Subtle Knife”. It's a riskier, more violent season, and it turns the line between family entertainment and a more mature show into something really blurry. It is also a much more thematically charged batch of episodes. Besides the omnipresent fantasy in the story's core, there are really relevant commentaries on our culture of consumerism, on mental health, and of course, the much more evident criticism to the repressive character of some of the predominant religious institutions, which was a starting point for the author of the books to elaborate the plot of the trilogy as a whole. Having read the books, I can say it was an excellent adaptation, especially for the fact that it took certain narrative liberties that (even though they changed some things that worked more effectively in the books) allowed the show to walk on its own feet, rather than just being a word-for-word translation of what happened in the source material. And after this final episode (which has a post-credits scene, by the way!), I can't wait to see how the epic conclusion of this beloved trilogy will be adapted to the small screen.)



Assim como a própria trama da segunda temporada é mais reduzida, o elenco também é reduzido, se comparado com a primeira leva de episódios. O fio condutor da trilogia de livros como um todo é a dinâmica entre os dois protagonistas, a Lyra e o Will. O mesmo acontece na série. A química entre a Dafne Keen e o Amir Wilson é evidente e sempre crescente. Individualmente, Keen faz um ótimo trabalho em expressar o abalo emocional sofrido pela sua personagem no final da primeira temporada; enquanto Wilson é capaz de expressar muita coisa somente com os olhos. Só pelo olhar dele, dá pra ver o esforço e o sofrimento que o personagem dele passou até agora. A personagem mais interessante da série continua sendo a Sra. Coulter, interpretada de forma magistral pela Ruth Wilson. Enquanto na primeira temporada, ela foi retratada através de uma lente selvagem e animalesca, aqui a atriz consegue equilibrar de forma fantástica a selvageria que a marcou na temporada anterior e um autocontrole fascinante, que colabora muito com o caráter manipulativo da personagem. Eu gostei bastante do desempenho do Lin-Manuel Miranda, que partiu de um alívio cômico para um personagem muito mais sério nessa segunda temporada. Há uma cena em particular que ele compartilha com a personagem da Ruth Wilson que serviu de prova pra mim sobre o quanto Miranda era perfeito para o papel. O ator tem uma dinâmica cativante com o personagem do Andrew Scott, que está misteriosamente fascinante aqui. É um daqueles personagens que você morre de vontade de saber mais sobre. Também retornando, temos o Ariyon Bakare, que assume um papel mais secundário nessa segunda temporada; o Will Keen, que está constantemente ameaçador como uma das figuras principais do Magisterium; e a Ruta Gedmintas, que exala uma aura deliciosamente misteriosa como a Rainha Serafina Pekkala. Como novos membros de elenco, temos a incrível Simone Kirby como uma das principais personagens da trilogia em geral. Eu amei o papel central que ela teve nessa temporada. Como a rainha Ruta Skadi, temos a excelente Jade Anouka. Temos breves, mas eficientes performances da Bella Ramsey e da Ella Schrey-Yeats, cujas personagens tiveram pouca importância no livro, mas foram aprofundadas de forma surpreendente aqui. Há uma pontinha bem legal e significativa do Terence Stamp na metade da temporada. E como esperado, o trabalho de voz para os daemons é sensacional, composto pelas vozes de Kit Connor, Cristela Alonzo, David Suchet, Sope Dirisu e Phoebe Waller-Bridge.

