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quinta-feira, 11 de fevereiro de 2021

"Relatos do Mundo": um faroeste vistoso, cativante e emocionante (Bilíngue)

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E aí, meus caros cinéfilos! Tudo bem com vocês? Estou de volta, para falar sobre o lançamento mais recente no catálogo original da Netflix. Um faroeste que concentra mais no desenvolvimento de seus protagonistas ao invés do esperado “bangue-bangue”, o filme em questão é só mais uma prova da imbatível versatilidade de Tom Hanks e a descoberta de um novo talento promissor na atriz mirim Helena Zengel. Então, sem mais delongas, vamos falar sobre “Relatos do Mundo”. Vamos lá!

(What's up, my dear film buffs! How are you guys doing? I'm back, in order to talk about one of the most recent releases on VOD. An old-fashioned Western that focuses more on the development of its main characters rather than the expected bloody action, the film I'm about to analyze is just another proof of Tom Hanks's invincible versatility and the discovery of a new promising talent in child actress Helena Zengel. So, without further ado, let's talk about “News of the World”. Let's go!)



Ambientado após a Guerra Civil Americana, o filme segue o veterano Capitão Jefferson Kyle Kidd (Tom Hanks), que ganha a vida viajando pelo país e lendo as notícias de jornais para aqueles dispostos a ouvir. Certo dia, na estrada, Kidd encontra uma garota órfã (Helena Zengel), criada por uma tribo de índios que a sequestrou depois de assassinar seus pais e irmã. Incapaz de ver outra opção, Kidd embarca em uma viagem perigosa pelo Texas para levar a garota para os sobreviventes de sua família.

(Set after the American Civil War, the film follows veteran Captain Jefferson Kyle Kidd (Tom Hanks), who makes a living by traveling across the country and reading the news from newspapers to those willing to hear them. One day, on the road, Kidd finds an orphan girl (Helena Zengel), who was raised by a tribe of Native Americans that kidnapped her after murdering her parents and sister. Unable of seeing any other option, Kidd embarks on a dangerous journey across Texas in order to take the girl to her surviving family.)



Na minha opinião, todo ano no Oscar, há pelo menos um indicado a Melhor Filme que pode ser caracterizado como “crowd-pleaser” (ou seja, que agrada multidões). São geralmente filmes que não possuem nada de realmente importante a dizer, costumam seguir uma fórmula, e eles agradam o espectador por causa do alto fator de entretenimento, sendo um filme cheio de energia. Nos anos passados, tivemos “Ford vs. Ferrari”, “Nasce uma Estrela”, “Bohemian Rhapsody” e “La La Land”, que cumpriram seus objetivos com louvor, a ponto de receberem uma indicação ao prêmio principal da temporada em que eles concorriam. Cada pedacinho de mim pensava que “Relatos do Mundo” seguiria essa mesma vibe, focando mais na ação que caracteriza o gênero faroeste e no entretenimento para manter o espectador engajado na história. Mas fico bem feliz que o co-roteirista e diretor Paul Greengrass, responsável por grande parte da franquia Jason Bourne e por “Capitão Phillips”, tinha outros planos. O roteiro, escrito por Greengrass e Luke Davies, tomando como base o romance homônimo de Paulette Jiles, é uma ótima versão de faroeste do que eu gosto de chamar de fórmula “Joel e Ellie”, personagens principais do videogame “The Last of Us”, ou seja, o fio condutor da trama focaria mais na dinâmica e na evolução do relacionamento entre os dois protagonistas do que na ação em si, como acontece no videogame. Mas há um ou outro detalhe aqui e ali que faz de “Relatos do Mundo” um pouco diferente dos “crowd-pleasers” citados acima. A começar pela ambientação, a qual é em 1870, 5 anos após a Guerra Civil Americana, período onde os EUA se dividiram em dois, por causa de discórdias em relação à escravidão nos estados sulistas. E ainda melhor, é ambientado no Texas, que era um estado escravista na época, e que, de acordo com o filme, ainda sofria com os preconceitos em respeito aos negros, imigrantes e nativos, mesmo após a abolição da escravidão. E isso, querendo ou não, adicionou um fator sociopolítico que eu não esperava no filme, mas fiquei bem satisfeito dos roteiristas terem abordado esses temas. Depois, e isso realmente colabora para um bom funcionamento da fórmula Joel e Ellie, temos o desenvolvimento dos dois protagonistas, que são excepcionalmente “quebrados”. Ele lutou na Guerra Civil Americana (do lado sulista) e, por consequência, se afastou da esposa, e constantemente se culpa por isso; enquanto ela teve sua infância roubada e também foi afastada da verdadeira família, adotando um estilo de vida completamente diferente do que o esperado. O roteiro explora muito bem a evolução na relação entre os dois, analisando as semelhanças e as diferenças entre eles, e através dessa exploração, eles acabam se aproximando. Essa abordagem do gênero dá ao filme um aspecto familiar (uma dinâmica muito parecida seria a do filme “Logan”, entre o protagonista e a X-23), mas ao mesmo tempo, inegavelmente aconchegante, nos investindo emocionalmente nesses personagens, nos fazendo desejar que nada de ruim aconteça com eles. Eles aprendem um com o outro, compartilham seus costumes, e veem no outro a peça que faltava para que suas vidas ficassem completas. Isso, por mais clichê que pareça ser, é uma coisa linda de se ver. Como dito anteriormente, é um filme que foca mais na história do que na ação, mas quando o roteiro investe no “bangue-bangue”, o resultado são cenas incrivelmente tensas que acabam fortalecendo o relacionamento entre os dois protagonistas. É um filme que faz ótimo uso de sua enxuta duração de 2 horas, e o final, apesar de eu particularmente achar que poderia ser um pouquinho melhor e mais intenso, acaba combinando perfeitamente com a vibe e a mensagem que o roteiro quer passar. Resumindo, o roteiro de “Relatos do Mundo” conta uma ótima história sobre perda, descoberta de identidade e família que certamente emocionará o espectador.

(In my opinion, every year at the Oscars, there's at least one Best Picture nominee that can be classified as a “crowdpleaser”. They are generally films that don't have anything really important to say, they usually follow a formula, and they please the viewer due to their high entertainment factor, being a film full of energy. In the past years, we've had “Ford vs Ferrari”, “A Star is Born”, “Bohemian Rhapsody” and “La La Land”, who successfully achieved their goals, to the point of being nominated for the main award in their respective seasons. Every little bit of me thought that “News of the World” would follow this same vibe, focusing more on the characteristic action of the Western genre and in entertainment to keep the viewers engaged in the story. But I'm really glad that co-writer and director Paul Greengrass, who was responsible for a larger part of the Jason Bourne franchise and “Captain Phillips”, had other plans. The screenplay, written by Greengrass and Luke Davies, based on the novel of the same name by Paulette Jiles, is a great Western twist on what I like to call the “Joel and Ellie” formula, inspired by the main characters in the videogame “The Last of Us”, meaning that the main conductive force of the plot would be the dynamics and evolution of the relationship between the two protagonists rather than the action itself, as it happens in the videogame. But there's some little details here and there that make “News of the World” different from the crowdpleasers mentioned above. Starting off with the setting, which is 1870, 5 years after the American Civil War, a period when the US divided themselves into two, because of disagreements regarding slavery in the Southern states. And even better, it's set in Texas, which was a slave state at the time, and that, according to the film, still suffered with the prejudices towards Black people, immigrants and Native Americans, even after the abolition of slavery. And that unexpectedly added a sociopolitical factor to the film, which I'm really glad the screenwriters were able to deal with these themes. Then, and this collaborates a lot for a good twist on the Joel and Ellie formula, we have the development of the two main characters, who are exceptionally broken. He fought in the American Civil War (in the Southern side) and, as a consequence, he distanced himself from his wife, and constantly blames himself for it; while she got robbed of her childhood and also distanced herself from her real family, adapting a lifestyle that's totally different than the one expected. The screenplay explores the evolution in their relationship really well, analyzing both their similarities and differences, and through these explorations, the two are brought a little bit closer to each other. This approach to the genre gives the film a vibe that's at the same time familiar (a similar dynamic was explored in the film “Logan”, between Logan and X-23) yet undeniably heartwarming, investing us emotionally with these characters, leaving us wishing nothing bad happens to them. They learn from each other, share their habits, and see in the other the missing piece for their life to become complete. This, as clichéd as it may sound, is a beautiful thing to behold. As previously stated, this is a film that focuses more on the story than it does on action, but when the script decides to make an action scene, it goes all in, resulting in incredibly tense scenes that end up making the bond between the two protagonists stronger. It's a film that makes great use of its concise 2-hour running time, and the ending, although I think it could've been a little bit better and more intense, perfectly fits the vibe and the message the screenplay wants to transmit. To sum it up, the screenplay for “News of the World” tells a great story on loss, discovery of identity and family that'll certainly hit at all of the viewer's emotional strings.)



Todos no elenco fazem um bom trabalho, por mais breve que as aparições de personagens secundários sejam, mas, como dito no parágrafo anterior, o foco aqui é dado para a dinâmica entre o Tom Hanks e a Helena Zengel, que é quase idêntica à dinâmica entre o Hugh Jackman e a Dafne Keen em “Logan”, mas tão eficiente quanto. Diferente dos protagonistas de “Logan” e “The Last of Us”, o personagem do Tom Hanks é altamente simpático, e ele é bem engenhoso. A atuação dele me lembrou bastante do Rooster Cogburn, protagonista de “Bravura Indômita”. Com o personagem dele sendo um veterano de guerra, o filme é só mais uma prova da versatilidade do ator vencedor de 2 Oscars. Com 64 anos, Hanks se mostra ainda capaz de cavalgar em alta velocidade, ser bom de mira, e ser a simpatia em pessoa que ele é. Não acho que seja material pra Oscar, mas é uma ótima performance, como era de se esperar. A verdadeira surpresa está na atuação da Helena Zengel, que já foi consagrada com indicações ao Globo de Ouro e ao Prêmio do Sindicato dos Atores de Melhor Atriz Coadjuvante por seu trabalho aqui. Assim como a estrutura em si do roteiro me lembrou muito de “Logan”, a performance de Zengel é bem similar à de Dafne Keen como X-23. O foco na personagem dela está muito mais no rosto expressivo e nos grunhidos primitivos que a atriz é capaz de transmitir do que na fala em si. Também me lembrou muito do desempenho da Millie Bobby Brown na primeira temporada de “Stranger Things”, nesse aspecto de ser uma atuação mais expressiva do que comunicativa. Ela já consegue dar um show em sua primeira performance fora de seu país natal (Alemanha), e mal posso esperar pelo próximo trabalho dela. A única ressalva que tenho em relação ao elenco é o Fred Hechinger. Ele interpreta um personagem interessante que poderia ter adicionado uma pitada cativante de alívio cômico na dinâmica eletrizante entre Hanks e Zengel, mas infelizmente, não foi bem aproveitado na trama.

(Everyone in the cast does a good job, as brief as the appearances by supporting characters may be, but, as previously stated in the previous paragraph, the focus here is given to the dynamics between Tom Hanks and Helena Zengel, which is almost identical to the one between Hugh Jackman and Dafne Keen in “Logan”, yet just as efficient. Unlike the main characters from “Logan” and “The Last of Us”, Tom Hanks's character is highly sympathetic, while also being very resourceful. His performance reminded me a lot of Rooster Cogburn, main character of “True Grit”. With his character being a war veteran, the film is yet another proof of the 2-time Oscar-winning actor's versatility. With the age of 64, Hanks shows himself still able of riding a horse in top speed, being a terrific shot, and the personification of symapthy he actually is. I don't believe it is Oscar material, but it's a great performance, as it was to be expected. The true surprise lies in Helena Zengel's performance, who has been already graced with nominations to the Golden Globe and Screen Actors Guild Award for Best Supporting Actress for her work here. Just like the screenplay's structure itself reminded me a lot of “Logan”, Zengel's performance is really similar to Dafne Keen's as X-23. The focus on her character is way more lined up with her expressive face and primal grunts she is able to transmit than in speech itself. She also reminded me a lot of Millie Bobby Brown's performance in the first season of “Stranger Things”, in that aspect of being a more expressive performance than a comunicative one. She's already a showstopper in her first performance outside her home country (Germany), and I can't wait for what she does next. The only setback I have regarding the cast concerns Fred Hechinger. He plays an interesting character who could've added a captivating comic relief touch to Hanks and Zengel's electrifying dynamics, but unfortunately, his role was underappreciated by the screenplay.)



