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quarta-feira, 29 de julho de 2020

Animações Diferentes - "It's Such a Beautiful Day" e a humanidade surreal de Don Hertzfeldt (Bilíngue)

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E aí, meus caros cinéfilos! Tudo bem com vocês? Estou de volta, com a próxima parte da nossa postagem especial sobre animações diferentes. Na resenha de hoje, falarei especificamente sobre o trabalho de um animador estadunidense que já foi indicado a 2 Oscars por maravilhosos curtas-metragens que fazem uso de uma mistura surreal de visuais para abordar temas surpreendentemente comoventes e relevantes. Então, sem mais delongas, vamos falar sobre o trabalho de Don Hertzfeldt. Vamos lá!

(What's up, my dear film buffs! How are you guys doing? I'm back, with the next part in our special post on different animated films. In today's review, I'll be specifically talking about the work of an American animator who has already been nominated for two Oscars because of wonderful short films that make use of a surreal mix of visuals to deal with suprisingly moving and relevant themes. So, without further ado, let's talk about the work of Don Hertzfeldt. Let's go!)



Como todo diretor (ou estúdio) de animação, o trabalho de Hertzfeldt também tem suas particularidades, entre elas: o uso de stick figures (ou, em termos mais toscos, “bonecos de palitinho”) como personagens principais; temas existenciais e filosóficos, que dão um teor mais humano à algumas de suas obras; visuais surreais; situações tragicômicas e absurdas pelas quais seus personagens passam; o uso de animação tradicional com papel e caneta (de modo que vários desenhos tiveram que ser feitos para que um curta fosse montado); composições clássicas (como a 9a Sinfonia de Beethoven, e obras de Tchaikovsky) como trilha sonora; e o uso de câmeras antigas de 16 ou 35mm para fotografar seus desenhos, com o auxílio de métodos experimentais de fotografia. Na postagem de hoje, irei fazer um ranking dos sete curtas disponíveis no Blu-ray “Don Hertzfeldt Anthology Collection”, lançado em 2016. Então, com tudo isso dito, vamos começar!

(As it happens with every animation director (or studio), Hertzfeldt's work also has its peculiarities, among them: the use of stick figures as main characters; existential and philosophical themes, which give some of his work a more human touch; surreal visuals; tragicomical and absurdist situations his characters go through; the use of traditional pen-and-paper animation (in a way that several drawings must've been made for a short to be put together); classical music compositions (such as Beethoven's 9th, and the works of Tchaikovsky) as a soundtrack; and the use of antique 16mm or 35mm film cameras to photograph his drawings, with the aid of experimental photography methods. In today's post, I'll rank the seven short films available on the “Don Hertzfeldt Anthology Collection” Blu-ray, released in 2016. So, with all that said, let's begin!)



  1. BILLY'S BALLOON” (1998) (“O BALÃO DE BILLY”, em tradução livre)

De todos os trabalhos de Hertzfeldt disponíveis nessa coleção, “Billy's Balloon” foi o que teve menos substância. Com uma duração curta de 6 minutos, o último filme estudantil do diretor (feito na Universidade da Califórnia, em Santa Barbara) acompanha um ataque inexplicável à crianças menores de idade por seus balões, que ganham vida própria. A trama é algo que combina com o estilo narrativo de Hertzfeldt, mas não se torna algo que realmente causa uma impressão no espectador. Talvez pelo fato de ser o único curta sem diálogos disponível, “Billy's Balloon” não tem a profundidade temática ou a humanidade que outros trabalhos do diretor iriam alcançar. Mesmo para um curta com uma trama completamente absurda, ao longo de sua curta duração, o espectador pode até ficar um pouco desconfortável com as situações retratadas, por mais surreais que elas sejam. Independente disso, “Billy's Balloon” alcançou um sucesso internacional, sendo exibido no Festival de Cannes, e vencendo mais de 30 prêmios. Você pode assistir a ele aqui: https://www.youtube.com/watch?v=7jksRQcI9NA

(Out of all of Hertzfeldt's work available in this collection, “Billy's Balloon” was the one with less substance to it. With a short running time of 6 minutes, the director's final student film (made in the UC, in Santa Barbara) follows an inexplicable attack on small children by their balloons, which gain a life of their own. The plot is something that fits Hertzfeldt's narrative style, but doesn't become something that really leaves an impression on the viewer. Maybe because it's the only silent film in the collection, “Billy's Balloon” lacks the thematic profoundness and the humanity that the director's other work would achieve. Even though it's a short with a completely absurd plot, throughout its short running time, the viewer can even get a little uncomfortable with the situations portrayed in it, as surreal as they may seem. Independently, “Billy's Balloon” was internationally successful, being screened at the Cannes Film Festival, and winning over 30 awards. You can watch it here: https://www.youtube.com/watch?v=7jksRQcI9NA)



  1. WISDOM TEETH” (2010) (“DENTES DO SISO”, em tradução livre)

Assim como em “Billy's Balloon”, “Wisdom Teeth” também não tem quase nenhuma substância ou algo a dizer. Como o título sugere, o curta acompanha duas pessoas que decidem tirar os pontos de uma cirurgia envolvendo os dentes do siso de uma delas, com resultados absurdos. O único fator que coloca “Wisdom Teeth” acima de “Billy's Balloon” é o fato dos seus curtos 6 minutos de duração serem quase insuportáveis, no bom sentido. O próprio conceito do curta é algo surreal: por alguma razão inexplicável, o diálogo é em algo parecido com alemão, contando com a disponibilidade de legendas embutidas em inglês para uma melhor compreensão da obra. Ao longo que a trama vai passando, a situação fica cada vez mais absurda, com direito à maior quantidade de sangue em um curta de Hertzfeldt. E o final é simplesmente sensacional. Provavelmente serão os 6 minutos mais longos que um espectador irá vivenciar, mas pelo senso de humor surreal do diretor, cada segundo valerá a pena. Você pode assisti-lo aqui: https://www.youtube.com/watch?v=9W-VGUOiVDc

(As it happens with “Billy's Balloon”, “Wisdom Teeth” also has almost no substance or something to say. As the title suggests, the short film follows two people that decide to pull out the stitches of a surgery involving the wisdom teeth of one of them, with absurd results. The only factor that puts “Wisdom Teeth” above “Billy's Balloon” is that its short 6 minutes are nearly unbearable, in a good way. The short's own concept is something surreal: for some inexplicable reason, the dialogue is in something like German, relying on the availability of embedded English subtitles for a better comprehension of it. Throughout the plot, the situation gets more and more absurd, containing the highest quantity of blood in a Hertzfeldt film. And the ending is simply sensational. It'll likely be the longest 6 minutes a viewer will ever go through, but because of the director's surreal sense of humor, every second will be worth it. You can watch it here: https://www.youtube.com/watch?v=9W-VGUOiVDc)



  1. THE MEANING OF LIFE” (2005) (“O SENTIDO DA VIDA”, em tradução livre)

Agora, passamos a um trabalho mais bem elaborado, quando se diz respeito às temáticas que Hertzfeldt aborda. “The Meaning of Life” começa com uma série de pessoas, cujas vozes se intercalam, falando qual é o sentido da vida para elas. A partir daí, o diretor dá reviravoltas cada vez mais bizarras para chegar a um final surpreendentemente comovente. A trilha sonora composta por obras de Tchaikovsky ajuda a construir a ambição e a grandiosidade do conceito do curta. E pela proposta, “The Meaning of Life” é o mais perto que Hertzfeldt chegou de abordar (em 12 minutos friamente calculados) a mesma temática que Stanley Kubrick levou quase 2 horas e meia para esclarecer em “2001: Uma Odisseia no Espaço”. O enredo em si tem uma natureza abstrata (assim como o filme de Kubrick), mas a qualidade e a profundidade do trabalho de Hertzfeldt em “The Meaning of Life” é inegável. A montagem consegue transmitir as temáticas da obra com bastante clareza e eficiência, sendo essencial para uma maior compreensão dela. Mesmo que o espectador não entenda totalmente a trama de primeira, ele certamente se sentirá intrigado o bastante para vê-lo mais vezes, para refletir sobre e desvendar o verdadeiro significado do curta. Você pode assisti-lo aqui: https://www.youtube.com/watch?v=xMsyOowMaEY

(Now, we're in a more elaborate work, when it comes to the themes that Hertzfeldt deals with. “The Meaning of Life” starts off with a series of people, whose voices overlap each other, talking about what's the meaning of life for them. From that point, the director twists and turns its plot in bizarre ways to reach a surprisingly poignant ending. The soundtrack, composed by the works of Tchaikovsky, helps in building the ambition and the greatness of the short film's concept. And by its proposal, “The Meaning of Life” is the closest Hertzfeldt came to deal with (in precisely calculated 12 minutes) the same themes Stanley Kubrick took almost two hours and 30 minutes to clarify in “2001: A Space Odyssey”. The plot itself has an abstract nature (just like Kubrick's film), but the quality and the depth of Hertzfeldt's work in “The Meaning of Life” is undeniable. The editing manages to transmit its themes with lots of clarity and efficiency, being essential for a larger comprehension of it. Even though the viewer may not fully understand the plot at first, he'll surely feel intrigued enough to watch it again, in order to reflect on and unfold the short film's true meaning. You can watch it here: https://www.youtube.com/watch?v=xMsyOowMaEY)



  1. LILY AND JIM” (1997) (“LILY E JIM”, em tradução livre)

Cronologicamente, “Lily and Jim” é o primeiro curta disponível na coleção analisada nessa resenha, mesmo sendo o penúltimo filme estudantil de Hertzfeldt. Acho que nem é preciso dizer que, de todos os curtas, esse tenha a animação mais “primitiva”, sendo lançado um ano antes de “Billy's Balloon” (que já consolidava o que seria o estilo característico do diretor). Mas a animação nem chega a incomodar, porque o tema que o curta aborda é aonde o foco se instala. “Lily and Jim” conta a história de duas pessoas que vão à um encontro às cegas, o qual fica cada vez mais desconfortável ao longo da noite que eles passam juntos. O roteiro do curta lida com a natureza dos relacionamentos de uma maneira bem descontraída e, principalmente, plural, com o curta intercalando entre as cenas da noite dos protagonistas e depoimentos individuais explorando o ponto de vista deles sobre relacionamentos amorosos. É até surpreendente o quão realista “Lily and Jim” chega a ser, em respeito ao tema, retratando um encontro às cegas entre dois desconhecidos com uma precisão inacreditável. O senso de humor presente no roteiro é simplesmente cativante, sem ser exatamente inapropriado. E teve uma fala que me deixou bem impressionado com a capacidade que o diretor tem de criar diálogos (que foi algo bem parecido com o que achei do trabalho de Richard Linklater na Trilogia do Antes), que é assim: “Sabe, relacionamentos são muito parecidos com aqueles pequenos sachês de condimentos em restaurantes de fast-food. Eles são essas coisinhas mágicas que podem durar para sempre em uma estante, mas que, uma vez abertas, ficam ruins rápido demais.” Você pode assisti-lo aqui: https://www.youtube.com/watch?v=KDt-Fz0PLvk

(Chronologically, “Lily and Jim” is the first short film available in the collection being analyzed in this review, even though it's Hertzfeldt's penultimate student film. I think it's needless to say that, out of all shorts, this is the one with the most “primitive” animation, being released one year before “Billy's Balloon” (which already consolidated what would end up being the director's characteristic style). But the animation doesn't even bother the viewer, as the theme it deals with is the main focus of it. “Lily and Jim” tells the story of two people who go on a blind date, which gets more and more uncomfortable as the night they spend together goes by. Its script deals with the nature of relationships in a way that's uncompromised and, mainly, plural, as it transitions between the scenes portraying their night together and individual statements exploring their points of view on romantic relationships. It's downright surprising how realistic “Lily and Jim” turns out to be, regarding its theme, portraying a blind date between two people who don't know each other with an unbelievable precision. The sense of humor in the script is simply captivating, without being exactly inappropriate. And there was a line that left me really impressed with this director's capacity of creating dialogue (something really similar to what I thought of Richard Linklater's work in the Before Trilogy), which goes like this: “You know, relationships are a lot like those little packets of condiments you get at fast-food restaurants. They're these little magical things that can last forever on a shelf, but once you open them up, they go bad really fast.” You can watch it here: https://www.youtube.com/watch?v=KDt-Fz0PLvk)



  1. REJECTED” (2000) (“REJEITADOS”, em tradução livre)

Esse foi o primeiro curta que indicou Hertzfeldt ao Oscar de Melhor Curta de Animação, e quando alguém vir “Rejected” pela primeira vez com esse fato em mente, é bem provável que essa pessoa não entenderá o porquê. O conceito do curta, como o título sugere, é ser uma série de comerciais e intervalos criados pelo diretor que, por não terem nada a ver com o que a mídia queria transmitir, foram rejeitados pelas emissoras. Só para vocês terem uma ideia do quão aleatório esse curta é, o primeiro “comercial” começa com a seguinte situação: uma pessoa está tendo uma crise existencial porque a colher que ele está segurando é muito grande para uma pequena tigela de cereal. E aí, do nada, uma banana antropomórfica anda até a pessoa e diz “Eu sou uma banana!”. Eu sei o que vocês devem estar pensando: “Que coisa sem sentido! Por quê ISSO foi indicado ao Oscar?”. Exatamente por essa mesma razão: por serem comerciais “sem sentido”. “Rejected” já funciona como uma série de vinhetas engraçadas e absurdas conectadas uma à outra, mas o curta reflete a insignificância e a falta de sentido que os comerciais têm a respeito dos produtos que eles promovem. Sob esse ponto de vista, o curta de Hertzfeldt é uma obra-prima com uma crítica social afiadíssima e nada discreta. Vejam “Rejected” e tentem não rir com as situações absurdas e desconexas que os “comerciais” têm em respeito aos “produtos” que eles promovem. Eu desafio vocês. Vocês podem assisti-lo aqui: https://www.youtube.com/watch?v=W7JyjZI3LUM

(This was the first short that nominated Hertzfeldt to the Oscar for Best Animated Short Film, and when someone sees “Rejected” for the first time with that fact in mind, it's highly likely that they won't understand why. The short's concept, as the title suggests, is to be a series of commercials and commercial breaks created by the director which, because they are unrelated with what the media wanted to transmit, were rejected by major broadcasting companies. Just for you to have an idea of how random this short film is, the first “commercial” starts off with the following situation: a person is having an existential crisis because the spoon he's holding is way too big for a small bowl of cereal. And then, out of nowhere, an anthropomorphic banana walks up to him and says “I'm a banana!”. I know what you might be thinking: “That has no sense! Why was THAT Oscar-nominated?”. Exactly for that reason: for being meaningless commercials. “Rejected” already works as an interconnected series of funny and absurd vignettes, but the short film reflects the insignificance and the disconnection commercials have to the product they're promoting. Under that point of view, Hertzfeldt's short is a masterpiece with a razor-sharp social criticism which isn't discrete at all. Watch “Rejected” and try not to laugh at the absurd and unconnected situations these “commercials” portray regarding their “products”. I dare you. You can watch it here: https://www.youtube.com/watch?v=W7JyjZI3LUM)



  1. WORLD OF TOMORROW” (2015) (“O MUNDO DO AMANHÔ, em tradução livre)

Esse era um dos curtas de Hertzfeldt que eu estava mais animado para ver, já que vários críticos ao redor do mundo falaram que “World of Tomorrow” foi “um dos melhores filmes da década”. Não “um dos melhores curtas da década”, nem “uma das melhores animações da década”, mas sim um dos melhores FILMES (em geral) da década. E em 17 minutos cuidadosamente construídos, somos introduzidos à fofa Emily, uma garota de 4 anos que recebe uma visita de um clone dela mesma vindo do futuro, a qual deseja mostrar à garota o mundo que ela irá viver em breve. O curta conta com vários conceitos científicos, tais como clonagem, viagem no tempo, viagens interestelares, e todos esses temas complexos são abordados com uma deliciosa simplicidade. A dinâmica entre a Emily de 4 anos e sua clone do futuro é simplesmente cativante, e às vezes hilária. É fascinante ver uma garotinha testemunhando o mundo que ela irá viver em breve, assim como é extremamente emocionante ver o quanto que a clone do futuro já viveu. As técnicas de animação dão um teor extremamente futurista à produção, embora ainda contendo, em sua essência, o estilo característico do diretor. Essa é uma daquelas animações que te faz sentir um turbilhão de emoções ao mesmo tempo: tem uma história fofa, feliz, emocionante e triste ao mesmo tempo. Assim como “Rejected”, “World of Tomorrow” foi indicado ao Oscar de Melhor Curta de Animação (e deveria ter ganho). O sucesso da obra foi tão grande que, dois anos depois, ela ganhou uma sequência, “World of Tomorrow - Episode Two: The Burden of Other People's Thoughts”. E se essa história fizer a mesma coisa que o trabalho que ocupa o primeiro lugar nessa lista, teremos um novo clássico moderno da ficção-científica em nossas mãos. Este é um dos únicos curtas que não estão disponíveis no canal oficial de Hertzfeldt no YouTube, então, se você estiver disposto a gastar um pouco do seu dinheiro suado em um dos melhores curtas de animação dos últimos tempos, você pode comprar ou alugar “World of Tomorrow” no Vimeo aqui: https://vimeo.com/ondemand/worldoftomorrow