(As the season 2 plot itself is a bit reduced, so is the cast, if compared to the first batch of episodes. The conductive force of the book trilogy as a whole is the dynamics between the two main characters, Lyra and Will. The same happens in the TV series. The chemistry between Dafne Keen and Amir Wilson is evident and always growing. Individually, Keen does a great job in expressing the emotional breakdown her character suffered in the season 1 finale; while Wilson is able to tell an enormous amount of information only with his eyes. Just by the look on his eyes, you're able to see how much his character has gone through to this point. The most interesting character in the series is still Mrs. Coulter, masterfully portrayed by Ruth Wilson. While in the first season, she was presented through a wild, feral-like lens, this time around, she manages to balance that wildness that marked her and a fascinating self-control, which collaborates a lot with the character's manipulative personality. I really liked Lin-Manuel Miranda's performance, as he went from being a comic relief to a really serious character in this second season. There's a particular scene he shares with Ruth Wilson's character that served to me as proof that he was a perfect fit for this role. He has a captivating dynamic with Andrew Scott's character, who is mysteriously fascinating here. He's one of those characters that you're dying to know more about. Also returning, we have Ariyon Bakare, who's in a more secondary role this time around; Will Keen, who is constantly threatening as one of the main bigwigs in the Magisterium; and Ruta Gedmintas, who exhales a deliciously mysterious aura as Queen Serafina Pekkala. As new cast members, we have the amazing Simone Kirby as one of the main characters of the trilogy as a whole. I loved her central role in this season. As Queen Ruta Skadi, we have the excellent Jade Anouka. We have brief, but effective performances by Bella Ramsey and Ella Schrey-Yeats, whose characters didn't matter that much in the book, but were dealt with a surprising amount of depth here. There's a really cool and significant guest appearance by Terence Stamp halfway through the season. And, as expected, the voice work for the daemons is nothing but sensational, with performances by Kit Connor, Cristela Alonzo, David Suchet, Sope Dirisu and Phoebe Waller-Bridge.)



Tecnicamente, é uma série muito bem feita. A direção de fotografia é maravilhosa, especialmente durante as cenas de ação e tensão. A direção de arte fez exatamente o que eu pensei que faria ao ler o livro. A tradução dos cenários, dos personagens, dos eventos e da própria Faca Sutil ficaram extremamente fiéis ao material fonte. Os episódios foram muito bem montados, resultando em 7 episódios “maratonáveis” de 45-50 minutos cada. A trilha sonora instrumental do Lorne Balfe vai ficando cada vez mais épica, e bem presente nas cenas principais da temporada. E por fim, temos os efeitos especiais, que ficaram bem mais polidos, se comparado com a temporada anterior. Temos mais daemons em cenas com mais pessoas, formas diferentes de daemons, o modo de funcionamento da Faca Sutil, e várias outras coisas, as quais não irei mencionar aqui, para não entrar em território de spoiler.

(Technically, it's a really well-done show. The cinematography is wonderful, especially during the action and tension scenes. The art direction did exactly what I thought it would do when reading the book. The translation of the settings, the characters, the events and the Subtle Knife itself were extremely faithful to the source material. The episodes were very well-edited, resulting in 7 “binge-watchable” episodes clocking in about 45-50 minutes each. Lorne Balfe's instrumental score gets more and more epic as the season goes by, and is really present in the season's main scenes. And finally, we have the special effects, which got way more polished, if compared to the previous season. We have more daemons in scenes with more people, different shapes of daemons, how the Subtle Knife works, and several other things, of which will not be spoken here, in order to stay out of spoiler territory.)



Resumindo, a segunda temporada de “His Dark Materials” é mais um triunfo da BBC e da HBO. Expandindo o seu universo fictício de uma maneira surpreendentemente contida, a adaptação do segundo livro da adorada trilogia de Philip Pullman encontra seus maiores pontos fortes nas liberdades narrativas tomadas no processo de adaptação do material fonte, e no enorme talento de seu crescente elenco. Mal posso esperar pela terceira e última temporada!

Nota: 10 de 10!!

É isso, pessoal! Espero que tenham gostado! Até a próxima,

João Pedro

(In a nutshell, the second season of “His Dark Materials” is another triumph by the BBC and HBO. Expanding its fictional universe in a surprisingly contained way, the adaptation of the second book in Philip Pullman's beloved trilogy finds its biggest strengths in the narrative liberties taken in the process of adapting the source material, and in its ever-growing cast's enormous talent. I can't wait for its third and final season!

I give it a 10 out of 10!!

That's it, guys! I hope you liked it! See you next time,

João Pedro)


2 comentários: