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E aí, meus caros cinéfilos! Tudo bem com vocês? Estou de volta, para falar sobre um dos lançamentos mais recentes no catálogo original da Netflix. Cotado como um dos principais concorrentes ao Oscar do ano que vem, o filme em questão faz uma brilhante analogia sobre como os eventos da vida real podem inspirar um roteirista a fazer o seu melhor trabalho. Então, sem mais delongas, vamos falar sobre “Mank”. Vamos lá!
(What's up, my dear film buffs! How are you guys doing? I'm back, in order to talk about one of the most recent releases in Netflix's original catalog. Labeled as one of the main contenders for next year's Oscars, the film I'm about to analyze makes a brilliant analogy on how real-life events may inspire a screenwriter to write his finest work. So, without further ado, let's talk about “Mank”. Let's go!)
O filme é ambientado na Hollywood dos anos 1930, que é vista pelos olhos de Herman J. Mankiewicz (Gary Oldman), um roteirista que, devido à um acidente, é forçado a se isolar em um rancho. Movido por devaneios causados pelo alcoolismo, Mankiewicz revive momentos do passado, os quais acabam o inspirando a escrever sua obra mais ambiciosa até o momento: o roteiro para o que iria se tornar o clássico “Cidadão Kane”.
(The film is set in 1930s Hollywood, which is seen through the eyes of Herman J. Mankiewicz (Gary Oldman), a screenwriter who, due to an accident, is forced to isolate himself in a ranch. Moved by daydreams caused by his alcoholism, Mankiewicz relives moments from the past, which end up inspiring him to write his most ambitious work yet: the screenplay for what would become the all-time classic “Citizen Kane”.)
Ok, há 3 principais razões para que as minhas expectativas para “Mank” estivessem altas: 1) é o primeiro filme dirigido pelo David Fincher (diretor de “Clube da Luta”, “A Rede Social” e “Se7en”) em 6 anos; 2) ele conta a história dos bastidores de um dos maiores clássicos da história do cinema, “Cidadão Kane” (se você ainda não leu a minha resenha sobre o filme, pode lê-la aqui:); e 3) é um filme sobre a arte de se fazer cinema. E quem me conhece sabe que eu amo filmes sobre cinema. Sejam eles filmes que prestam homenagem ao cinema (“Os Sonhadores”, “Cinema Paradiso”, “La La Land”, “Era uma Vez em Hollywood”) ou filmes contando a história da produção de outros filmes (“Ed Wood”, “O Artista do Desastre”). Com essas expectativas, “Mank”, aos meus olhos, seria um dos melhores filmes de 2020. E realmente é. Um fato interessante sobre o roteiro é que ele foi escrito pelo pai do diretor, Jack Fincher, antes de falecer em 2003. Eu não sei se ele sofreu alguma mudança desde então, mas se o filho conseguiu manter o roteiro de seu pai intacto, eu fico bastante impressionado. Um aspecto em que “Mank” consegue se diferenciar dos filmes citados acima que contam a história da produção de outras obras é que ele concentra em um campo não tão bem explorado nesses filmes, que é a pré-produção. Nos casos de “Ed Wood” e “Artista do Desastre”, as obras se concentram em mostrar os processos de filmagem de “Glen ou Glenda”, “A Noiva do Monstro”, “Plano 9 do Espaço Sideral” e “The Room”, respectivamente, deixando de lado o que vem antes e depois do primeiro “Ação!” e do último “Corta!”. A narrativa de “Mank” é composta inteiramente pelo processo de escrita do roteiro de “Cidadão Kane”, o que, aos olhos de muitos, pode parecer algo entediante e maçante. Mas para aqueles que conhecem todos os passos de produção de um longa-metragem, “Mank” é uma viagem fascinante pelo raciocínio de uma das figuras-chave no mercado cinematográfico. Eu recomendaria que o espectador assistisse à “Cidadão Kane” antes de assistir ao novo filme de Fincher, porque desta maneira, ele será capaz de assimilar vários eventos ocorridos em “Mank” com a narrativa do clássico filme de Orson Welles. O filme tem uma duração sucinta de 2 horas e 11 minutos, e faz uso de uma narrativa não-linear para explorar a mente e o raciocínio de seu protagonista ao escrever o roteiro do filme de Welles. E Fincher faz um trabalho excelente em estabelecer a linha temporal da narrativa, colocando cabeçalhos de cenas de um roteiro (ex.: Int. Castelo Hearst em San Simeon – Noite – 1937 [Flashback]) na tela em cada cena nova, para que o espectador não se perca. Com esse auxílio do roteirista, o espectador consegue assimilar a situação retratada na cena com o ano em que ela é ambientada, sem nenhuma dificuldade. E são nos flashbacks que se encontram