Translate

domingo, 28 de fevereiro de 2021

"Minari": uma história universal sobre família, cultura e persistência (Bilíngue)

 E não se esqueçam de curtir e seguir o blog nas redes sociais:

(And don't forget to like and follow the blog in social medias:)

Facebook: https://www.facebook.com/NoCinemaComJoaoPedroBlog/

Twitter: @nocinemacomjp2

Instagram: @nocinemacomjp


E aí, meus caros cinéfilos! Tudo bem com vocês? Estou de volta, para trazer a resenha de um dos concorrentes principais da presente temporada de premiações! Liderado por ótimas atuações de seu elenco e guiado por um roteiro capaz de alcançar uma vasta gama de espectadores, o filme em questão conta uma história universal sobre família, cultura e persistência em meio às dificuldades que a vida traz. Então, sem mais delongas, vamos falar sobre “Minari”. Vamos lá!

(What's up, my dear film buffs! How are you guys doing? I'm back, in order to bring the review of one of the main contenders in this year's award season! Led by great performances from its cast and guided by a screenplay that's able to reach a wide variety of audiences, the film I'm about to analyze tells a universal story on family, culture, and persistence when going through the difficult parts that life brings with it. So, without further ado, let's talk about “Minari”. Let's go!)



EUA, anos 1980. O filme acompanha os Yi, uma família de imigrantes sul-coreanos que se muda da Califórnia para o estado de Arkansas, onde o patriarca, Jacob (Steven Yeun), compra uma fazenda para dar à família um novo começo. Sua esposa, Monica (Han Ye-ri), e os filhos, David (Alan S. Kim) e Anne (Noel Kate Cho), enfrentam dificuldades em se adaptarem a um estilo de vida completamente novo. As coisas ficam ainda mais complicadas com a chegada da avó dos meninos (Youn Yuh-jung), cujos valores tradicionais despertam curiosidade no neto. Enquanto isso, Jacob, dedicando seu corpo e alma à fazenda, coloca suas finanças, seu casamento, e a estabilidade da família em risco.

(USA, the 1980s. The film follows the Yi family, a family of South Korean immigrants who moves from California to the state of Arkansas, where the patriarch, Jacob (Steven Yeun), buys a farm in order to give the family a fresh start. His wife, Monica (Han Ye-ri), and his children, David (Alan S. Kim) and Anne (Noel Kate Cho), face difficulties when adapting to a completely new way of life. Things get even more complicated with the arrival of the kids' grandmother (Youn Yuh-jung), whose traditional values awake a sense of curiosity in her grandson. Meanwhile, Jacob, dedicating his heart and soul to the farm, puts his finances, his marriage, and the family's stability at risk.)



Minha curiosidade pelo novo filme de Lee Isaac Chung foi despertada pela notícia de que ele tinha ganho tanto o Prêmio do Júri quanto o Prêmio do Público de Narrativa Dramática Americana no Festival de Sundance, em janeiro do ano passado. Depois, fiquei sabendo que o filme era distribuído pela A24, distribuidora independente responsável por trazer aos EUA excelentes filmes como “A Bruxa”, “Hereditário”, “Oitava Série”, “O Quarto de Jack” e “Projeto Flórida”, e por produzir séries, como a controversa “Euphoria”, da HBO. Mas nem é preciso dizer que minha curiosidade para assistir “Minari” aumentou gradativamente devido às várias honras recebidas na presente temporada de premiações, totalizando em mais de 40 prêmios por diferentes categorias e na inclusão do longa nas prestigiadas listas dos 10 melhores filmes do ano do American Film Institute e do National Board of Review. Fico muito feliz em dizer que eu gostei bastante de “Minari”. O roteiro, escrito pelo próprio diretor, funciona em vários aspectos. Um dos principais pontos positivos do texto de Chung é que a proposta tem um alcance universal, no sentido que o enredo é acessível para várias pessoas, de países e idades diferentes. Felizmente, não há nada de inadequado no filme, o que permite que ele possa ser assistido pela família inteira. É um filme que parece muito íntimo para o diretor, como se o enredo fosse meio que uma biografia da família dele, que viveu em uma fazenda no estado do Arkansas. Outro aspecto que ajuda bastante o espectador à se conectar com a história é a presença de múltiplos pontos de vista, pertencentes à pessoas que, essencialmente, passam por muitas dificuldades. Enquanto o filme concentra a maioria do arco narrativo da família no pai, que enfrenta vários obstáculos para manter a fazenda, especialmente quando se diz respeito à água; somos presenteados com pontos de vista igualmente cativantes dos outros membros da família. A esposa claramente apresenta dificuldades em aceitar o novo estilo de vida oferecido pelo marido; os filhos também demoram bastante para se adaptarem ao modo de vida rural do Arkansas, ao contrário da vida mais fácil que a Califórnia lhes ofereceu; e a avó, completamente desconectada do “American way of life”, encontra empecilhos para se aproximar dos seus familiares, ao mesmo tempo que tenta manter os valores tradicionais de sua terra natal. A presença de vários pontos de vista permite que o espectador encontre maneiras de simpatizar com todos os personagens. O roteiro consegue fazer um ótimo trabalho ao unir a família através das dificuldades mencionadas, e a maneira que Chung encontra de dar aos seus personagens uma espécie de resolução para os seus respectivos arcos narrativos é fantástica e cativante. Uma coisa que, particularmente, me agradou bastante foi o retrato que o diretor fez do cristianismo. Em uma época em que vários filmes e séries retratam o cristianismo em tom de deboche, de sátira e de crítica, como cristão, é absolutamente revigorante ver a fé desses personagens sendo abordada de forma honesta, respeitosa e natural. Claro, há algumas partes aqui que servem de alívio cômico devido à uma interpretação mais extrema da religião, mas não chega a ser ofensivo, de maneira alguma. Porém, o roteiro não é completamente isento de falhas. O filme peca em não dedicar tempo o suficiente para o desenvolvimento da Anne, filha do protagonista. Eu senti que todos os outros personagens tiveram arcos extremamente satisfatórios, com uma apresentação, conflito e resolução visíveis, mas algo faltou para que a narrativa particular da Anne tivesse um impacto que a igualasse aos familiares. Eu realmente gostei do tom esperançoso e otimista que Chung dá à história e aos seus personagens, mas não consigo evitar de imaginar que o roteirista poderia ter investido em algo mais dramático, para dar um impacto emocional mais forte à história. Claro, há alguns momentos bem difíceis pelos quais os protagonistas passam, mas há pelo menos uma ou duas oportunidades em que o diretor poderia ter aproveitado das circunstâncias que o roteiro apresentou, para investir mais profundamente nos aspectos emocionais ou até sociopolíticos da história. Fora isso, “Minari” é um filme extremamente divertido, cativante e emocionante que certamente irá encantar toda a família.

(My curiosity towards Lee Isaac Chung's new film was awakened when it took home both the U.S. Dramatic Grand Jury Prize and the U.S. Dramatic Audience Award when it premiered at the Sundance Film Festival, in last year's January. Then, it came to my knowledge that it was distributed by A24, an international film distributor which was responsible for bringing to American audiences excellent films such as “The Witch”, “Hereditary”, “Eighth Grade”, “Room” and “The Florida Project”, while also producing TV shows, such as HBO's controversial “Euphoria”. But I don't even have to say that my curiosity towards watching “Minari” was gradually enhanced due to the many honors it received during this award season, with a total of over 40 awards for different categories and the film's inclusion in the 2020 edition of the prestigious top 10 films lists by the American Film Institute and the National Board of Review. I'm really glad to say that I really enjoyed “Minari”. The screenplay, written by the director himself, works in many aspects. One of the best things about Chung's text is that its proposal has a capacity to reach audiences at an universal level, in a way where the plot is accessible to several people, of different ages and from different countries. Luckily, there's nothing inappropriate about it, which allows it to be watched with the whole family. It's a film that feels very intimate for the director, as if the plot was sort of a biography of his family, who lived in a farm in the state of Arkansas. Another aspect that helps the viewer a lot in connecting with the story is the presence of multiple points of view, which belong to people that, essentially, are going through a lot of stuff. While the film focuses its family's character arc on the father, who faces several obstacles in order to keep the farm, especially when it comes to water; we are gifted with equally captivating points of view from the other family members. The wife clearly shows difficulties in accepting the new lifestyle offered by her husband; the kids also take a huge amount of time in adapting themselves to the rural way of life of Arkansas, unlike the easier life that California had offered them; and the grandmother, who's completely disconnected from the “American way of life”, finds some obstacles when trying to get closer to her family members, at the same time she tries to keep the traditional values of her homeland. The presence of several points of view helps the viewer in seeing the bigger picture and finding ways to sympathize with all of the characters. The script does a great job in uniting the family through the aforementioned difficulties, and the way Chung finds of giving his characters some sort of resolution to their respective narrative arcs is fantastic and captivating. One thing that, particularly, pleased me a lot was the way the director portrayed Christianity. In a time where several films and TV shows approach it with a mocking, satirical, or criticism tone, as a Christian myself, it is absolutely reinvigorating to see these characters' faith being approached and dealt with in a honest, respectful and natural way. Sure, there are some bits here that are built for comic relief due to a more extreme interpretation of religion, but it's not offensive, in any way. However, the script isn't completely fool-proof. It can be flawed by not dedicating enough time for the development of Anne, the protagonist's daughter. I felt that all the other characters had extremely satisfying character arcs, with visible introductions, conflicts and resolutions, but something was missing for Anne's particular narrative to have an impactful equality to that of her family members. I really enjoyed the hopeful, optimistic tone that Chung gives to the story and its characters, but I can't help but imagine the screenwriter could've invested in something a little more dramatic, in order to give the story a stronger emotional impact. Sure, these characters go through some pretty rough moments, but there are at least one or two opportunities that the director could've chosen to make advantage of the screenplay's circumstances, in order to enhance its emotional tone more deeply, or take its sociopolitical message more seriously. Apart from that, “Minari” is an extremely fun, captivating and emotional film that will certainly be enjoyable for the whole family.)



O elenco é bem pequeno, pelo fato de girar em torno do núcleo famíliar que protagoniza a história, mas todos aqui fazem um belo trabalho. Eu amei a persistência que o Steven Yeun mostrou ao longo desse filme, em relação à fazenda do personagem dele. É uma performance muito convincente e, principalmente, humana, que mostra que o ator amadureceu bastante desde sua jornada como o Glenn de “The Walking Dead”. Devido ao roteiro, ele faz o máximo para equilibrar a relação dele com a família e o trabalho na fazenda, e essa dificuldade no equilíbrio das prioridades do personagem é mostrada perfeitamente na atuação de Yeun. Eu gostei bastante da atuação da Han Ye-ri. Ao contrário de Yeun, que se mostra completamente otimista e esperançoso em relação à nova vida da família, a personagem de Ye-ri é essencialmente receosa com a possibilidade da fazenda gerar lucro ou não. Como uma mãe, a personagem dela é extremamente preocupada com o bem-estar de seus filhos, especialmente do filho mais novo, que possui problemas de saúde, e a atriz consegue expressar suas emoções de forma natural. Há uma parte perto do final, onde ela e o marido têm uma discussão, que realmente mostra a maravilhosa capacidade emocional da atriz. Eu fiquei impressionado com a naturalidade dos dois atores mirins, que interpretam os filhos dos personagens de Yeun e Ye-ri. A começar pelo Alan S. Kim, que literalmente rouba cada cena em que ele está presente. Ele serve, primeiramente, para atrair o público, mas depois nós, como espectadores, começamos a ver o filme pelos olhos dele, e simplesmente não conseguimos ver de outro jeito. Houveram algumas horas em que eu pensei que ele era o verdadeiro protagonista, de tão firme que a presença dele é. Ele é engraçado e divertido, ao mesmo tempo que protagoniza momentos bem cativantes do longa. Se ele for indicado ao Oscar de Melhor Ator Coadjuvante, eu não vou ficar impressionado. Mesmo que o roteiro não tenha completamente favorecido a personagem da Noel Kate Cho, eu gostei bastante da performance dela. Ela, assim como Kim, mostra uma naturalidade para com sua personagem e uma espécie de autoridade em relação ao personagem de Kim, como irmã mais velha. Eu simplesmente amei a performance da Youn Yuh-jung. É dela que vem a grande maioria do alívio cômico e da carga emocional do longa. Ela é muito engraçada, convincente, tradicional e é extremamente cativante ver a dinâmica da personagem dela com o de Kim crescer ao longo da projeção. Se ela não for ao menos indicada ao Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante, não há justiça nesse mundo. Por último, mas não menos importante, temos o Will Patton, que consegue cativar o espectador com seu timing cômico e com a surpreendente humildade de seu personagem.

(The cast is really small, due to the fact that its biggest focus is in a family circle that stars in the story, but everyone does a beautiful job here. I loved the endurance that Steven Yeun showed throughout this film, regarding his character's farm. It's a very convincing and, mainly, human performance, that showed the actor has matured a lot since his journey as Glenn from “The Walking Dead”. Due to the screenplay, he does his best to balance his relationship with his family and his work at the farm, and this difficulty in balancing his character's priorities is perfectly shown in Yeun's performance. I really enjoyed Han Ye-ri's performance. Unlike Yeun, who shows himself really hopeful and optimistic regarding the family's new life, Ye-ri's character is essentially fearful to the possibility that the farm may or may not generate income. As a mother, her character is extremely worried with her children's well-being, especially when it comes to her younger son, who has health issues, and the actress manages to express her emotions in a really natural way. There's a part near the ending, where she and her husband have a discussion, that really showcases her wonderful emotional range. I was impressed with the naturality of the two child actors, who portray the children of Yeun and Ye-ri's characters. Starting off with Alan S. Kim, who literally steals every scene he's in. He serves, at first, to attract the audience, but then we, as viewers, start seeing the film through his eyes, and we simply aren't able to see it any other way. There were a few times when I thought he was the true protagonist of the film, due to how firmly he states his presence. He's funny and adorable, and he's also part of some of the film's most touching moments. If he gets nominated for Best Supporting Actor at the Oscars, I won't be surprised. Even though the screenplay didn't fully work to her character's favor, I really enjoyed Noel Kate Cho's performance. She, just like Kim, shows a natural approach to her character as well as a sense of authority towards Kim's character, as an older sister. I simply loved Youn Yuh-jung's performance. She's the source of the great majority of the film's comic relief and emotional strength. She's really funny, convincing, traditional and it's extremely captivating to see her dynamics with Kim's character grow throughout the film. If she doesn't at least get a nomination for the Oscar for Best Supporting Actress, there isn't any justice in this world. At last, but definitely not least, we have Will Patton, who manages to capture the viewer's heart due to his comic timing and his character's surprising humility.)



Eu gostei de como os aspectos técnicos foram se juntando a partir da ambientação, ao invés dos personagens. A direção de fotografia do Lachlan Milne é muito bem feita. A câmera foca bastante no aspecto rural do lar da família. Há várias capturas de paisagens naturais, tantas que me lembrou bastante da direção de fotografia de “Nomadland”. Mesmo que o filme de Chloé Zhao tenha conseguido capturar tais paisagens com mais crueza, o trabalho de Milne em “Minari” é bem-sucedido ao retratar o tom íntimo e pessoal que a história deve ter no coração do diretor. A direção de arte faz um trabalho maravilhoso em atrair os olhos do espectador para a ambientação. A equipe do design de sets conseguiu construir um lar que parece tão agradável e tão aconchegante, que literalmente me deu vontade de comprar uma fazenda no Arkansas. (Risos) A montagem do Harry Yoon é muito boa. Eu, particularmente, achei que cada cena teve uma duração adequada. Nenhuma delas pareceu esticada demais ou muito curta. Por fim, temos a trilha sonora do pianista estadunidense Emile Mosseri, composta por peças de orquestra solenes e pacíficas, que acabam combinando perfeitamente com a atmosfera isolada e rústica (no bom sentido) da ambientação. Certamente, vale uma indicação ao Oscar de Melhor Trilha Sonora Original.

(I really enjoyed how the technical aspects came together from the setting, rather than from the characters. Lachlan Milne's cinematography is really well-done. The camera focuses a lot in the rural atmosphere in the family's home. There are several captures of natural landscapes, so many of them that it reminded me a lot of the cinematography from “Nomadland”. Even though Chloé Zhao's film had managed to capture these landscapes with more rawness, Milne's work in “Minari” succeeds in portraying the intimate and personal tone the story may have in the director's heart. The art direction does a wonderful job in attracting the viewer's eyes to the setting. The set design team managed to build a home that seems so pleasant and cozy to live in, that it literally made me want to buy a farm in the state of Arkansas. (LOL) Harry Yoon's editing is really good. I, particularly, thought that every scene had an adequate screen time. None of them seemed too stretched out or cut way too short. Finally, we have the original score by American pianist Emile Mosseri, composed by solemn and peaceful orchestral pieces, which end up being a perfect match to the setting's isolated and rustic (in a good way) tone. It certainly is worthy of an Oscar nomination for Best Original Score.)



Resumindo, “Minari” é um filme que é capaz de alcançar uma gama enorme de espectadores, dos mais jovens aos mais experientes. Munido de um roteiro engraçado, cativante e emocionante e fortalecido pelo enorme talento de seu elenco, Lee Isaac Chung cria uma história universal sobre família, cultura, adaptação e persistência que certamente irá encantar todas as gerações de espectadores e consolidar sua presença nessa temporada de premiações!

Nota: 9,5 de 10!!

É isso, pessoal! Espero que tenham gostado! Até a próxima,

João Pedro

(In a nutshell, “Minari” is a film that's able to reach a wide range of viewers, from age eight to eighty. Armed with a funny, captivating, emotionally charged screenplay, and strengthened by its cast's enormous talent, Lee Isaac Chung creates an universal story on family, culture, adaptation and endurance that will certainly be enjoyed by every generation of moviegoers and firmly consolidate its presence in this award season!

I give it a 9,5 out of 10!!

That's it, guys! I hope you liked it! See you next time,

João Pedro)


2 comentários: