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terça-feira, 9 de fevereiro de 2021

"O Som do Silêncio": uma experiência cinematográfica extremamente imersiva (Bilíngue)

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Para a minha avó Cétura, minha intérprete de linguagem de sinais favorita. - JP

(To my grandmother Cétura, my favorite sign language interpreter. - JP)


E aí, meus caros cinéfilos! Tudo bem com vocês? Estou de volta, para trazer a resenha (levemente atrasada) do filme que promete ser um dos principais concorrentes à várias categorias na presente temporada de premiações. Uma história tocante de superação e auto-aceitação elevada pela performance altamente dedicada de seu protagonista, o filme em questão é provavelmente o melhor longa-metragem disponível no catálogo original da Amazon Prime Video. Então, sem mais delongas, vamos falar sobre “O Som do Silêncio”. Vamos lá!

(What's up, my dear film buffs! How are you guys doing? I'm back, in order to bring the (slightly delayed) review to the film that promises to be one of the main contenders to several categories in this year's award season. A touching story about overcoming obstacles and self-acceptance that's elevated by its protagonist's highly committed performance, the film I'm about to analyze might as well be the best one available on Amazon Prime Video's original catalog. So, without further ado, let's talk about “Sound of Metal”. Let's go!)



O filme segue o baterista e ex-viciado em heroína Ruben (Riz Ahmed), que começa a perder a audição durante um show, onde ele toca com sua namorada, Lou (Olivia Cooke). Quando um médico lhe diz que seu estado vai piorar, ele pensa que sua vida e carreira acabaram. Para evitar uma recaída, Lou leva Ruben para um lar de reabilitação para surdos, liderado por Joe (Paul Raci), que o ajuda a se adaptar à sua nova vida.

(The film follows drummer and former heroin addict Ruben (Riz Ahmed), who starts to lose his sense of hearing during a concert, where he plays with his girlfriend, Lou (Olivia Cooke). When a doctor tells him that his condition will get worse, he thinks his life and career have come to an end. In order to avoid a setback in his addiction, Lou takes Ruben to a rehab home for the deaf, led by Joe (Paul Raci), who helps him adapt to his new life.)



Antes de começar a falar do filme em si, deixem-me esclarecer o porquê de eu ter demorado tanto em trazer a resenha dele para o blog. Dezembro foi um mês extremamente cheio de filmes que eu considerava prioridades. “Mank” (que estreou no mesmo dia), “A Voz Suprema do Blues”, “Soul”, “Wolfwalkers” (que acabou sendo o melhor filme de 2020, pra mim), e “O Som do Silêncio”, em frente a essa competição, infelizmente ficou em segundo plano. Meus avós tinham assistido ao filme antes de mim, e me falaram que tinham gostado muito. Até algum tempo atrás, “O Som do Silêncio” não tinha chamado a minha atenção completamente. Mas aí, apareceram as primeiras listas de indicados e vencedores de premiações dessa temporada. Quando descobri que o longa tinha sido nomeado como um dos 10 melhores filmes de 2020 pelo American Film Institute e pelo National Board of Review (ambos costumam prever os indicados ao Oscar de Melhor Filme) e indicado à vários prêmios pelas atuações de Riz Ahmed e Paul Raci, eu falei pra mim mesmo: “Pronto, eu preciso ver esse filme.”. E estaria mentindo se dissesse que “O Som do Silêncio” não é uma das experiências cinematográficas mais imersivas que tive nesse início de ano. O filme é co-escrito e dirigido pelo estreante Darius Marder, que consegue nos inserir na cabeça de seu protagonista com muita eficiência através de seu engenhoso roteiro, co-autorado com seu irmão Abraham. Eu simplesmente amei a escolha feita pelos roteiristas de fazer com que os primeiros minutos de projeção sejam propositalmente os mais barulhentos do longa, o que serve como o contraste perfeito para o silêncio que dominará o restante da trama. Iniciando o filme com uma sequência musical cheia de energia, os irmãos Marder fazem um corte bem feito para uma cena mais pacífica, onde novamente, os vários barulhos são destacados. O bater de um liquidificador, o eco feito no ambiente quando Ruben faz exercícios físicos. O trabalho de som em “O Som do Silêncio” é algo extraordinário, e vou discuti-lo mais à frente. Mas o objetivo principal do roteiro dos Marder é estabelecer um arco de personagem completo para o Ruben, e isso eles conseguem fazer com maestria. O desenvolvimento do protagonista começou a me lembrar bastante do desenvolvimento do Matthew McConaughey em “Clube de Compras Dallas”. Assim como o Ron Woodruff, o Ruben começa o filme rejeitando a condição atual em que ele se encontra, ignorando as sugestões de profissionais sobre o assunto. Aí quando a situação piora para o lado dele, ele muda de atitude. Mas essa mudança não é abrupta, de modo algum. É uma adaptação lenta, gradual, que por consequência, ajuda o espectador a criar laços mais fortes com ele. Outro aspecto genial do roteiro é a falta de tradução para a linguagem de sinais usada por vários dos personagens coadjuvantes do filme à primeira vista. Isso colabora para um sentimento de igualdade entre o espectador e o protagonista, como se estivéssemos na mesma página. Ele começa não entendendo, então nós também começamos o filme não entendendo. Assim como o Wes Anderson consegue nos inserir na mente dos cachorros (que falam inglês em uma cidade dominada pela língua japonesa) em “Ilha dos Cachorros”, os irmãos Marder conseguem nos inserir na mente de alguém que está em constante adaptação à sua nova vida, com o processo incluindo o aprendizado de uma língua nova. Os roteiristas conseguem tratar um assunto extremamente delicado de forma bastante humana, apaixonante e surpreendentemente didática, escalando atores surdos como a Lauren Ridloff, que vai interpretar a primeira super-heroína surda do Universo Cinematográfico da Marvel no vindouro “Eternos”. Ver o Ruben aprendendo linguagem de sinais foi algo tão tocante que me deu até vontade de aprender por conta própria. Grande parte da carga emocional do roteiro dos Marder vem do fato da história em si ser uma história de adaptação, de superação, e principalmente, de auto-aceitação. Nós vemos o Ruben tendo inúmeras dificuldades em se adaptar à primeira vista, mas ao longo do tempo de duração conciso de 2 horas do filme, nós o acompanhamos no desenvolvimento e conclusão de seu arco de personagem, e ao final da projeção, não há outro jeito de terminar de assisti-lo senão com um sorriso no rosto e uma ou duas lágrimas derramadas. Bravo!

(Before I start talking about the film itself, let me clarify why it took me so long to finally bring this review to the blog. December was a month that was filled with films I considered to be priorities. “Mank” (which premiered at the exact same day), “Ma Rainey's Black Bottom”, “Soul”, “Wolfwalkers” (which ended up being the best film of 2020, for me), and “Sound of Metal”, facing this competition, unfortunately got left behind. My grandparents had watched it before me, and I remember them telling me that they had liked it a lot. Until some time ago, “Sound of Metal” hadn't fully caught my attention. But then, the first lists of nominees and winners of this year's award season came. When I found out that it was named one of the 10 best films of 2020 by the American Film Institute and the National Board of Review (both tend to predict the season's Oscar nominees for Best Picture) and that it got nominated for several awards because of Riz Ahmed and Paul Raci's performances, I thought to myself: “Okay. I have to see this movie.”. And I would be lying if I didn't say that “Sound of Metal” was one of the most immersive film experiences I've had this year so far. The film is co-written and directed by Darius Marder, who manages to effectively put us inside its protagonist's head through his clever screenplay, co-authored with his brother Abraham. I simply loved the choice the screenwriters made by making its first minutes the loudest ones in the film, which serves as the perfect contrast to the quietness that will dominate the rest of the plot. Starting it off with a high-energy musical number, the Marder brothers make a swift cut to a more peaceful scene, where once again, the several noises are highlighted. The whirring of a blender, the echo in a space where Ruben does physical exercises. The sound work in “Sound of Metal” is something extraordinary, which will be discussed more ahead. But the main objective of the Marders' screenplay is to provide Ruben with a complete character arc, and they manage to do that masterfully. The protagonist's development reminded me a lot of Matthew McConaughey's in “Dallas Buyers Club”. Just like Ron Woodruff, Ruben starts off rejecting his current condition, ignoring the advice from professionals on the subject. Then, when the situation becomes worse, he changes his attitude. Yet this change isn't abrupt, at all. It's a slow, gradual adaptation, which consequently helps the viewer create stronger bonds with him. Another genius aspect from the screenplay is the fact that they don't provide us with the translation for the sign language used by many of its characters at first. This collaborates for a feeling of equality between character and viewer, like if we were on the same boat. He starts off not understanding anything, and so do we, as viewers. Just like Wes Anderson managed to put us inside the mind of dogs (who speak English in a city dominated by the Japanese language) in “Isle of Dogs”, the Marder brothers manage to put us inside the mind of someone who is in constant adaptation to his new life, with the process including the learning of a new language. The screenwriters manage to treat an extremely delicate theme in a way that's human, passionate and surprisingly didactic, casting deaf performers such as Lauren Ridloff, who will portray the first deaf superhero in the Marvel Cinematic Universe in the upcoming “Eternals”. Seeing Ruben learning sign language was something so touching that it even made me want to learn it myself. A great part of the emotional weight in the Marders' screenplay comes from the fact that the story itself is about adaptation, about overcoming obstacles, and mainly, about self-acceptance. We see Ruben having numerous difficulties in adapting at first, but throughout its concise running time of 2 hours, we follow him in the development and conclusion of his character arc, and when the credits start rolling, you can't help but finished watching it with a big smile on your face and maybe one or two tears shed. Bravo!)



O elenco principal de “O Som do Silêncio” é composto apenas por 5 atores, mas cada um dá um show à parte. Temos aqui a melhor performance da carreira do Riz Ahmed, que até então, tinha assumido papéis coadjuvantes em “O Abutre”, “Rogue One” e “Venom”. Dá pra ver que ele se dedicou bastante para interpretar o Ruben. O diretor Darius Marder constatou que o filme é contado na perspectiva de uma pessoa ouvinte que adentra a cultura surda. Nisso, Ahmed acerta em cheio. Há várias sequências onde ele é visto aprendendo com pessoas (até mais jovens do que ele) a se adaptar ao seu novo estilo de vida, e é simplesmente impossível o espectador não sentir simpatia por ele. Ele consegue manipular suas emoções muito bem. Há momentos em que ele literalmente surta, na mesma medida em que há momentos mais pacíficos e contemplativos para o personagem dele. É uma tremenda performance, e pra mim, é o principal concorrente nas categorias de Melhor Ator, juntamente com o Chadwick Boseman por “A Voz Suprema do Blues”. O personagem de Ahmed tem duas âncoras emocionais, representadas pelos personagens da Olivia Cooke e do Paul Raci. As expressões faciais de Cooke ao demonstrar preocupação pela condição atual do protagonista são legítimas e realistas. O desenvolvimento da personagem dela deixa um pouquinho a desejar, mas, por consequência, temos um peso emocional e narrativo maior através da dinâmica entre Ahmed e Paul Raci, que vai além da amizade, como se fosse um relacionamento entre pai e filho. Filho ouvinte de pais surdos, Raci dá um verdadeiro show aqui. Há uma troca de diálogos entre seu personagem e o protagonista que acaba fazendo muito sentido na cena final do longa. Eu facilmente o indicaria a todos os prêmios de Melhor Ator Coadjuvante dessa temporada. Em papéis mais secundários, temos a Lauren Ridloff que, assim como Raci, ajuda o protagonista a se adaptar à sua nova vida; e o Mathieu Amalric, que providencia um breve pano de fundo para a personagem de Cooke.

(The main cast of “Sound of Metal” is composed only by 5 actors, but each one gives one hell of a show here. We have the best performance in Riz Ahmed's career, who until then, had taken on supporting roles in “Nightcrawler”, “Rogue One” and “Venom”. You can see that he's put a lot of work in portraying Ruben. Director Darius Marder stated that the film is told in the perspective of a hearing person who enters deaf culture. And in that, Ahmed nails it. There are several sequences in which he is seen learning with people (who are even younger than him) to adapt to his new lifestyle, and it's impossible for the viewer to not have sympathy for him. He manages to manipulate his emotions really well. There are moments in which he literally freaks out, in the same way there are more peaceful, contemplative moments for his character. It's a tremendous performance, and for me, he's the main contender for the Best Actor awards, along with Chadwick Boseman for “Ma Rainey's Black Bottom”. Ahmed's character has two main emotional anchors, represented by the characters portrayed by Olivia Cooke and Paul Raci. Cooke's facial expressions when showing concern for the protagonist's current condition are legitimate and realistic. Her character development leaves a little to be desired, but consequently, we have a much larger and emotional weight through the dynamics between Ahmed and Raci, which goes beyond friendship, like if it was a father-son relationship. Hearing son to deaf parents, Raci gives a showstopping performance here. There's an exchange of dialogue between his character and the main character which is touching, and ends up making tons of sense in the final scene. I'd easily nominate him to every single Best Supporting Actor award in the season. In more secondary roles, we have Lauren Ridloff, who, like Raci, helps the protagonist adapt to his new life; and Mathieu Amalric, who gives us a brief background on Cooke's character.)



Além do incrível desempenho do roteiro e do elenco, “O Som do Silêncio” também faz um uso excepcional de seus aspectos técnicos. A direção de fotografia do Daniël Bouquet faz um uso perfeito de muitos cenários naturais, pelo fato da maioria da trama ser ambientada em um local no campo. A direção de arte, em conjunto com Bouquet, consegue fazer um contraste nítido entre o ambiente de reabilitação, que é limpo e pacífico; e os espaços urbanos, que são extremamente barulhentos. A trilha sonora do Abraham Marder e do Nicolas Becker é pouco presente, mas quando entra em cena, ela tem potência. É um filme bem silencioso, em termos de música. Mas a verdadeira magia na proeza técnica de “O Som do Silêncio” reside no design de som. Como dito anteriormente, os primeiros 5 ou 10 minutos de projeção são propositalmente os mais barulhentos do filme, contando com uma performance de metal e um foco nítido nos vários barulhos que dominam a vida do Ruben. Quando ele vai perdendo a audição, nós, como espectadores, “perdemos a nossa audição” com ele, porque, afinal, o roteiro coloca protagonista e espectador no mesmo barco. É simplesmente incrível (e extremo até) o contraste feito entre a primeira e a última cena do filme. É um dos melhores trabalhos de som que eu já vi desde “Um Lugar Silencioso” e “Em Ritmo de Fuga”, e deve ser um dos principais indicados ao Oscar de Melhor Som, juntamente com “Mank”.

(Besides the amazing performance by its screenplay and cast, “Sound of Metal” also makes an exceptional use of its technical aspects. Daniël Bouquet's cinematography perfectly uses many natural settings, because most of the plot is set in a countryside place. The art direction, working together with Bouquet, manages to make a clear contrast between the rehab environment, which is clean and peaceful; and the urban spaces, which are extremely noisy. Abraham Marder and Nicolas Becker's original score isn't that present, but when it comes into scene, it comes in hard. It's a really quiet film, when it comes to music. Yet the real magic in the technical prowess of “Sound of Metal” resides in its sound design. As previously stated, the first 5 or 10 minutes are purposefully the loudest ones in the film, relying on a metal performance and a clear focus on the several noises that dominate Ruben's life. When he begins losing his hearing, we, as viewers, “lose our hearing” with him, because, after all, the screenplay puts protagonist and viewer on the same page. It's simply amazing (and extreme, even) the contrast made between the film's first and final scene. It's one of the best sound work I've ever seen since “A Quiet Place” and “Baby Driver”, and should be one of the main contenders for the Oscar for Best Sound, alongside “Mank”.)



Resumindo, “O Som do Silêncio” é um dos melhores filmes de 2020. Fazendo o melhor uso de seu roteiro, elenco e aspectos técnicos, o diretor estreante Darius Marder cria aqui uma experiência cinematográfica extremamente imersiva, elevada à novas alturas pelas performances marcantes de Riz Ahmed e Paul Raci e pelo inventivo design de som.

Nota: 10 de 10!!

É isso, pessoal! Espero que tenham gostado! Até a próxima,

João Pedro

(In a nutshell, “Sound of Metal” is one of the best films of 2020. Making the best use of its screenplay, cast and technical aspects, debuting director Darius Marder creates an extremely immersive cinematic experience here, which is elevated to new heights by Riz Ahmed and Paul Raci's remarkable performances and its inventive sound design.

I give it a 10 out of 10!!

That's it, guys! I hope you liked it! See you next time,

João Pedro)


4 comentários:

  1. Caramba, muito bacana! Quero assistir!

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  2. JP,que lisonja!! Quanta honra!! Obrigada!!Vovó ficou extremamente feliz!! Vem fazer parte do nosso time tb??

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  3. JP, que lisonja!! Quanta honra!! Obrigada!!Vovó ficou extremamente feliz!! Vem fazer parte do nosso time tb??

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  4. 👏👏👏👏😀 como sempre vc é fera! Quanto a sua vó... ela é fera tbm! 👏👏👏👏😁 meu nome ñ aparece aí, + eu sou o Moacyr Moreira

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