(This was one of the Hertzfeldt shorts I was most excited to see, as many critics around the world have said that “World of Tomorrow” was “one of the best movies of the decade”. Not “one of the best short films of the decade”, or “one of the best animated films of the decade, but one of the best MOVIES (in general) of the decade. And in 17 carefully constructed minutes, we're introduced to the cute Emily, a 4-year-old girl who is visited by her clone from the future, who wishes to show her the world she will soon live in. The short contains several sci-fi concepts, such as cloning, time travel, interstellar voyages, and all those complex themes are dealt with the most delicious simplicity. The dynamics between 4-year-old Emily and her clone from the future is simply captivating, and hilarious at times. It is fascinating to see a little girl witnessing the world she'll soon live in, just like it's emotionally shattering to see how much the clone from the future has already lived. The animation techniques give the production a very futuristic feel, while still containing, in its essence, the director's characteristic style. This is one of those animations that make you feel a whirlwind of emotions all at once: it has a cute, happy, emotional and sad story at the same time. Just like “Rejected”, “World of Tomorrow” was nominated for the Oscar for Best Animated Short Film (and should've won it). Its success was so big that, two years later, it got a sequel, “World of Tomorrow – Episode Two: The Burden of Other People's Thoughts”. And if this story does the same thing as the first place in this list, we'll have a new modern sci-fi classic in our hands. This is one of the only shorts not available on Hertzfeldt's official YouTube channel, so, if you're willing to spend a little bit of your hard-earned money on one of the best animated short films in recent times, you can purchase or rent “World of Tomorrow” on Vimeo here: https://vimeo.com/ondemand/worldoftomorrow)



  1. IT'S SUCH A BEAUTIFUL DAY” (2012) (“O DIA ESTÁ TÃO BONITO”, em tradução livre)

É simplesmente impressionante como um boneco de palitinho consegue acertar em cheio nas emoções do espectador. “It's Such a Beautiful Day” é uma compilação de três curtas (“Everything Will Be OK”, “I Am So Proud of You” e “It's Such a Beautiful Day”), resultando em um curto filme de 1 hora e 2 minutos de duração que conta a história de Bill, um homem que vê suas memórias lentamente sendo perdidas devido à uma doença neurodegenerativa. O filme é narrado pelo próprio diretor, e uma das melhores coisas sobre a narração de Hertzfeldt é o fato dela parecer um tanto mundana, assim como a situação em que o protagonista se encontra. Mas o filme encontra seu maior ponto forte na profundidade temática que ele tem e em como ele aborda a deterioração da saúde mental do protagonista, de um modo simples, calmo, agridoce, e, de fato, lindo. Como “It's Such A Beautiful Day” é uma compilação de 3 curtas, o filme em si é dividido em 3 capítulos, com cada um focando em um aspecto (ou em uma fase) da vida de Bill: o primeiro aborda o diagnóstico e os primeiros efeitos da perda de memória; o segundo foca nos antepassados da doença nos parentes dele; e o terceiro aborda a evolução desse problema nas relações que Bill tem com as pessoas ao seu redor. A montagem e os métodos de animação desse filme são de outro mundo. É feita aqui uma mistura única entre animação tradicional e fotografia experimental que dá um tom surreal bem Lynchiano à obra, e que combina extraordinariamente bem com a condição que o protagonista está passando. A história tem um tom bem melancólico, mas também tem seus momentos engraçados. E eu simplesmente adoro a ambiguidade do final. Como ele pode ser esperançoso e, ao mesmo tempo, agridoce. “It's Such a Beautiful Day” é um dos melhores filmes de animação que eu já vi na minha vida, e definitivamente deveria ter sido indicado ao Oscar de Melhor Filme de Animação, sendo melhor e mais cativante do que “Valente” e “Detona Ralph” combinados. Assim como “World of Tomorrow”, “It's Such a Beautiful Day” não está disponível no canal de Hertzfeldt no YouTube, mas está disponível para compra e aluguel no Vimeo: https://vimeo.com/ondemand/itssuchabeautifulday

(It's simply impressive how a stick figure can hit the jackpot on the viewer's emotions. “It's Such a Beautiful Day” is a compilation of three short films (“Everything Will Be OK”, “I Am So Proud of You” and “It's Such a Beautiful Day”), resulting in a short feature-length film with a running time of 1 hour and two minutes that tells the story of Bill, a man who slowly sees his memories being lost due to a neurodegenerative disease. The film is narrated by the director himself, and one of the best things about Hertzfeldt's voice-over narration is that is sounds very mundane, which fits perfectly with the situation the main character finds himself in. But the film finds its strongest force in its thematic depth and in the way it deals with the deterioration of the protagonist's mental health, in a simple, calm, bittersweet and, indeed, beautiful way. As “It's Such a Beautiful Day” is a compilation of 3 shorts, the film itself is divided into 3 chapters, with each one focusing in an aspect (or in a phase) of Bill's life: the first deals with the diagnostics and the first effects of his memory loss; the second focuses on the previous effects of the disease in his parents; and the third deals with the evolution of this problem in the relationships Bill has with the people around him. The editing and animation techniques used are otherworldly. Here, we have an unique mix between traditional animation and experimental photography that gives it a surreal Lynchian tone, and that is an extraordinarily fine fit with the situation the protagonist is facing. The story has a really melancholic tone, but also has its funny moments. And I simply love the ending's ambiguity. How it can be hopeful and, at the same time, bittersweet. “It's Such a Beautiful Day” is one of the best animated films I've ever seen in my life, and it definitely should've nominated for the Oscar for Best Animated Feature, as it's better and more captivating than “Brave” and “Wreck-It Ralph” combined. Just like “World of Tomorrow”, “It's a Beautiful Day” isn't available on Hertzfeldt's YouTube channel, but it's available for rental and purchase on Vimeo: https://vimeo.com/ondemand/itssuchabeautifulday)



BÔNUS: PIADA DO SOFÁ PARA “OS SIMPSONS” (2014)

(BONUS: COUCH GAG FOR “THE SIMPSONS” (2014))

https://www.youtube.com/watch?v=6i2l-LQ-dXI



É isso, pessoal! Espero que tenham gostado! Até a próxima,

João Pedro

(That's it, guys! I hope you liked it! See you next time,

João Pedro)




sábado, 25 de julho de 2020

Animações Diferentes - "O Gigante de Ferro": uma história atemporal, comovente e reflexiva para todas as idades (Bilíngue)

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E aí, meus caros cinéfilos! Tudo bem com vocês? Estou de volta, para trazer a próxima parte da nossa postagem especial sobre animações diferentes. Na resenha de hoje, irei analisar um filme que muitas pessoas devem conhecer. Ele faz uso da clássica fórmula de filmes sobre amizade entre “espécies” diferentes, popularizada por “E.T.: O Extraterrestre”, mas com uma característica distinta essencial: ele tem como pano de fundo um dos momentos políticos mais decisivos do século XX. Então, sem mais delongas, vamos falar sobre “O Gigante de Ferro”. Vamos lá!

(What's up, my dear film buffs! How are you guys doing? I'm back, in order to bring to you the next part in our special post on different animated films. In today's review, I'll analyze a film that a lot of people may have heard of. It makes use of the classic formula of films about friendships between different “species”, made popular by “E.T.: The Extraterrestrial”, but with an essential distinct characteristic: its background is one of the most decisive political moments in the 20th century. So, without further ado, let's talk about “The Iron Giant”. Let's go!)



Ambientado durante a Guerra Fria, em uma cidadezinha no estado do Maine, nos EUA, o filme acompanha Hogarth Hughes (voz original de Eli Marienthal), um menino cheio de energia e curiosidade que se torna amigo de um robô alienígena de 15 metros de altura (voz original de Vin Diesel). Determinado em manter seu novo amigo longe de um agente federal paranoico (voz original de Christopher McDonald), Hogarth conta com a ajuda de um artista local (voz original de Harry Connick Jr.), dono de um ferro-velho, para esconder o robô.

(Set during the Cold War, in a little town in Maine, the film follows Hogarth Hughes (voiced by Eli Marienthal), a boy full of energy and curiosity who befriends a 50-foot tall alien robot (voiced by Vin Diesel). Determined in keeping his new friend away from a paranoid federal agent (voiced by Christopher McDonald), Hogarth relies on the help of a local artist (voiced by Harry Connick Jr.), who owns a junkyard, to hide the robot.)



Esse filme é algo que a Disney teria adorado fazer, se a Warner não tivesse feito antes. Tudo sobre “O Gigante de Ferro” (a história, o visual, o desenvolvimento dos personagens, até a trilha sonora) exala toda a espinha dorsal que dominou a Era da Renascença da Disney nos anos 1990, em filmes como “O Rei Leão” e “A Bela e a Fera”. É o primeiro filme dirigido pelo Brad Bird, um nome que pode ser familiar para muitos de vocês, por ele ter ganho dois Oscars de Melhor Filme de Animação, sendo responsável pela direção de dois sucessos da Pixar: “Os Incríveis” e “Ratatouille”. E é simplesmente impressionante ver como o seu primeiro filme, produzido pela Warner Bros. (que, na época, era somente conhecida pelas animações do Batman e dos Looney Tunes), consegue ser melhor, mais engajante, e mais emocionante do que seus trabalhos para a Disney. “O Gigante de Ferro” é mais uma das razões do porquê o Oscar de Melhor Filme de Animação deveria ter sido inventado mais cedo. O roteiro é escrito por Tim McCanlies e Brad Bird, adaptado do livro “O Homem de Ferro”, de Ted Hughes, que, por sua vez, era conhecido por criticar temas relevantes na época de lançamento (na plena Guerra Fria), como o uso de armas e conflitos internos. Quem me conhece sabe que eu simplesmente AMO histórias de ficção ambientadas em eventos da vida real, tais como “O Labirinto do Fauno” (ambientado na Guerra Civil Espanhola) e “A Forma da Água” (ambientado durante a Guerra Fria). E só pelo enredo de “O Gigante de Ferro” ter como base um evento real, já é um motivo para eu ter mais interesse para assisti-lo. Acho que nem é preciso dizer que essa animação é uma obra-prima, que faz o espectador rir, se emocionar e refletir sobre temas muito interessantes, tudo em menos de 1h30min de duração. O primeiro ato faz um trabalho excelente de introdução de seus personagens e da ambientação da trama; tanto que, em alguns aspectos, é até tipico de um filme da Disney feito na mesma época. Vale a pena dizer que, pelo fato de ter, ao mesmo tempo, uma trama pertencente à uma fórmula acessível para todas as idades, e uma ambientação vivenciada por adultos e até idosos, “O Gigante de Ferro” é altamente recomendado para as pessoas de 8 a 80 anos. (Risos) Os personagens são muito bem desenvolvidos, de modo que eles ganham a simpatia ou o desgosto do espectador no primeiro momento deles em tela. E o modo que Bird e McCanlies manipulam a fórmula “E.T.” é simplesmente maravilhoso. O roteiro tem um tom bem uniforme, fazendo uso de momentos engraçados, frenéticos e comoventes para manter o espectador engajado na história e se importando com os personagens. E alguns desses momentos funcionam de uma maneira ainda mais eficiente quando se é mais velho. Uma das melhores coisas aplicadas pelos roteiristas no enredo é esta: simplesmente não há como o espectador não se sentir comovido com a amizade entre o Hogarth e o Gigante de Ferro. A história é extremamente cativante, ao ponto de fazer o espectador sentir um turbilhão de emoções dentro de si. Tal turbilhão é expressado através de risadas e choros, o que desperta vários sentimentos que certamente permanecerão por muito tempo após os créditos finais. E, como quase toda animação diferente que passará por essa postagem, “O Gigante de Ferro” vai além do estilo e da ambientação, e lida com temas muito interessantes, adicionando substância ao filme. A trama aborda, através do personagem-título, o existencialismo e a natureza da humanidade. E é simplesmente emocionante ver um robô, que desconhece a maioria das coisas que ele vê na Terra, acabar sendo mais humano do que qualquer outro personagem nesse filme. Resumindo, o roteiro de “O Gigante de Ferro” faz um ótimo uso de uma fórmula oitentista e de uma ambientação real para contar uma história fictícia comovente, reflexiva, e apropriada para todas as idades.

(This film is something Disney would've loved to do, if Warner hadn't done it first. Everything about “The Iron Giant” (the story, the visuals, the character development, and even the score) lives and breathes the essential core that dominated Disney's Renaissance Era in the 1990s, in films such as “The Lion King” and “Beauty and the Beast”. This is the first film directed by Brad Bird, a name that may be familiar to many of you, because he won 2 Oscars for Best Animated Feature, being responsible for directing two Pixar hits: “The Incredibles” and “Ratatouille”. And it's just impressive how his first film, produced by Warner Bros. (which, at the time, was only known for Batman and Looney Tunes animations), managed to be better, more engaging and more moving than his work for Disney. “The Iron Giant” is one of the many reasons why the Oscar for Best Animated Feature should've been invented sooner. The script was written by Tim McCanlies and Brad Bird, adapted from Ted Hughes's book “The Iron Man”, which, in turn, was known for criticizing themes that were relevant at the time of its release (the Cold War), such as warfare and internal conflict. Who really knows me knows that I LOVE fictional stories set in real-life events, such as “Pan's Labyrinth” (set in the Spanish Civil War) and “The Shape of Water” (set during the Cold War). And just because the plot of “The Iron Giant” has a real-life event as a basis, that's one more reason to get me interested in watching it. I think it's needless to say that this animated film is a masterpiece, which makes the viewer laugh, cry and reflect on interesting themes, all in less than an hour and 30 minutes long. The first act does an excellent job introducing its characters and establishing its setting; which, in some aspects, is even typical of a Disney film produced in the same time. I think it's worth mentioning that, because it has, at the same time, a plot belonging to a universal formula appropriate for all ages, and a setting that many adults and even elders lived through, “The Iron Giant” is highly recommended for people 8 to 80. (LOL) The characters are very well developed, in a way they win the viewer's sympathy or aversion from their first moment on-screen. And the way that McCanlies and Bird manipulate the “E.T.” formula is just wonderful. The script has a really uniform tone, making use of funny, frenetic and moving moments to keep the viewer engaged and caring about its characters. And some of these moments work in a more efficient way when you're older. One of the best things the screenwriters applied to the plot is this: there isn't any way in which the viewer doesn't feel moved by Hogarth and the Iron Giant's friendship. The story is extremely captivating, to the point of making the viewer feel a whirlwind of emotions inside. That whirlwind, in turn, is expressed through laughter and crying, which awake several feelings that will certainly remain long after the credits finish rolling. And, like every animation that will be reviewed on this post, “The Iron Giant” goes beyond its style and setting, and deals with really interesting themes, adding more substance to the film. The plot deals, through its title character, with existencialism and the nature of humanity. And it's just heartbreaking to see a robot, who doesn't know anything on Earth, end up being more human than any of the other characters in the film. In a nutshell, the script of “The Iron Giant” uses an '80s formula and a real-life setting to tell a fictional story that's moving, thought-provoking and appropriate for all ages.)



Bem, como dito anteriormente, os personagens são desenvolvidos de forma perfeita. O fio condutor da trama é a dinâmica entre Hogarth e o personagem-título, que são interpretados pelo Eli Marienthal e pelo Vin Diesel, respectivamente. Eu achei que, por Marienthal ter quase a mesma idade de seu personagem, a escalação do ator foi bem vantajosa, em uma época que várias crianças eram interpretadas por adultos em animações. Pela voz de Marienthal, dá pra realmente acreditar que é uma criança fazendo a voz do personagem. Eu achei o trabalho do Vin Diesel como o Gigante de Ferro muito parecido com a voz dele de Groot no primeiro “Guardiões da Galáxia”. É uma voz grave, imponente, e até ameaçadora à primeira vista, mas o espectador fica cada vez mais comovido pela evolução que ele sofre, resultando em um completo investimento emocional no personagem. Os desenvolvimentos do Hogarth e do Gigante são complementados pela relação que eles têm com os personagens interpretados pelo Harry Connick Jr. e pela Jennifer Aniston. Connick Jr. interpreta um dos melhores coadjuvantes do filme, servindo como um alívio cômico eficiente; e Aniston é uma das maiores âncoras emocionais para o protagonista. E fechando com chave de ouro, temos o Christopher McDonald como o antagonista principal, com o ator conseguindo equilibrar perfeitamente o tom ameaçador e engraçado que o personagem requer.

(Well, as previously said, the characters are perfectly developed. The conductive force of the plot is the dynamics between Hogarth and the title character, who are respectively voiced by Eli Marienthal and Vin Diesel. I thought that, because Marienthal was almost as old as his character, his casting had a major advantage, in a time where several children were voiced by adults in animation work. Through Marienthal's voice, you can really believe it's an actual kid voicing him. I found Vin Diesel's work as the Iron Giant to be quite similar to his Groot voice in the first “Guardians of the Galaxy”. It's a deep, imponent, and even threatening voice at first, but the viewer gets more and more moved by the evolution he suffers, resulting in a complete emotional investment in the character. The developments of Hogarth and the Giant are complemented by their relationships with the characters voiced by Harry Connick Jr. and Jennifer Aniston. Connick Jr. plays one of the best supporting characters in the film, and also an efficient comic relief; and Aniston is one of the biggest emotional anchors for the main character. And, at last, but definitely not least, we have Christopher McDonald as the main antagonist, with the actor managing to perfectly balance the funny and threatening tones the character requires.)



O visual da animação é simplesmente lindo. Ela faz uma mistura eficiente e fluida entre a animação tradicional, que dominava os filmes da Disney na época, e o CGI, predominante nas obras da Pixar, tais como “Toy Story” e “Vida de Inseto”. A diferença entre esses dois métodos de animação é evidente, e faz uma comparação até metafórica sobre como o Gigante de Ferro (animado em CGI) é mais evoluído do que qualquer arma usada pelos humanos na época (animadas tradicionalmente). Eu só fui perceber isso agora, e achei simplesmente brilhante. A direção de arte dá um ar super aconchegante à cidadezinha de Rockwell, no Maine, mesmo com os tons de ficção-científica da história. É um filme muito bem montado, não há nenhuma parte desnecessária ou prolongada aqui. Devido ao passo da história, a obra foi editada para uma duração bem enxuta e digerível para todas as idades, o que é uma baita vantagem. E, por fim, temos a incrível trilha sonora do Michael Kamen, que faz um trabalho bem similar ao do Alan Menken nos musicais da Era da Renascença da Disney, como “A Bela e a Fera”, “A Pequena Sereia” e “Aladdin”.

(The animation's visuals are simply beautiful. It makes an efficient, fluid mix between traditional animation, which dominated Disney's films at the time, and CGI, which was predominant in the works of Pixar, such as “Toy Story” and “A Bug's Life”. The difference between these two methods is evident, and makes a metaphorical comparison on how the Iron Giant (animated through CGI) is more evolved than any weapon used by humans at the time (traditionally animated). I just realized this now, and I thought it was brilliant. The art direction gives a cozy feel to the Maine town of Rockwell, even through the story's sci-fi tones. It's a pretty well-edited film, there isn't any part that's unnecessary or overlong here. Due to the story's pacing, it was edited to a short, digestible running time for all ages, which is one hell of an advantage. And, at last, we have the amazing score by Michael Kamen, who does a similar job to what Alan Menken did for the Disney Renaissance musicals, such as “Beauty and the Beast”, “The Little Mermaid” and “Aladdin”.)



Resumindo, “O Gigante de Ferro” é uma das melhores animações de todos os tempos. Usando uma ambientação real, uma fórmula emocionalmente eficiente, e misturando técnicas de animação, o diretor Brad Bird cria uma história atemporal apropriada para todas as idades que consegue ser engajante, muito comovente e até reflexiva, abordando temas muito interessantes no processo.

Nota: 10 de 10!

É isso, pessoal! Espero que tenham gostado! Até a próxima,

João Pedro

(In a nutshell, “The Iron Giant” is one of the best animated films of all time. Using a real-life setting, an emotionally efficient formula, and mixing animation techniques, director Brad Bird creates a timeless story for all ages that manages to be engaging, very moving and even thought-provoking, dealing with very interesting themes in the process.

I give it a 10 out of 10!

So, that's it, guys! I hope you liked it! See you next time,

João Pedro)




quarta-feira, 22 de julho de 2020

Animações Diferentes - "Perfect Blue": um thriller psicológico cuidadosamente construído (Bilíngue)

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E aí, meus caros cinéfilos! Tudo bem com vocês? Estou de volta, para trazer a segunda parte da nossa postagem especial sobre animações diferentes. O filme em questão pode até ser a animação mais perturbadora que eu já vi na minha vida, sendo um thriller psicológico cuidadosamente construído para colocar o espectador no corpo da protagonista, frequentemente nos fazendo questionar se o que estamos vendo é verdadeiro ou não. Então, sem mais delongas, vamos falar sobre “Perfect Blue”. Vamos lá!

(What's up, my dear film buffs! How are you guys doing? I'm back, in order to bring the second part of our special post on different animated films. The film I'm about to review might as well be the most disturbing animated film I've ever seen, a psychological thriller carefully crafted to put the viewer in the protagonist's shoes, frequently making us question whether we're watching something real or not. So, without further ado, let's talk about “Perfect Blue”. Let's go!)



O filme acompanha Mima Kirigoe (voz original de Junko Iwao), uma jovem cantora, membro de um grupo musical moderadamente famoso no Japão, que decide desistir do seu lugar na banda para investir em trabalhos como atriz. A partir dessa escolha, ela tem a impressão de estar sendo perseguida por um fã e um fantasma de seu passado, enquanto assassinatos brutais começam a ocorrer, o que faz com que Mima questione sua própria sanidade.

(The film follows Mima Kirigoe (originally voiced by Junko Iwao), a young singer, part of a moderately famous musical group in Japan, who decides to give up her spot on the band to invest in acting jobs. From that choice, she starts to have the impression of being stalked by a fan and a ghost of her past, while gruesome murders begin to occur, which makes Mima question her own sanity.)



Eu, honestamente, não sabia muito o que esperar desse filme. As críticas em si ficaram bem divididas, e o que realmente me deixou curioso para assisti-lo foi a imagem da protagonista espalhando o sangue no próprio rosto. Essa imagem ficou grudada na minha cabeça. Eu achei ela ao mesmo tempo aterrorizante e bela. Poética, até. Mas eu não esperava que o filme tivesse ido no rumo que realmente foi. É o primeiro filme dirigido pelo Satoshi Kon, que ficou conhecido por tornar a linha entre realidade e fantasia no Japão contemporâneo cada vez mais tênue, tendo entre seus trabalhos mais conhecidos este filme e “Paprika”; obras que, respectivamente, fãs alegam ter sido a inspiração para dois filmes de 2010: “Cisne Negro”, de Darren Aronofsky; e “A Origem”, de Christopher Nolan. Diga-se de passagem que “Perfect Blue” definitivamente NÃO é para crianças. Como dito na introdução, o filme é um thriller psicológico, ou seja, faz uso de um roteiro tenso, contendo uma carga psicológica bem pesada, e, como a cereja no topo desse bolo, envolto em imagens violentas e perturbadoras. E Kon faz um ótimo trabalho em explorar a sanidade de sua protagonista, de modo que o espectador começa a se sentir como ela: confusa, duvidosa, frequentemente questionando se o que ela viu (e, consequentemente, o que nós vimos) é real ou não. Uma coisa que vale a pena ser mencionada é que “Perfect Blue” é um filme ambientado em sua época de lançamento (a segunda metade dos anos 1990): o fenômeno da Internet estava apenas começando, e a TV estava se tornando cada vez mais popular. O que me deixou realmente impressionado foi como o diretor conseguiu estabelecer uma atmosfera tão sinistra em menos de 1 hora e 30 minutos de duração. Os primeiros minutos fazem um uso extremamente eficiente de flashbacks e flashforwards para explorar as diferenças entre as duas “vidas” da protagonista: enquanto ela é vista dando um baita show para seus fãs; do nada, há uma quebra de expectativa, cortando para uma cena dela fazendo algo completamente trivial, como comprar comida para seus peixes de estimação. Essas quebras funcionam perfeitamente para fazer com que o espectador aprenda sobre o passado da personagem principal, e para que ele se adapte com essa nova persona dela. Quando ela inicia seus trabalhos como atriz, é aí que os eventos perturbadores mencionados na sinopse começam a acontecer. E, a partir desse momento, somos mergulhados no próprio corpo da protagonista, de modo que nós vemos o que ela vê. Algo que muitas pessoas podem achar frustrante, mas eu, pelo contrário, acho brilhante, é como o diretor faz uso de uma montagem cuidadosamente calculada para fazer o espectador realmente acreditar que os eventos vistos na tela são reais. Aí a câmera começa a afastar, e percebemos que não passava de uma cena para o programa de TV no qual a protagonista participa. Mais um uso genial que o diretor faz da quebra de expectativa, completamente manipulando a percepção do espectador em diferenciar ficção da realidade, o que acaba por causar perturbação e intriga nele, mesmo através de algo que não é “real”. Se o que acabei de escrever faz parecer que o terror psicológico presente no filme é algo gratuito e, às vezes, frustrante; é essencial mencionar que além de possuir um roteiro extremamente engajante, a obra de Kon também aborda temas interessantes, relevantes na atualidade e dignos de discussão, tais como: a mudança de rumo na carreira de um “ídolo”, e como os fãs lidam com essa mudança; o quão longe esses “ídolos” vão para receber a atenção desejada e a consequente obsessão que alguns fãs podem ter por essas pessoas, o que pode acabar tornando a saúde mental de ambas as partes cada vez mais deterioradas. É algo muito perturbador, mas, por consequência, muito eficiente. O ato final da obra é repleta de ação, o que certamente irá compensar para aqueles espectadores que podem ficar potencialmente entediados com o terror psicológico predominante nos dois primeiros atos. E a última cena é, na minha opinião, perfeita. Não posso dizer que entendi tudo de primeira ao assistir o filme, mas depois de dar uma digerida na minha cabeça, posso tranquilamente dizer que é uma das melhores animações adultas que eu já vi na minha vida. E deve ficar ainda melhor depois de vê-la novamente.

(I, honestly, didn't know what to expect from this film. The reviews themselves were divided over it, and what really got me curious into watching it was an image of the protagonist spreading blood over her own face. That image got stuck in my head. I thought it was at the same time terrifying and beautiful. Heck, poetic, even. But I totally didn't expect it to go the way it actually went. This is the first film directed by Satoshi Kon, who was known for blurring the lines between fantasy and reality in contemporary Japan, with his most known works being this film and “Paprika”; these films, in turn, are alleged by fans to have been the inspiration to two 2010 Oscar-nominated movies: Darren Aronofsky's “Black Swan”, and Christopher Nolan's “Inception”, respectively. I have to say that “Perfect Blue” is definitely NOT for children. As said in the introduction, this film is a psychological thriller, which means that it makes use of a tense script, containing a pretty heavy psychological weight, and that, as the cherry on top of it, is surrounded by violent and disturbing imagery. And Kon does a superb job in exploring its protagonist's sanity, in a way that the viewer starts feeling the same way she does: confused, doubtful, frequently asking if what she saw (and, consequently, what we watched) was real or not. One thing worth mentioning is that “Perfect Blue” is set in its release time (the late 1990s): the Internet phenomenon was just beginning, and TV was becoming more and more popular. What left me really impressed was how the director managed to create such a sinister atmosphere in less than 1 hour and 30 minutes of running time. Its first minutes make a great use of flashbacks and flashforwards to explore the differences between the protagonist's two “lives”: while she's seen putting on one hell of a show for her fans; out of nowhere, there's a shattering of expectations, cutting to a scene where she's doing something completely normal, like buying food for her pet fish. These cuts work perfectly to make the viewer learn about her past; and adapt to her new persona. When she begins her work as an actress, that's when the disturbing events mentioned in the synopsis start to happen. And, from that point, we see through the protagonist's eyes; we see what she sees. Something that many people might find frustrating, but I, on the contrary, thought it was brilliant, is how the director uses careful editing to make the viewer believe that what's happening on-screen is real. And then, the camera starts to back away, revealing that it was just a scene from the TV show that the protagonist stars in. Another genius use of the expectation break, completely manipulating the viewer's perception of telling the difference between fiction and reality, which ends up causing disturbance and intrigue, even through something that isn't “real”. If what I just wrote made it look like its psychological horror is gratuitous and, sometimes, frustrating; it's important to mention that besides having an engaging script, Kon's film deals with some interesting, relevant, and discussion-worthy themes, such as: the change of paths in the career of an “idol”, and how fans deal with that change; how far these “idols” will go to get the attention they want and, consequently, the obsession some fans might have over these people, which may end up making both parts' more and more mentally deteriorated. It's something really disturbing, yet as a result, very effective. The final act is action-packed, which will certainly compensate for those viewers who may find the psychological horror that dominates its first two acts rather boring. And the last scene is, in my opinion, perfect. I can't say I understood everything when the credits began to roll but, after digesting it for a bit in my head, I can safely say that it's one of the best adult animated films I've ever seen. And it may be even better when rewatched.)



Os personagens são desenvolvidos de forma quase impecável, especialmente quando se fala da protagonista, a Mima. Ao mudar de carreira, o espectador se sente imerso na cabeça dela: vendo o que ela vê, sentindo o que ela sente, se confundindo quando ela se sente confusa. Essa imersão acaba por tornar Mima em um dos melhores recursos em filmes com um viés psicológico: uma narradora não-confiável, porque nós não aprendemos a confiar totalmente no ponto de vista dela, já que ela consegue ver coisas que ninguém mais vê (algo bem parecido com o que aconteceu com a protagonista da série “Undone”, da Amazon Prime Video). Nós acompanhamos essa gradual deterioração da sanidade dela detalhadamente, resultando em uma abordagem engajante e perturbadora desse estilo de narrativa. Assim como todo protagonista problemático, Mima encontra suas âncoras na realidade através de seus agentes (que são desenvolvidos perfeitamente); um suposto fã que parece seguir cada um de seus passos (cujos pensamentos são expressos de forma esplêndida por meio de um blog) e seus colegas de trabalho (que se esforçam para fincá-la à realidade deles).

(The characters are developed in an almost flawless way, especially when it comes to its protagonist, Mima. As she changed her career: the viewer feels immersed in her head: seeing what she sees, feeling what she feels, confusing themselves when she feels confused. This immersion ends up turning Mima in one of the best resources in films with a psychological twist: an unreliable narrator, as we don't learn to fully trust her point of view, because she sees things that literally no one else sees (something much alike what happened with the main character from the show “Undone”, an Amazon Prime Video Original). We follow this gradual deterioration of her sanity in great detail, resulting in an engaging and disturbing approach to this style of narrative. Just like every troubled protagonist, Mima finds her anchors to reality through her agents (who are perfectly developed); an alleged fan who seems to follow every one of her steps (whose thoughts are splendidly expressed through a blog) and her co-workers (who make an effort to keep her fixed in their reality).)



Em termos técnicos, “Perfect Blue” não é datado, de maneira alguma, mas não chega à atemporalidade alcançada pelas primeiras obras do Studio Ghibli, por exemplo. Satoshi Kon faz um ótimo uso da animação tradicional para fazer vários contrastes entre as duas “personas” da protagonista: enquanto as cenas com a Mima cantora são vibrantes e envoltas com tons avermelhados; as cenas com a Mima atriz têm um tom mais azulado, mais sombrio, o que funciona perfeitamente, já que as cores vermelho e azul são opostas no círculo cromático. O uso de cor na direção de arte é tão essencial à trama, que o próprio título do filme pode ter um significado simbólico. A montagem é um dos principais meios de construção de atmosfera usados pelo diretor, que acha o ponto focal certo para tornar algumas cenas mais perturbadoras. Há alguns cortes bem rápidos em uma cena em especial, o que eu achei simplesmente sensacional, adicionando muito mais tensão à uma cena que, em sua essência, já era tensa. A trilha sonora do Masahiro Ikumi é outra obra-prima à parte, fazendo uso de simbolismos nas músicas chiclete do grupo musical da protagonista, e um crescendo gradual na trilha instrumental para transformar a atmosfera de certas cenas em algo muito mais inquietante e sufocante, até.

(Technically, “Perfect Blue” is not outdated, not at all, but it's not as timeless as Studio Ghibli's early work, for exemple. Satoshi Kon makes a great use of traditional animation to make several contrasts between the main character's two “personas”: while the scenes with singer Mima are vibrant and surrounded with red tones; the scenes with actress Mima have a more blue-ish, darker tone, which works perfectly, as blue and red are opposite colors in the chromatic circle. The use of color in the art direction is so essential to the plot, that its own title can have a symbolic significance. The editing is one of the main means the director uses to build the atmosphere, finding the right focus to make some scenes more disturbing. There are some very quick cuts in one particular scene, which I thought it was spectacular, adding much more tension to a scene that, in its essence, was already tense. Masahiro Ikumi's score is another particular masterpiece, making use of symbolisms in the bubblegum catchy songs by the protagonist's musical group, and a gradual crescendo in the instrumental score to transform the atmosphere of some scenes into something way more unsettling and suffocating, even.)



Resumindo, “Perfect Blue” não é só uma das melhores animações adultas que eu já vi, mas também um dos melhores suspenses psicológicos de todos os tempos. O diretor Satoshi Kon usa todos os meios possíveis para inserir o espectador com sucesso no corpo da protagonista, contando com um roteiro tenso e aspectos técnicos atmosféricos para fazer uma abordagem perturbadora e relevante a esse tipo de narrativa.

Nota: 9,5 de 10!!

É isso, pessoal! Espero que tenham gostado! Até a próxima,

João Pedro

(In a nutshell, “Perfect Blue” is not just one of the best adult animated films I've ever seen, but also one of the best psychological thrillers of all time. Director Satoshi Kon uses every mean he can to insert the viewer successfully into the protagonist's shoes, relying on a tense script and atmospheric technical aspects to make a disturbing and relevant approach to this type of narrative.

I give it a 9,5 out of 10!!

That's it, guys! I hope you liked it! See you next time,

João Pedro)



(P.S.: O filme está disponível no YouTube legendado tanto no áudio original quanto dublado em inglês. Deixarei os links respectivos aqui embaixo para vocês darem uma olhada!)

(P.S.: The film is entirely available on YouTube, with an English dub. I'll leave the link down below (the second one) for you to check it out!)





domingo, 19 de julho de 2020

Animações Diferentes - "As Bicicletas de Belleville": a introdução ao estilo único de Sylvain Chomet (Bilíngue)

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E aí, meus caros cinéfilos! Tudo bem com vocês? Estou de volta, para trazer a primeira parte de uma nova postagem especial aqui no blog! Com o final da nossa série sobre o trabalho de Christopher Nolan, decidi iniciar um especial sobre animações diferentes, fora do espectro dos grandes estúdios ocidentais. Vocês podem ter conhecido algumas; outras, talvez não; e meu propósito com essa postagem é reforçar a qualidade dessas animações, e para os que não conhecem, apresentá-las a vocês! Vamos começar com um clássico moderno da animação francesa, que apresenta um estilo de animação único e uma história divertidíssima. Então, sem mais delongas, vamos falar sobre “As Bicicletas de Belleville”. Vamos lá!

(What's up, my dear film buffs! How are you guys doing? I'm back, in order to bring the first part in a special post here in the blog. With the conclusion of our series of reviews on the work of Christopher Nolan, I decided to start a special post on different animated films, out of the great Western studios spectre. You might have heard of some of these; others, maybe not; and my objective with this post is to reinforce the quality of these animated films, and to those who don't know them, introduce them to you! Let's start off with a modern classic of French animation, which presents an unique style of animation and an extremely fun story. So, without further ado, let's talk about “The Triplets of Belleville”. Let's go!)



O filme conta a história de Champion, um jovem que, desde criança, é apaixonado por ciclismo. Em sua maioridade, depois de muito treinamento, ele recebe a oportunidade de percorrer uma etapa da Tour de France. De modo inesperado, Champion é sequestrado pela máfia francesa, imediatamente preocupando sua avó. Vendo nenhuma alternativa para um possível resgate, a idosa conta com o auxílio do cachorro da família e um trio de cantoras de vaudeville para resgatar o neto.

(The film tells the story of Champion, a young man who, since his childhood, loves cycling. At an older age, after lots of training, he gets the opportunity of racing in a stage of the Tour de France. Unexpectedly, Champion is kidnapped by the French mafia, which immediately worries his grandmother. Without a clear alternative of how to possibly rescue him, the elderly woman relies on the aid of the family dog and a trio of vaudeville singers in order to rescue her grandson.)



A primeira e única vez que vi esse filme foi por volta de 2007 ou 2008, quando meu irmão alugou o DVD em uma locadora (ah, bons tempos). Lembro que tinha gostado bastante, porque não tinha visto nada parecido com aquilo nos filmes que já tinha assistido. Agora, já crescido e com um sentido mais aguçado para ler possíveis referências e simbolismos, posso tranquilamente dizer que é uma das melhores animações de todos os tempos. É o primeiro filme dirigido pelo Sylvain Chomet, que, até agora, só dirigiu dois longas-metragens: este e “O Mágico”, baseado em um roteiro não-produzido do cineasta francês renomado Jacques Tati; que, por sua vez, é referenciado várias vezes em “As Bicicletas de Belleville”. Uma das maiores vantagens desse filme, que acaba por torná-lo mais acessível ao público geral, é o fato dele não possuir quase nenhum diálogo; permitindo que o espectador aprecie mais o visual da animação. Como um filme praticamente mudo, o diretor encontra maneiras de conectar a história com o público através das expressões dos personagens, que dizem mais que mil palavras; e dos detalhes visuais, que são realmente bem diferentes do que grandes estúdios como a Disney e a DreamWorks têm a oferecer. É uma história muito divertida, com um passo muito bem calculado. Os personagens são introduzidos ao espectador de maneira perfeita, já atraindo a atenção e a simpatia do público. Uma das melhores coisas sobre “As Bicicletas de Belleville”, sem dúvida, é o senso de humor, que fica ainda mais agradável sem diálogos. As piadas variam das mais simples, como aquelas clássicas de comédia pastelão, no estilo Charlie Chaplin; às mais absurdas, como alguém literalmente jogar uma granada de mão no mar para conseguir o jantar do dia. E todas essas piadas funcionam perfeitamente. Ao contrário do segundo filme de Chomet, que tem uma veia mais dramática; “Belleville” é constantemente engraçado, seja por causa dos personagens, das circunstâncias em que tais personagens se encontram, ou pela improbabilidade de algo que está acontecendo na tela acontecer na vida real. Mesmo sendo extremamente engraçado e divertido, é um filme bem adulto, com uma história bem madura, e alguns momentos que podem ser chocantes para crianças menores, tendo aí mais um diferencial, se comparado com os grandes estúdios de animação ocidentais. Mas algo que realmente me impressionou quando o vi novamente foram as críticas severas, sarcásticas e nem um pouco discretas ao “American way of life” (ou modo de vida Americano) contidas ao longo da trama. Tais críticas podem ser facilmente identificadas através das diferenças entre a vida que Champion e sua avó tinham no interior e a vida na cidade de Belleville, que, pela caracterização mostrada no filme, seria uma Nova York francesa. Pensem em todos os estereótipos possíveis de uma verdadeira cidade grande americana: porções de comida enormes; pessoas extremamente obesas; alto nível de poluição; pobreza; escoteiros insistentes... Esse tipo de subtexto abre os olhos do espectador para ver o filme sob uma perspectiva completamente nova, o que acaba por tornar a obra em algo muito mais profundo do que o esperado. Resumindo, “As Bicicletas de Belleville” tem um roteiro simples, divertido, e absurdamente engraçado que aborda subtextos surpreendentemente relevantes de uma forma nada discreta. E é por isso que esse filme deveria ter ganho o Oscar de Melhor Filme de Animação ao invés de “Procurando Nemo”. Pronto, falei.

(The first and only time I watched this movie was around 2007 or 2008, when my brother rented the DVD at a video rental store (ah, those were good days). I remember I liked it a lot, as I hadn't seen anything like it, comparing to the films I was familiar with. Now, all grown up and armed with a stronger sense of reading possible references and symbolisms, I can safely say it's one of the best animated films of all time. It is the first film directed by Sylvain Chomet, who only directed two feature-length films to this day: this one and “The Illusionist”, based on an unproduced script by renowned French filmmaker Jacques Tati; who, in turn, is frequently referenced throughout “The Triplets of Belleville”. One of the film's biggest advantages, which ends up making it more accessible to the general public, is the fact that it almost doesn't have any dialogue; allowing the viewer to appreciate the animation's visuals. As a practically silent film, the director finds some ways of connecting the story with the audience through the characters' expressions, which say a lot more than a thousand words; and through the visual details, which are quite different from what big studios like Disney or DreamWorks have to offer. It's a really fun story, with a well-calculated pace. The characters are perfectly introduced to the viewer, leading to an almost immediate attraction and sympathy from the viewer. One of the best things about “The Triplets of Belleville” is, without a doubt, its sense of humor, which is even more pleasant without any dialogue. The jokes vary from the most simple ones, like Chaplin-ish slapstick comedy; to an absurdist level, like someone literally throwing a hand-grenade into the sea to get that day's dinner. And all of those jokes land perfectly. Unlike Chomet's second film, which goes in a much more dramatic path; “Belleville” is frequently funny, making every kind of joke through its characters, the circumstances they're under, or just the plain impossibility of some events to happen in real life. Even though it's exquisitely funny, it's a pretty mature film, which tells a really adult story, and it has some moments that could be shocking for the little ones, which is yet another difference it contains, if compared to the large Western studios. But something that really caught me off-guard when I rewatched it were the severe, sarcastic, and not at all discrete criticisms made towards the “American way of life” contained throughout the plot. Those criticisms can be easily identifiable through the differences between Champion and his grandmother's life in the country and life in Belleville, which, by its characterization in the film, would be a French New York City. Think about every possible stereotype of a true American big city: the enormous portions of food; the extremely obese people; high pollution levels; poverty; insistent boy scouts... This kind of subtext opens the viewer's eyes to watch the film under a whole new perspective, which ends up making it something way deeper than expected. In a nutshell, “The Triplets of Belleville” has a simple, fun and absurdly funny script that deals with surprisingly relevant subtexts in an indiscreet way. And that is why this film should've won the Oscar for Best Animated Feature rather than “Finding Nemo”. There, I said it.)



Como o filme é praticamente mudo, não tem jeito de avaliar as performances vocais dos atores. O pouco diálogo que o filme possui serve para ambientar o espectador dentro da trama. Tirando isso, os personagens são desenvolvidos de forma impecavelmente compreensível sem nenhuma fala. A Madame Souza, a avó do protagonista, é uma das melhores personagens idosas que eu já vi em uma animação, indo completamente contra os estereótipos que esses filmes podem colocar em pessoas de idade avançada. Ela é persistente, focada, carinhosa, e já ganha a simpatia do espectador no primeiro momento em tela. O melhor alívio cômico fica com o cachorro, Bruno. Não vou dar nenhum spoiler aqui, mas a evolução dele ao longo da trama é simplesmente hilária. Não há uma cena com esse cachorro nela que não seja uma cena engraçada. Os mafiosos, os vilões do filme, são bem ameaçadores. Parte do porquê do filme ser mais adulto vem deles. Eles são violentos, e têm uma vibe arrepiante de Agente Smith (vilão de “Matrix”) no DNA deles. E, por último, mas não menos importante, temos o trio de cantoras de vaudeville conhecido como As Trigêmeas de Belleville. Aqui temos outro caso de evolução que é simplesmente impressionante. O espectador fica surpreso ao ver quanto tempo passou entre as aparições delas, e todo esse tempo é exposto em cada detalhe dos rostos delas. É algo brilhante e melancólico, até. Além disso, as três são absolutamente hilárias, sendo responsáveis por alguns dos melhores momentos do filme.

(As the film is practically silent, there's no way to evaluate the cast's vocal performances. The little dialogue it has is there to set the viewer inside the plot. Other than that, the characters are developed in a flawlessly comprehensible way without a single line of dialogue. Madame Souza, the main character's grandmother, is one of the best elderly characters I've ever seen in an animated film, and she goes completely against all the stereotypes that these types of films can place upon elderly people. She's persistent, focused, kind-hearted, and already wins the viewer's sympathy from the moment she appears on-screen. The best comic relief is definitely the dog, Bruno. I won't spoil anything here, but his evolution throughout the plot is simply hilarious. There isn't a single scene with this dog in it that isn't funny. The mafiosos, the film's villains, are really threatening. Part of why the film is more adult comes from them. They are violent, and have a spine-chilling Agent Smith vibe embedded in their DNA. And at last, but not least, we have the trio of vaudeville singers known as the Triplets of Belleville. Here, we have another evolution case that's simply impressive. The viewer is surprised to see how much time has passed between their appearances, and all this time is exposed in every detail on their faces. It's brilliant and even melancholic. Besides, the trio is absolutely hilarious, being responsible for some of the film's best moments.)



A qualidade técnica de “As Bicicletas de Belleville” é incomparável. Várias animações podem ser muito engraçadas e sem diálogo (“Shaun, O Carneiro: O Filme” consegue ser os dois), mas o visual é o maior diferencial entre o trabalho de Chomet e o dos grandes estúdios. É feita uma mistura entre uma animação tradicional extremamente bem detalhada, pouco uso de CGI que não tira o espectador do filme, e imagens de arquivo em uma ótima resolução. A cena inicial faz uma bela homenagem ao método “rubber hose”, que foi o primeiro estilo de animação estabelecido nos EUA, e serviu como base para o visual já icônico do game “Cuphead”. Vários estúdios, como o Studio Ghibli e a LAIKA, possuem características específicas que tornam o estilo de animação deles único. Igualmente, pode-se dizer que o trabalho de Sylvain Chomet também tem suas particularidades: uma vibe mais adulta, urbana, e até inesperadamente fantasiosa que fascina o espectador; personagens extremamente bem desenvolvidos sem nenhuma espécie de diálogo; uma paleta de cores vibrante; inspirações em cineastas renomados como Jacques Tati e Federico Fellini; entre muitas outras. A trilha sonora instrumental do Benoît Charest é sublime, uma verdadeira comemoração à música francesa. E a canção original indicada ao Oscar, “Belleville Rendez-vous”, composta por Charest e Chomet, é altamente viciante. Só para vocês terem um gostinho do estilo do diretor, aí está uma piada do sofá que ele dirigiu para “Os Simpsons”:

(The technical quality of “The Triplets of Belleville” is incomparable. Several animated films can be very funny and dialogue-free (“Shaun the Sheep Movie” is both), but the visuals are the biggest difference between Chomet's work and the big studios. Here, we have a mix of an extremely detailed traditional type of hand-drawn animation, a small use of CGI which doesn't distract the viewer from the plot, and archival footage in a good resolution. The opening scene is a beautiful homage to the “rubber hose” method, which was the first style of animation established in the US, and was the basis for the already iconic visuals of the game “Cuphead”. Several studios, such as Studio Ghibli and LAIKA, have specific characteristics that make their animation style unique. Equally, it can be said that Sylvain Chomet's work also has its peculiarities: a more mature, urban and unexpectedly fantastic vibe that draws the viewer's attention; extremely well developed characters without any kind of dialogue; a vibrant color palette; inspirations on the works of renowned filmmakers such as Jacques Tati and Federico Fellini; and much, much more. Benoît Charest's score is sublime; a true celebration of French music. And the Oscar-nominated original song, “Belleville Rendez-vous”, composed by Charest and Chomet, is highly addictive. Just for you to get a taste of the director's animation style, here is a couch gag he directed for “The Simpsons”:)



Resumindo, “As Bicicletas de Belleville” consolida o estilo único de animação de Sylvain Chomet. O diretor faz uso de um roteiro divertidíssimo; personagens bem desenvolvidos sem nenhuma necessidade de diálogo; e técnicas de animação extraordinariamente detalhadas para contar uma história hilária com subtextos surpreendentemente relevantes. Definitivamente deveria ter ganho o Oscar de Melhor Filme de Animação.

Nota: 10 de 10!!

É isso, pessoal! Espero que tenham gostado! Até a próxima,

João Pedro

P.S.: Este é um dos raros filmes que estão completamente disponíveis no YouTube. Infelizmente, a qualidade do vídeo deixa muito a desejar, mas se não houver nenhuma outra alternativa, segue o link:

(In a nutshell, “The Triplets of Belleville” consolidates Sylvain Chomet's unique style of animation. The director uses an extremely fun script; well-developed characters that don't need any dialogue; and extraordinarily detailed animation techniques to tell an hilarious story with surprisingly relevant subtexts. It definitely should've won the Oscar for Best Animated Feature.

I give it a 10 out of 10!!

That's it, guys! I hope you liked it! See you next time,

João Pedro

P.S.: This is one of those rare films fully available on YouTube. Unfortunately, the video's resolution isn't able to capture the many details the film has, but if there really isn't any other option, here's the link:)