as maiores inspirações de Mankiewicz para “Cidadão Kane”. Pessoas da vida real, eventos dos quais o protagonista participou, discussões sobre política e a estrutura de Hollywood que ele compartilhou com outros personagens. São esses pequenos momentos que, no presente da narrativa, o impulsionam a escrever novas cenas e criar novos personagens. E isso, pelo menos para mim, foi absolutamente fascinante. E a melhor coisa sobre o roteiro é que ele direciona o holofote para uma pessoa que passou quase despercebida quando o assunto é “Cidadão Kane”. O filme fora promovido nos anos 1940 como um veículo para Orson Welles, que, de acordo com os anúncios da época, “dirigiu, protagonizou e escreveu o roteiro” por conta própria. Mas Welles mal participa do processo de escrita do roteiro, tomando o filme de Fincher como base. Desde então, vários estudos foram feitos sobre a autoria do roteiro do filme de 1941, mais notavelmente o ensaio “Raising Kane”, escrito por Pauline Kael nos anos 1970, que causou bastante controvérsia ao rebaixar as contrbuições de Welles para o roteiro de Mankiewicz. Resumindo, pode-se dizer que o roteiro de “Mank” faz justiça ao gênio que originou uma das histórias mais icônicas da sétima arte, e ilumina um holofote em um dos processos mais importantes na produção de um filme.
(Ok, there were 3 main reasons for my expectations for “Mank” to be high: 1) it is the first film directed by David Fincher (who directed “Fight Club”, “The Social Network” and “Se7en”) in 6 years; 2) it tells the backstage story on one of the greatest classics in the history of cinema, “Citizen Kane” (if you haven't read my review on it, you can check it out here:); and 3) it's a film about the art of making movies. And those who know me know that I love films about cinema. Whether they're films that make a homage to cinema (“The Dreamers”, “Cinema Paradiso”, “La La Land”, “Once Upon a Time in Hollywood”) or films that tell the story of how other films were produced (“Ed Wood”, “The Disaster Artist”). With those expectations, “Mank”, in my point of view, would be one of the best films of 2020. And it really is. An interesting fact about the script is that it was written by the director's father, Jack Fincher, before he passed away in 2003. I don't know if it suffered any changes since then, but if the son managed to keep his father's screenplay intact through all this time, I congratulate him. An aspect in which “Mank” differs itself from the aforementioned films that chronicle the production of other films is that it focuses on a process not that well-explored in these films, which is the pre-production. In the cases of “Ed Wood” and “The Disaster Artist”, they focus on showing the filming processes of “Glen or Glenda”, “Bride of the Monster”, “Plan 9 from Outer Space” and “The Room”, respectively, putting aside what happens before and after the first “Action!” and the last “Cut!”. The narrative of “Mank” is composed entirely by the writing process for the “Citizen Kane” screenplay, which, in the eyes of many people, might seem something thoroughly boring. But to those who are familiar with every step in the production of a motion picture, “Mank” is a fascinating journey through the mind of one of the key figures in the movie business. I'd recommend that the viewer watches “Citizen Kane” before watching Fincher's new film, because in that way, they'll be able to assimilate several events depicted in “Mank” with the narrative of Orson Welles's classic. It has a succint running time of 2 hours and 11 minutes, and it makes use of a non-linear narrative to explore the mind and train of thought of its protagonist while writing the screenplay for Welles's film. And Fincher does an excellent job in establishing the narrative's timeline, by putting screenplay scene headers (example: Int. Hearst Castle in San Simeon – Night – 1937 [Flashback]) onscreen in every new scene, so that the viewer doesn't get lost. With this help by the screenwriter, the viewer is able to assimilate the situation depicted in the scene with the year it is set in, without any difficulty. And it's in the flashbacks that we find Mankiewicz's biggest inspirations for “Citizen Kane”. Real-life people, events of which he participated, discussions over politics and Hollywood's structure that he shared with other characters. It's those little moments that, in the narrative's present time, propel him to write new scenes and create new characters. And that, at least for me, was absolutely fascinating. And the best thing about the screenplay is that it shines a light on a person that went nearly unnoticed when it comes to “Citizen Kane”. It was promoted in the 1940s as a vehicle for Orson Welles, who, according to its promotional material, “directed, acted, and wrote” the film all by himself. Yet, Welles barely participated in the screenplay writing process, according to Fincher's film. Since then, several studies have been made and published on the authorship of the screenplay for the 1941 film, most notably the essay “Raising Kane”, written by Pauline Kael in the 1970s, which caused a lot of controversy for denigrating Welles's contributions to Mankiewicz's screenplay. To sum it up, it can be said that “Mank” does justice to the genius that originated one of cinema's most iconic stories, and shines a light on one of the most important aspects of making a film.)
O elenco de “Mank” foi muito bem escalado, especialmente quando se diz respeito à similaridade da aparência dos atores com as figuras da vida real interpretadas por eles. E é bem possível relacionar alguns personagens do filme com os personagens de “Cidadão Kane”. Começando com o Gary Oldman, que faz seu melhor trabalho aqui desde sua performance vencedora do Oscar por “O Destino de uma Nação”. Nós, como espectadores, vemos tudo pelos olhos dele, e é absolutamente fascinante como uma pessoa consegue assimilar tantos eventos da vida real para elaborar um roteiro, e Oldman consegue traduzir a sagacidade de Mankiewicz para a tela muito bem. Tem uma cena em particular onde ele expõe o enredo inteiro de “Cidadão Kane” bêbado numa festa com executivos de Hollywood, e as alfinetadas que ele dá nas figuras que inspiraram os personagens (as quais estão presentes na festa) são ácidas e espertas. Definitivamente, é uma atuação digna de Oscar. Oldman possui dinâmicas bem cativantes com as personagens da Amanda Seyfried e da Lily Collins, que também estão ótimas aqui, em especial Seyfried. Várias figuras de Hollywood da vida real são interpretadas de forma estupenda aqui: Arliss Howard consegue transmitir a personalidade egocêntrica de Louis B. Mayer muito bem; o Tom Pelphrey entrega uma boa performance como o irmão de Mankiewicz, sempre o alertando dos perigos de escrever um roteiro baseado em pessoas reais; a Tuppence Middleton propositalmente não possui química com Oldman, e o motivo para isso acontecer é brilhante; o Tom Burke conseguiu herdar o papel central de Orson Welles com primor, incluindo a raiva e dominação do diretor sobre sua obra; e por fim, temos o Charles Dance, cujo personagem é responsável pela elaboração do protagonista de “Cidadão Kane”, entregando um dos diálogos mais memoráveis do filme.
(The cast of “Mank” was really well cast, especially when it comes to the similarity of the actors' appearances with the real life figures they portray. And it's quite possible to connect some of the film's characters with the characters in “Citizen Kane”. Starting off with Gary Oldman, who delivers his finest work here since his Oscar-winning performance in “Darkest Hour”. We, as viewers, see everything through his eyes, and it's absolutely fascinating how a person manages to assimilate a large number of real-life events to put together a screenplay, and Oldman manages to translate Mankiewicz's wit to the screen really well. There's a scene in particular where he exposes the entire plot of “Citizen Kane” drunk at a party with Hollywood bigwigs, and the things he says about the figures that inspired the characters (which are also at the party) are acid and clever. It's definitely an Oscar-worthy performance. Oldman has really captivating dynamics with the characters portrayed by Amanda Seyfried and Lily Collins, who are also great here, especially Seyfried. Several real-life Hollywood figures are portrayed brilliantly here: Arliss Howard manages to transmit Louis B. Mayer's egocentric personality really well; Tom Pelphrey delivers a good performance as Mankiewicz's brother, always alerting him on the dangers of writing a script based on real people; Tuppence Middleton purposedly doesn't have any chemistry with Oldman, and the reason why that happens is brilliant; Tom Burke managed to inherit Orson Welles's central role wonderfully, including his rage and domination over his work; and, at last, we have Charles Dance, and the character he portrays is one of the main inspirations behind the protagonist of “Citizen Kane”, and he delivers one of the most memorable sequences of dialogue in the film.)
Eu fiquei impressionado com o nível de realismo e autenticidade que os aspectos técnicos de “Mank” atingiram com respeito à época retratada. A direção de fotografia do Erik Messerschmidt em preto-e-branco é uma verdadeira homenagem ao cinema dos anos 1930 e 1940. Há várias cenas onde aparecem aqueles granulados na tela, que acabam por dar ao filme uma vibe mais vintage, assim como aquelas “queimaduras de cigarro” que aparecem no canto superior direito da tela. A montagem do Kirk Baxter é exatamente idêntica à montagem dos filmes da época. Ao invés de um corte abrupto, a cena dissolve lentamente, concentrando em um ponto da tela, o qual se apaga por último. Isso é arte, meus amigos. A direção de arte, a maquiagem e o figurino, em conjunto, fazem um trabalho fenomenal de recriação da Hollywood dos anos 1930. O design de som é executado de forma perfeita e, principalmente, fiel à época retratada. E, como a cereja no topo desse bolo sofisticado, temos a trilha sonora instrumental do Trent Reznor e do Atticus Ross, e os compositores fazem um trabalho primoroso aqui. Usando instrumentos autênticos à década de 1930, a colaboração deles para esse incrível trabalho técnico nos faz acreditar constantemente que estamos vendo um filme que foi feito na época ambientada. Marquem minhas palavras: “Mank” vai varrer tudo quanto é prêmio técnico no Oscar ano que vem.
(I was impressed on the level of realism and authenticity that the technical aspects of “Mank” were able to reach regarding its setting. Erik Messerschmidt's cinematography in black-and-white is a true homage to 1930s and 1940s cinema. There are several scenes that seem grainy, which end up giving it a more vintage vibe, as do those “cigarette burns” which appear at the top right corner of the screen. Kirk Baxter's editing is absolutely identical to how films were edited at the time. Instead of an abrupt cut, the scene slowly dissolves, focusing on one point of the screen, which is put out lastly. This is art, my friends. The art direction, the makeup and the costume design, in tandem, do a phenomenal job in recreating 1930s Hollywood. The sound design is executed perfectly and, mainly, faithfully to the time in which the film's set. And, as the cherry on the top of this sophisticated cake, we have Trent Reznor and Atticus Ross's score, and the composers do a wonderful job here. Using authentic 1930s instruments, their collaboration to this amazing technical work make us constantly believe we're watching a film that was made in the time it is set in. Mark my words: “Mank” will sweep every single technical award in next year's Oscars.)
Resumindo, “Mank” marca a volta triunfal de David Fincher ao cinema, depois de 6 anos. Com o auxílio de um roteiro afiado, um elenco extremamente talentoso, e aspectos técnicos que homenageiam a época retratada, Fincher dá destaque à uma figura há muito tempo oculta nos bastidores de um clássico, e ilumina um holofote em um dos processos mais importantes na produção de um filme.
Nota: 9,5 de 10!!
É isso, pessoal! Espero que tenham gostado! Até a próxima,
João Pedro
(In a nutshell, “Mank” marks David Fincher's triumphant return to cinema, after 6 years. With the aid of a razor-sharp screenplay, an extremely talented cast, and technical aspects that pay homage to the time it is set in, Fincher gives the mic to a figure that was hidden for a long time in the production of a classic, and shines a light on one of the most important processes in the making of a motion picture.
I give it a 9,5 out of 10!!
That's it, guys! I hope you liked it! See you next time,
João Pedro)
Sensacional!!!
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