Como todo faroeste, “Relatos do Mundo” é um filme bem vistoso. Como uma mudança de ar, o longa tem mais ambientações naturais, com foco nos terrenos rochosos e na sequidão do deserto, ao invés de investir em cenários já familiares do gênero, tais como saloons e delegacias. O diretor de fotografia Dariusz Wolski, conhecido por seus trabalhos na franquia “Piratas do Caribe”, faz um ótimo trabalho aqui. Ele consegue captar aquela aura rebuscada e antiquada (no bom sentido) dos filmes clássicos de faroeste, ou até de alguns mais modernos, como “Django Livre”, por exemplo. A direção de arte aposta completamente nos cenários clássicos do gênero e acerta em cheio. É um filme vistoso, com ambientações típicas. A montagem do William Goldenberg é muito bem feita. Não há um segundo aqui onde uma cena parece estar sendo esticada ou encurtada, é muito eficiente. E como a cereja no topo desse bolo maravilhoso, temos a trilha sonora original do James Newton Howard, que é serena, cativante, aumenta o teor emocional de certas cenas, e resgata a eficiência de algumas das melhores trilhas do gênero, em especial as do Ennio Morricone para os faroestes spaghetti de Sergio Leone.

(As it happens with every Western, “News of the World” is a visually astonishing film. As a change of pace, the film has a lot more natural settings, focusing on the rocky terrains and the dryness of the desert than betting on settings familiar to the genre, such as saloons and sheriff stations. Cinematographer Dariusz Wolski, known for his work in the “Pirates of the Caribbean” franchise, does a great job here. He's able to capture that good, old-fashioned (in a good way) aura that's in every classic Western film, or even in some of the modern ones, such as “Django Unchained”, for example. The art direction bets all of its cards on the classic scenarios in the genre and hits the jackpot. It's a really beautiful film, visually, with typical settings. William Goldenberg's editing is really well done. There isn't a single second in here in which a scene seems to be stretched out or cut too short, it's really efficient. And as the cherry on top of this marvelous cake, we have James Newton Howard's original score, which is serene, captivating, enhances the emotional tone of some scenes, and rescues the efficiency of some of the best scores in the genre, especially those of Ennio Morricone for Sergio Leone's spaghetti Westerns.)



Resumindo, a estrutura de roteiro de “Relatos do Mundo” pode parecer um pouco familiar, mas a dinâmica eletrizante entre Tom Hanks e Helena Zengel injeta uma quantidade enorme de carisma e energia para essa história cativante sobre perda, descoberta de identidade e família, enquanto os aspectos técnicos nos fazem lembrar de tudo que gostamos sobre o gênero faroeste.

Nota: 9,5 de 10!!

É isso, pessoal! Espero que tenham gostado! Até a próxima,

João Pedro

(In a nutshell, the screenplay structure of “News of the World” might feel a little familiar, but the electrifying dynamic between Tom Hanks and Helena Zengel adds a huge amount of charisma and energy to this captivating story on loss, discovery of identity and family, while the technical aspects remind us of everything we love about the Western genre.

I give it a 9,5 out of 10!!

That's it, guys! I hope you liked it! See you next time,

João Pedro)


2 comentários:

  1. Um dos melhores atores da atualidade em um dos meus gêneros favoritos!!

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  2. Ansiosa prá ver a performance do Tom Hanks,neste filme!!!

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