Translate

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2021

Animações Diferentes - "Ethel & Ernest": uma história real extraordinária sobre pessoas normais (Bilíngue)

 E não se esqueçam de curtir e seguir o blog nas redes sociais:

(And don't forget to like and follow the blog in social medias:)

Facebook: https://www.facebook.com/NoCinemaComJoaoPedroBlog/

Twitter: @nocinemacomjp2

Instagram: @nocinemacomjp


E aí, meus caros cinéfilos! Tudo bem com vocês? Estou de volta, para trazer a próxima parte da nossa postagem especial sobre animações diferentes! Na resenha de hoje, irei falar sobre uma pérola escondida recém-lançada no catálogo da Netflix, baseada em uma graphic novel abordando fatos reais. Armado com um enredo emocionalmente potente e personagens altamente carismáticos, o filme em questão conta uma história extraordinária sobre pessoas normais. Então, sem mais delongas, vamos falar sobre “Ethel & Ernest”. Vamos lá!

(What's up, my dear film buffs! How are you guys doing? I'm back, in order to bring to you the next part in our special post on different works of animation! In today's review, I'll be discussing on a hidden pearl in your Prime Video catalog, which is based on a graphic novel dealing with true events. Armed with an emotionally potent plot and highly likeable characters, the film I'm about to analyze tells an extraordinary story about ordinary people. So, without further ado, let's talk about “Ethel & Ernest”. Let's go!)



Baseado na graphic novel homônima escrita por Raymond Briggs, o filme segue a história real do relacionamento entre seus pais, Ethel (voz original de Brenda Blethyn) e Ernest (voz original de Jim Broadbent), que floresceu no final dos anos 1920 e perdurou até suas mortes. Juntos, Ethel e Ernest passam pelos mesmos rituais que todo casal da época (compram uma casa, pensam em ter filhos), ao mesmo tempo que presenciam alguns dos eventos mais importantes do século XX, como a chegada da televisão no Reino Unido, a chegada do homem à Lua e a Segunda Guerra Mundial.

(Based on the graphic novel of the same name written by Raymond Briggs, the film follows the true story of the relationship between his parents, Ethel (voiced by Brenda Blethyn) and Ernest (voiced by Jim Broadbent), which blossomed in the late 1920s and endured until their eventual demises. Together, Ethel and Ernest go through the same rituals as every couple did at the time (they buy a house, think about having children), at the same time they witness some of the most important events of the 20th century, such as the arrival of television in the UK, the Moon landing of 1969 and World War II.)



Eu já tinha visto “Ethel & Ernest” quando foi originalmente lançado em 2016, mas não trouxe a resenha aqui pela incapacidade de revelar aonde assistir ao filme. Agora que está disponível em um serviço de streaming acessível para muitos (Netflix), achei adequado trazer a resenha após reassistir ao filme, que completa 5 anos de lançamento este ano, ontem. Lembro muito pouco da primeira vez que assisti, exceto pelas ressalvas de ter sido baseado em fatos reais e abordar a Segunda Guerra Mundial em seu enredo. Agora, com o filme mais fresco na minha cabeça, posso dizer tranquilamente que é uma das melhores, mais lindas e emocionantes animações que eu já vi na vida. O roteiro, escrito pelo diretor Roger Mainwood, começa de uma forma incomum, mas simbólica. O filme abre com uma sequência live-action do autor da graphic novel que serviu de base para a adaptação, Raymond Briggs, fazendo um esboço de seus pais de acordo com o traço usado no material fonte. Essa pequena sequência, que à primeira vista pode parecer desconectada do restante do enredo, é armada de uma simbologia tão forte que pode até fazer o espectador derramar algumas lágrimas ao final da projeção, por causa do que acontece no decorrer da trama. A partir daí, somos levados para a Londres dos anos 1920, onde o relacionamento entre os dois protagonistas (que é o fio condutor do enredo) começa de uma maneira inegavelmente cativante. Ela, trabalhando como criada para uma senhora rica, balança o espanador na direção dele, que passava de bicicleta pela casa onde ela trabalhava, a caminho de seu próprio emprego. É uma sequência adoravelmente divertida que imediatamente faz o espectador torcer para que os dois acabem juntos. Uma das melhores coisas sobre o roteiro de “Ethel & Ernest” é a mudança gradual e quase imperceptível de tom. O filme começa como um verdadeiro conto de fadas, onde os protagonistas vivem aparentemente felizes em uma vida agradável com seu filho recém-nascido em Londres. Mas aí, através de notícias de rádio, tanto os protagonistas quanto o espectador aprendem que eventos inesperados estão por vir, o que nos leva a ficarmos apreensivos pelos personagens, os quais, até este ponto da história, já devem ter formado laços emocionais bem fortes para com o espectador. O aspecto mais brilhante do enredo é a enorme dose de realismo injetada no relacionamento entre os dois protagonistas e nos eventos dramatizados na tela. Eu simplesmente amei como a dinâmica entre a Ethel e o Ernest é explorada, no fato de que eles enfrentam dificuldades do dia a dia (como lidar com um castigo dado ao filho), assim como enfrentam circunstâncias maiores (como ter que enviar o filho para morar longe para mantê-lo seguro dos bombardeios alemães) e ainda ficam juntos. Eu achei o arco de personagem deles como casal muito parecido com o do Carl e da Ellie naqueles primeiros minutos inesquecíveis de “Up: Altas Aventuras”, mas, diferente do filme da Pixar, “Ethel & Ernest” seria como se aquela icônica sequência de 10-15 minutos fosse estendida em um longa enxuto e intrinsecamente detalhado de 1 hora e 30 minutos. É um relacionamento tão puro e tão realista que é capaz de fazer o mais durão dos espectadores desabar de tanto chorar. No aspecto de abordar a Segunda Guerra Mundial, não é um filme que tem muita ação, justamente porque ele não se concentra nela, mas sim no resultado dela; para aonde a devastação da guerra, entre outras circunstâncias, vai levar os dois protagonistas. O resultado das circunstâncias, sejam elas cotidianas ou de força maior, é a principal fonte de carga emocional do roteiro. Nós nos sentimos tão ligados a esses personagens desde o início da trama que, como espectadores, não podemos fazer nada senão compartilhar dos mesmos sentimentos que estão passando por eles em certos momentos, como quando eles são forçados a enviar o filho deles pra morar em um lugar longe dos pais; ou quando eles literalmente dormem em um bunker em forma de gaiola para evitar que os bombardeios os atinjam. Os eventos dramatizados na tela ganham ainda mais força pelo fato de, novamente reafirmo, serem incrivelmente realistas, fazendo o espectador pensar: “Caramba, isso aconteceu de verdade!”. É algo tão firmado na realidade, que acaba por nos cativar e nos deixar admirados com a evolução do relacionamento entre essas duas pessoas aparentemente normais que viveram vidas extraordinárias. Recomendo que preparem os lencinhos, porque até meu pai derramou algumas lágrimas, e ele raramente chora em filmes, então já deixo essa dica aqui. (Risos)

(I had already seen “Ethel & Ernest” when it was originally released in 2016, but I didn't bring the review to the blog due to the incapacity of telling you where to watch it. Now that it's available on a streaming service that's accessible to many people, I thought it was adequate to bring its review to you after rewatching the film, which celebrates 5 years of its original release this year, yesterday. I remember very little of the first time I watched it, except for some facts such as it being based on a true story and being set on WWII. Now, with the plot feeling fresher in my head, I can safely state that it is one of the best, most beautiful and most emotional pieces of animation I've ever seen in my life. The screenplay, written by director Roger Mainwood, starts off in an unusual but symbolic way. The film opens with a live-action sequence narrated by the author of the graphic novel that inspired it, Raymond Briggs, as he draws a sketch of his parents according to his art in the source material. This small sequence, which at first may seem disconnected from the rest of the plot, is armed with such a strong symbology that it will probably make the viewer shed a tear or two, because of what happens throughout the story. From that point, we are transported to 1920s London, where the relationship between the two main characters (which is the conductive force of the plot) starts off in an undeniably captivating way. She, working as a maid in a house inhabited by a rich lady, waves her cloth at him, who was passing by the house by bicycle, on the way to his own job. It is an adorably fun sequence that immediately makes the viewer root for them to be together. One of the best things about the screenplay for “Ethel & Ernest” is the gradual and almost imperceptible change of tone. It starts off as a real fairy tale, where the protagonists apparently live happily in a pleasant life with their newly-born son in London. But then, through radio news, both the protagonists and the viewer learn that unexpected events are about to come, which leads us to feel aprehensive for these characters, who by that point, have already formed really strong bonds with the viewer. The most brilliant aspect in the plot is the enormous dose of realism injected into the relationship between the two main characters, and into the events depicted onscreen. I simply loved on how the dynamics between Ethel and Ernest is explored, in which they find themselves facing day-to-day difficulties (such as dealing with a punishment for their son's behavior) as well as bigger circumstances (such as being forced to send their son away in order for him to be safe from bombings) and still stick together. I found their character development as a couple to be very similar to Carl and Ellie's in those unforgettable first minutes of “Up”, but, unlike Pixar's film, “Ethel & Ernest” would be life if that 10-15 minute sequence was expanded into a concise and exquisitely detailed feature-length film with a running time of 1 hour and 30 minutes. It's such a pure and realistic relationship, that it'll likely make the toughest of viewers drown in their tears. In the aspect of dealing with WWII, it doesn't have that much action to it, exactly because the action itself isn't its focus, but rather the outcome of it; to where the devastation of war, amongst other circumstances, the two main characters will go. The outcome of these circumstances, whether they're part of an everyday life or a bigger force, is the main source of the film's emotional strength. We feel so connected to these characters from the start that, as viewers, we can't help but share the same feelings going through them at certain points, like when they are forced to send their son away from his parents; or when they literally sleep in a bunker shaped like a cage in order to prevent the bombings from getting to them. The events depicted onscreen gain even more force by, I again reaffirm, being incredibly realistic, making the viewer think “Oh, my God. This actually happened!”. It's something so grounded to reality, that ends up captivating us and making us feel admired by the evolution of this relationship between ordinary people that lived extraordinary lives. I recommend you keep the tissue box close, because even my father shed a couple of tears, and he usually doesn't cry at movies, so I'll leave that tip there for you. (LOL))



O elenco de personagens principais do filme é reduzido aos personagens-título e ao filho deles, mas são personagens muito humanos e muito bem desenvolvidos. O visível contraste entre as personalidades da Ethel e do Ernest é uma das principais fontes para a evolução do relacionamento entre eles. Se a alegria fosse uma personificação, o Ernest chegaria bem perto de se tornar essa personificação. Ele tem uma atitude tão positiva e otimista em relação às circunstâncias que chega até a ser contagiante, mas há algumas partes onde ele se vê mais vulnerável, e o espectador não consegue deixar de se emocionar com ele, por causa da simpatia criada pelo personagem ao longo da trama. Já a Ethel, mesmo antes de ser mãe, já se mostrava preocupada com tudo. Ao descobrir que Ernest comprou uma casa, ela já ficava se perguntando “Meu Deus, como é que a gente vai pagar essa casa?”. Mas essa preocupação não parece estereotipada e forçada, de modo algum. São sentimentos extremamente humanos que certamente passariam por todos nós se estivéssemos enfrentando as mesmas situações. Uma das melhores coisas sobre o desenvolvimento dos personagens é como o roteiro usa as diferentes gerações para simbolizar a passagem de tempo, no caso, envolvendo os pais e o filho. Enquanto Ethel e Ernest se mantêm fiéis aos valores e hábitos cultivados desde o casamento, o filho deles, Raymond, é mostrado como um seguidor das “modas” da época, vestindo roupas de hippie no início dos anos 1970, e com uma aparência incrivelmente similar à dos Beatles no final da carreira da banda. O relacionamento entre os três após o período de faculdade do filho é uma das principais formas usadas pelo roteiro para atingir nas emoções do espectador. É uma seção cativante e emocionalmente muito forte que certamente causará um impacto em muitos espectadores.

(The film's roster of main characters is reduced to the title characters and their son, but they are very human and very well-developed characters. The visible contrast between Ethel and Ernest's personalities is one of the main sources for the evolution of their relationship. If joy was a person, Ernest would be really close into becoming its personification. He has such a positive and optimistic attitude regarding the circumstances that it becomes contagious, but there are a few parts where he sees himself as more vulnerable, and the viewer can't help but feel for him, because of the sympathy created for the character throughout the plot. Now Ethel, even before she became a mother, showed herself as worried about everything. When finding out that Ernest had bought a house, she was already thinking: “Good God, how are we going to pay for this house?”. But that concern doesn't come out as stereotyped or forced, not at all. They are extremely human feelings that would certainly go through our heads if we were going through the same situations. One of the best things about the character development is how the screenplay uses different generations to deal with the passage of time, in this case, regarding the son and his parents. While Ethel and Ernest keep themselves faithful to the values and habits they've become accostumed to since their marriage, their son, Raymond, shows himself as a follower of the trends of each time, wearing hippie clothing in the early 1970s, and looking astonishingly similar to the Beatles in the end of their career. The relationship between the three of them after the son's college period is one of the screenplay's main ways to tug at the viewer's emotional strings. It's a captivating and really emotionally strong section that will surely cause an impact on many viewers.)



Eu já falei aqui o quanto eu amo animações feitas tradicionalmente, ou seja, desenhadas a mão, especialmente nas resenhas de “Ernest e Célestine”, “A Grande Raposa Má” e “Wolfwalkers”, e “Ethel & Ernest” entra com sucesso nessa lista. Eu amei como Londres e os personagens foram desenhados, como se fossem tirados diretamente de ilustrações de livros infantis. Os personagens têm rostos surpreendentemente rosados, o que dá uma sensação de aconchego para o espectador. As cenas de guerra são muito bem animadas, como se os animadores estivessem fazendo o trabalho por cima de filmagens de arquivo. É incrível como a iluminação vai lentamente se oscilando de acordo com o tom de cada cena. Há algumas partes onde a diferença entre a animação tradicional predominante e a pouca quantidade de CGI usada é visível. Fico me perguntando o porquê deles terem usado CGI, pra começo de conversa. Dava pra tranquilamente animar essas partes tradicionalmente, para até realçar o tom rebuscado e antiquado (no bom sentido) das ambientações, mas não atrapalhou minha experiência. A trilha sonora original do Carl Davis é perfeita, em todos os sentidos. Ela consegue capturar todos os sentimentos presentes na vida dos dois protagonistas: tanto a delicadeza e a doçura de alguns momentos, quanto a angústia e a tensão de outros. É um trabalho que me lembrou bastante da trilha do Alexandre Desplat para “A Forma da Água”, no sentido que Davis conseguiu capturar muito bem essa vibe de ser um “conto de fadas” realista nas faixas de “Ethel & Ernest”. Inclusive, há uma versão instrumental de “We'll Meet Again”, canção tocada no final aterrador de “Dr. Fantástico”, que encaixa super bem no contexto onde ela é colocada.

(I've already spoken out on how I adore traditionally-made, or hand-drawn works of animation, especially on my reviews for “Ernest and Célestine”, “The Big Bad Fox” and “Wolfwalkers”, and “Ethel & Ernest” successfully makes itself worthy of being included on that list. I loved how London and the characters were designed, as if they were directly pulled out of a children's book illustration. The characters have surprisingly rosy faces, which gives a sense of coziness to the viewer. The war scenes are really well-animated, as if the animators were doing their job on top of archival footage. There are some parts in which the difference between the predominant traditional animation and the small amount of CGI used is visible. I keep wondering why did they use CGI, in the first place. They could've easily animated those parts traditionally, to even reinforce the vintage, old-fashioned (in a good way) tone of the settings, but it didn't spoil my experience. Carl Davis's original score is perfect, in every way. It manages to capture all the feelings in the two protagonists' lives: both the delicateness and sweetness of some moments, and the anguish and tension in other ones. It reminded me a lot of Alexandre Desplat's score for “The Shape of Water”, in the way that Davis managed to perfectly capture that realistic “fairy tale” vibe in the tracks of “Ethel & Ernest”. By the way, there's an instrumental version of “We'll Meet Again”, a song that's present in the shattering final scene of “Dr. Strangelove”, that matches really well with the context in which it is put.)



Resumindo, “Ethel & Ernest” é uma verdadeira biografia em forma de filme. Armado com uma história cativante, emocionalmente potente e realista; personagens essencialmente humanos e métodos de animação encantadores e aconchegantes, o filme acerta em cheio ao retratar a vida extraordinária de seus protagonistas normais com respeito, fidelidade e carinho.

Nota: 10 de 10!!

É isso, pessoal! Espero que tenham gostado! Até a próxima,

João Pedro

(In a nutshell, “Ethel & Ernest” is a true biography in movie form. Armed with a captivating, emotionally resonant and realistic story; essentially human characters and enchanting and heart-warming animation methods, the film hits the jackpot by portraying its ordinary protagonists' extraordinary lives with respect, faithfulness and care.

I give it a 10 out of 10!!

That's it, guys! I hope you liked it! See you next time,

João Pedro)


3 comentários: