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quarta-feira, 30 de setembro de 2020

Rindo Através da Dor: 3 obras para conhecer o trabalho brilhante de Bo Burnham (Bilíngue)

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E aí, meus caros cinéfilos! Tudo bem com vocês? Estou de volta, para fazer algumas indicações com o objetivo de apresentá-los à um dos melhores comediantes da atualidade. Com um tom irreverente e possivelmente controverso, o trabalho do sujeito em questão tem uma incrível profundidade emocional que não vi tantos comediantes serem capazes de transmitir. Então, sem mais delongas, vamos falar sobre o brilhante trabalho de Bo Burnham. Vamos lá!

(What's up, my dear film buffs! How are you guys doing? I'm back, in order to make some recommendations to introduce you to one of the greatest comedians of our time. With an irreverent and possibly controversial tone, this person's work has an amazing emotional depth that I didn't see many comedians being able to transmit. So, without further ado, let's talk about the work of Bo Burnham. Let's go!)



Para quem ainda não o conhece, Bo Burnham é um comediante, músico, ator, cineasta e poeta estadunidense. Ele começou sua carreira através do YouTube em março de 2006, através de músicas cômicas sobre sua vida, e sobre temas que eram bastante relevantes para a época em que os vídeos foram gravados. Em 2010, ele começou a gravar suas performances de stand-up, e fez turnês pelos EUA até 2016, quando Burnham decidiu se dedicar ao cinema. Suas performances e canções têm um tom tão irreverente, perverso e possivelmente controverso que alguém poderia pensar que ele era britânico. Seu trabalho lida com temas sensíveis como raça, sexualidade, religião e saúde mental, que são tratados de forma extremamente engraçada e surpreendentemente reflexiva. Na postagem de hoje, irei recomendar 3 trabalhos de Burnham para que vocês sejam introduzidos ao senso de humor dele: 2 especiais de stand-up (os quais são bem pesados, então tirem as crianças da sala quando forem assistir), e 1 filme (cujo senso de humor é bem mais acessível para um público mais jovem). Então, vamos começar!

(For those who still don't know him, Bo Burnham is an American comedian, musician, actor, filmmaker and poet. He started off his career through YouTube in March 2006, through comical songs about his life, and about themes that were particularly relevant to the time the videos were recorded. In 2010, he started taping his stand-up performances, and toured through the US until 2016, when Burnham decided to dedicate his work to the movies. His performances and songs have such an irreverent, wicked and possibly controversial tone that one might think he was British. His work deals with sensitive themes such as race, sexuality, religion and mental health, which are dealt with in an extremely funny and surprisingly thought-provoking way. In today's post, I'll recommend three pieces of Burnham's work, in order to introduce you to his sense of humor: 2 stand-up specials (which are quite explicit, so get the kids out of the room when you watch it), and 1 film (that has a more accessible sense of humor for a younger audience). So, without further ado, let's begin!)



  • what. (2013) – Especial de stand-up – Disponível no YouTube: https://www.youtube.com/watch?v=l0YHhQf0uGY&t=548s

    (what. (2013) – Stand-up special – Available on YouTube: https://www.youtube.com/watch?v=ejc5zic4q2A&t=583s)

Até algum tempo atrás, só tinha conhecido o trabalho de Burnham pelo seu único filme como diretor, o qual será mencionado aqui. Mas aí, comecei a ver alguns vídeos do YouTube mostrando que ele não só fazia stand-up, mas também era compositor. E pra mim, uma das melhores combinações entre mídias é entre humor e música. (Outro ótimo exemplo de comédia musical é o trio The Lonely Island, que se originou no programa de esquetes “Saturday Night Live.) Então, fiz uma pesquisa no YouTube para ver se tinha algum especial de stand-up completo dele. E o primeiro vídeo a aparecer foi “what.”. No seu segundo show gravado, somos apresentados à persona irreverente de Burnham através de músicas, comédia com adereços, piadas referentes à tópicos da atualidade, e até segmentos de mímica. Durante as partes típicas de stand-up, ele é absolutamente hilário. As piadas são afiadas, a personalidade dele é cativante. Mas são nas partes musicais que o verdadeiro gênio de Burnham se encontra. Em suas composições, Burnham explora e faz alegorias à obsessão das pessoas por tragédias; à tentativa dos usuários de redes sociais serem profundos em suas publicações; à fórmula constantemente repetida do mercado pop americano, e à sua própria saúde mental. É um trabalho brilhante, com um final surpreendentemente reflexivo.

(Until some time ago, I'd only known Burnham's work through his only film as director, which will be mentioned here. But then, I started watching some YouTube videos that showed that he didn't just do stand-up comedy, but he was also a songwriter. And for me, one of the best media combinations is between humor and music. (Another great example of musical comedy would be the trio The Lonely Island, which came together on the sketch show “Saturday Night Live”.) So, I searched YouTube for any of his complete stand-up specials. And the first video to pop up was “what.”. In his second taped routine, we are introduced to Burnham's irreverent persona through music, prop comedy, observational topical jokes, and even miming segments. During the typical stand-up bits, he's absolutely hilarious. The jokes are sharp, his personality is captivating. But it's during the musical bits that Burnham's true genius shows itself. In his songwriting, Burnham explores and makes references to people's obsession over tragedies; to social media users' attempt to be deep in their posts; to the constantly repetitive formula in the American pop music market, and to his own mental health. It's a piece of brilliant work, with a surprisingly poignant ending.)



  • BO BURNHAM: MAKE HAPPY (2016) – Especial de stand-up – Disponível na Netflix

    (BO BURNHAM: MAKE HAPPY (2016) – Stand-up special – Available on Netflix)

Para mim, esse é o melhor trabalho de Burnham como comediante. É um material ligeiramente mais leve do que os conteúdos expostos em “what.”, e faz um equilíbrio perfeito entre comédia e (pasmem) drama. As piadas, assim como em seu show anterior, são afiadas, relevantes e, claro, hilárias. Mas, novamente, a parte mais brilhante de “Make Happy” são as composições musicais de Burnham, que oferecem um tom mais realista à temas como: as expectativas que uma pessoa têm em respeito à pessoa “perfeita” para ela; a estrutura de músicas country dos tempos atuais; e o tom inspiracional presente em grande parte das canções pop americanas. Aí chegam os 10 minutos finais, a razão de “Make Happy” ser, literalmente, uma das melhores coisas que eu vi nessa quarentena. Nesse período de tempo, Burnham aborda sua própria saúde mental tanto por metáforas quanto pela clara expressão de que ele não está bem. Além de ficar se perguntando, “Ué, eu não vim aqui pra rir?”, o espectador não consegue evitar se sentir tocado pelos números finais desse especial de 2016, e refletir nessa afirmação: só porque alguém é engraçado, não quer dizer que essa pessoa é realmente feliz. Sendo uma completa coincidência ou não, este show foi sua performance final como comediante. E talvez foi até a melhor escolha para ele, pela terceira e última recomendação nessa lista.

(For me, this is Burnham's best work as a comedian. It's a slightly lighter material than the content exposed in “what.”, and it makes a perfect balance between comedy and (get ready) drama. The jokes, as in his previous show, are sharp, relevant, and, obviously, hilarious. But, once again, the most brilliant part of “Make Happy” are Burnham's composed songs, which offer a more realistic look at themes like: the expectations one might have on the “perfect” person for her; the structure of modern-day stadium country music; and the inspirational tone present in a large part of American pop songs. Then, the final 10 minutes arrive, the reason why “Make Happy” is, literally, one of the greatest things I've seen in this quarantine. In that short period of time, Burnham deals with his own mental health both by allegorizing it and by clearly stating that he isn't well. Besides wondering “Didn't I come here to laugh?”, the viewer can't help but feel touched by the final numbers in this 2016 special, and reflect on this statement: just because someone is funny, it doesn't mean that person's actually happy. As a complete coincidence or not, this show was his final performance as a comedian. And maybe it was the best choice for him, by the third and final recommendation on this list.)



  • OITAVA SÉRIE (2018) – Filme – Disponível para compra digital

    (EIGHTH GRADE (2018) – Film – Available for digital purchase)

Foi por meio de “Oitava Série” que ouvi falar do nome Bo Burnham, e por uma razão bem específica: quem me conhece sabe o quanto eu amo filmes coming-of-age (filmes sobre amadurecimento, e que envolvem crianças ou jovens tentando se encaixar). E você pode seguir dois caminhos como espectador: começar por esse filme e acabar se chocando com a irreverência de Burnham em seus especiais de stand-up, ou começar pela carreira de comediante e se impressionar pela sua sensível versatilidade como roteirista e diretor. O filme segue Kayla (interpretada brilhantemente por Elsie Fisher), uma menina prestes a terminar o Ensino Fundamental II, que tenta se encaixar na sociedade escolar em seus últimos dias de aula. Como dito anteriormente, o filme tem um senso de humor MUITO mais leve e acessível do que os especiais de Burnham, e com uma razão: o diretor e roteirista desejou fazer de “Oitava Série” algo que os próprios sujeitos retratados na trama (ou seja, estudantes prestes a começar o Ensino Médio) possam assistir e se identificar com as situações enfrentadas pelos personagens. E é um filme tão honesto que você acredita que foi escrito por um estudante de 14 anos do que um homem adulto beirando os 30. E só porque “Oitava Série” tem um senso de humor mais leve, não quer dizer que é completamente isento da profundidade social característica de Burnham. O filme explora de maneira perfeita a obsessão desses adolescentes pelas mídias sociais, e como essa obsessão afeta os relacionamentos delas com as pessoas ao seu redor. Surpreendendo ninguém, Burnham venceu o Prêmio do Sindicato dos Diretores de Melhor Direção Estreante e o Prêmio do Sindicato dos Roteiristas de Melhor Roteiro Original, assim como o Independent Spirit Award de Melhor Primeiro Roteiro. E se os filmes futuros de Burnham forem tão bons e honestos como esse, pode mandar mais que tá pouco! (Risos)

(It was through “Eighth Grade” that I first heard about Bo Burnham, and for a very specific reason: who knows me knows how much I love coming-of-age films (where we see kids growing up, and trying to fit in). And you can follow either of these two ways as a viewer: you can start with this film and end up being shocked by Burnham's irreverence in his stand-up specials, or you can start with his career as a comedian and be impressed by his sensitive versatility as a screenwriter and a director. The film follows Kayla (portrayed brilliantly by Elsie Fisher), a girl about to finish middle school, who tries to fit in the school social chain in her final days in class. As previously stated, the film has a WAY lighter and accessible sense of humor than Burnham's specials, and with a good reason: the writer-director wished to make “Eighth Grade” something the subjects portrayed (eighth graders, that is) can be able to watch and relate to the situations faced by the characters. And it is such an honest film that you believe it was written by an actual eighth grader than a grown man who's almost in his thirties. And just because “Eighth Grade” has a lighter sense of humor, doesn't mean it doesn't have Burnham's characteristic social depth. The film perfectly explores the obsession these teens have for social media, and how this obsession affects their relationships with the people around them. Surprising no one, Burnham won the Directors Guild of America Award for Best First Feature Directing and the Writers Guild of America Award for Best Original Screenplay, as well as the Independent Spirit Award for Best First Screenplay. And if his future films are as good and honest as this one, keep them coming, Mr. Burnham! (LOL))



É isso, pessoal! Espero que tenham gostado! Até a próxima,

João Pedro

(That's it, guys! I hope you liked it! See you next time,

João Pedro)


segunda-feira, 28 de setembro de 2020

Animações Diferentes - "Love, Death & Robots": ranqueando a antologia animada para adultos da Netflix (Bilíngue)

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E aí, meus caros cinéfilos! Tudo bem com vocês? Estou de volta, para (finalmente) dar continuidade à nossa postagem especial sobre animações diferentes! Na resenha de hoje, trago um ranking de uma antologia animada da Netflix para adultos que contém vários curtas com diversos e ecléticos métodos de animação, conceitos interessantes e altos níveis de violência tarantinesca. Então, sem mais delongas, vamos falar sobre “Love, Death & Robots”. Vamos lá!

(What's up, my dear film buffs! How are you guys doing? I'm back, in order to (finally) continue with our special post on different works of animation! In today's review, I intend to do a ranking of an adult animated anthology from Netflix that contains several short films with diverse and eclectic methods of animation, interesting concepts and high levels of Tarantino-esque violence. So, without further ado, let's talk about “Love, Death & Robots”. Let's go!)



Para quem não sabe, “Love, Death & Robots” é uma antologia (ou seja, cada episódio contém uma história diferente e desconectada da anterior) de animações para adultos criada para a Netflix por dois diretores: Tim Miller (diretor de “Deadpool) e David Fincher (diretor de “Clube da Luta”, “Se7en” e “Garota Exemplar”). Imaginado como um reboot do filme de animação “Heavy Metal”, de 1981, a série possui curtas dos mais variados estilos de animação, desde a tradicional até o rotoscoping (usado na série “Undone”, da Amazon Prime Video), cujas histórias contém pelo menos um dos termos no título do conjunto (traduzido como Amor, Morte e Robôs). Como são 18 curtas, e minhas postagens não costumam ser tão longas, vou tentar me reduzir à dedicar no máximo 5 linhas para falar de cada um, para que a leitura de vocês não venha a ficar cansativa. Então, sem mais delongas, vamos começar!

(For those who don't know, “Love, Death & Robots” is an adult animated anthology series (meaning that each episode has a different story that's disconnected from the previous one) created for Netflix by two directors: Tim Miller (who directed “Deadpool”) and David Fincher (who directed “Fight Club”, “Se7en” and “Gone Girl”). Imagined as a reboot of the animated 1981 film “Heavy Metal”, the series contains short films made in various styles of animation, since traditional animation to rotoscoping (used in the Amazon Prime Video series “Undone”), and their stories have at least one of the terms mentioned in the series' title. As there are 18 short films to analyze, and my posts aren't usually that long, I'll try to reduce myself and dedicate a maximum of 5 lines for each short, so that your read doesn't get tiring as it moves forward. So, without further ado, let's start!)



  1. ERA DO GELO, dirigido por Tim Miller – Baseado no conto de Michael Swanwick

    (ICE AGE, directed by Tim Miller – Based on the short story written by Michael Swanwick)

Já começo falando que nenhum desses curtas é ruim, no sentido mais óbvio da palavra, então esse seria um ranking do curta menos memorável para o mais memorável. E no final da lista, se encontra o único curta que desvia do conceito de ser completamente animado, com a maioria de seu tempo de duração sendo em live-action. Porém, o conceito é muito interessante, as atuações do Topher Grace e da Mary Elizabeth Winstead são ótimas, e as partes animadas são muito bem construídas.

(I'll start off by saying that none of these shorts is bad, in the most obvious sense of the word, so this would be a ranking from the least memorable to the most memorable short film. And at the end of the list, we find the only short that deviates from the concept of being fully animated, with most of its running time being dedicated to a live-action narrative. However, the concept is really interesting, Topher Grace and Mary Elizabeth Winstead are great, and the animated parts are really well-built.)



  1. A TESTEMUNHA, escrito e dirigido por Alberto Mielgo

    (THE WITNESS, written and directed by Alberto Mielgo)

Dói bastante colocar esse curta em uma posição tão baixa, porque tinha literalmente tudo para se tornar um clássico moderno. A animação é extraordinariamente frenética (sendo produzida por uma das principais mentes por trás das artes de “Homem-Aranha no Aranhaverso”), a história tem um teor complexo intrigante. O aspecto que rebaixa esse curta, no meu ponto de vista, é a enorme quantidade desnecessária de nudez, que chega à um ponto onde fica até desconfortável. Posso estar enganado, mas tenho quase certeza que esse curta de 10 minutos tem mais nudez do que um episódio de “Game of Thrones”.

(It hurts a lot to place this short in such a low position, as it had literally everything to become a modern classic. The animation is extraordinarily fast-paced (being produced by one of the main minds behind the art of “Spider-Man: Into the Spider-Verse”), the story has a complex and intriguing tone. The aspect that puts this short this down on the list, in my point of view, is the enormous, and unnecessary amount of nudity, which gets to a point where it's almost unbearable. I might be wrong, but I'm almost sure that this 10-minute or less short film has more nudity than a “Game of Thrones” episode.)



  1. PONTO CEGO, escrito e dirigido por Vitaly Shushko

    (BLINDSPOT, written and directed by Vitaly Shushko)

Como dito anteriormente, esse seria um ranking do curta menos memorável até o mais memorável. E esse curta, mesmo sendo extremamente divertido e gloriosamente violento, não chega a ser tão marcante como alguns outros que aparecerão ao decorrer dessa postagem. A história é bem rápida, os personagens são bem carismáticos, e o curta como um todo te dá a impressão de você estar vendo uma porção cinemática de um video-game. Uma ótima adição à uma antologia bem consistente.

(As previously said, this would be a ranking from the least memorable to the most memorable short. And this one, even though it's extremely fun and gloriously violent, isn't as defining as some of the others we'll analyze in this post. The story is really fast-paced, the characters are really charismatic, and the short as a whole makes you feel like you're watching a cinematic from a videogame. A great addition to a pretty consistent anthology.)



  1. O LIXÃO, dirigido por Javier Recio Garcia – Baseado no conto de Joe Lansdale

    (THE DUMP, directed by Javier Recio Garcia – Based on the short story written by Joe Lansdale)

Pode-se dizer que esse seria um dos curtas mais “otimistas” presentes nessa antologia. É uma história bem contida, com um protagonista bem-desenvolvido, e até uma possível crítica social debaixo da superfície divertida e violenta do curta. A animação é muito bem feita, com um CGI bem estilizado que combina perfeitamente com o conceito proposto pelos diretores ao criar “Love, Death & Robots”.

(It can be said that this would be one of the most “optimistic” short films in this anthology. It's a pretty contained story, with a well developed main character, and even some likely social criticism below its fun and gory surface. The animation is very well-done, with a really stylized CGI that perfectly fits the concept proposed by Tim Miller and David Fincher when creating “Love, Death & Robots”.)



  1. METAMORFOS, dirigido por Gabriele Pennacchioli – Baseado no conto de Marko Kloos

    (SHAPE-SHIFTERS, directed by Gabriele Pennacchioli – Based on the short story written by Marko Kloos)

Seria uma grata surpresa se esse curta não tivesse revelado a sua reviravolta na thumbnail dele na Netflix. Eu fiquei positivamente impressionado com a maneira que os roteiristas usaram para trazer uma nova perspectiva em uma mitologia já conhecida. Os métodos de animação são bem realistas, e as partes “nojentas” são um dos melhores exemplos de horror corporal que eu já vi, sendo muito parecidos com algumas sequências nos filmes de David Cronenberg, que dirigiu “A Mosca”.

(It would've been a pleasant surprise if this short didn't reveal its major twist in its Netflix thumbnail. I was positively impressed with the way the screenwriters used to bring a new perspective on an already-known mythology. The animation methods are pretty realistic, and the “disgusting” parts are some of the best examples of body horror I've ever seen, being very much alike some sequences in films directed by David Cronenberg, who brought us “The Fly”.)



  1. 13, NÚMERO DA SORTE, dirigido por Jerome Chen – Baseado no conto de Marko Kloos

    (LUCKY 13, directed by Jerome Chen – Based on the short story written by Marko Kloos)

Não sei se é uma completa coincidência que o curta número 13, que tem o número 13 no título, ocupa a décima-terceira posição nessa lista. Mas mesmo assim, tem uma história cativante, alguns dos métodos de animação mais realistas da antologia como um todo, e cenas de ação frenéticas e cheias de energia que deixarão o espectador com os olhos vidrados na tela até o seu tempo de duração chegar ao fim.

(I don't know if it's a complete coincidence that the 13th short, which has the number 13 in its title, occupies the 13th position in this list. But even so, it has a captivating story, some of the most realistic animation methods in the anthology as a whole, and frenetic, energy-filled action scenes that will leave the viewer's eyes glued to the screen until its running time eventually comes to a close.)



  1. AJUDINHA, dirigido por Jon Yeo – Baseado no conto de Claudine Griggs

    (HELPING HAND, directed by Jon Yeo – Based on the short story written by Claudine Griggs)

A melhor maneira de descrever esse curta seria dizer que é uma mistura entre “127 Horas” e “Gravidade”. Mesmo sendo breve, o enredo carrega bastante tensão, com cenas que podem ser até difíceis de assistir, dependendo da sensibilidade do espectador. O final desse curta é um dos mais ironicamente pesados presentes na antologia, e eu acho que o título nacional foi mal traduzido, levando em conta os acontecimentos do enredo.

(The best way to describe this short is to say it's a mix between “127 Hours” and “Gravity”. Even though it's brief, the plot packs an enormous amount of tension, with scenes that may be a bit hard to watch, depending on the viewer's sensibility. This short's ending is one of the most ironically dark in the anthology, and I seriously think the Brazilian title for it (A Little Help) was mistranslated, when it comes to the plot's unraveling.)



  1. PARA ALÉM DA FENDA DE ÁQUILA, dirigido por Léon Bérelle, Dominique Boidin, Rémi Kozyra e Maxime Luère – Baseado no conto de Alastair Reynolds

    (BEYOND THE AQUILA RIFT, directed by Léon Bérelle, Dominique Boidin, Rémi Kozyra and Maxime Luère – Based on the short story written by Alastair Reynolds)

Um dos principais curtas da antologia promovidos pela Netflix, “Para Além da Fenda de Áquila” chama a atenção do espectador. Seja pela aparência fotorrealista dos personagens, pela atmosfera de ficção-científica da história, pela explícita cena de sexo entre os protagonistas em um ponto do curta, ou pela chocante e inesperada reviravolta no final. De um jeito ou de outro, esse curta em particular vai ficar na cabeça do espectador por um bom tempo.

(One of the anthology's most promoted shorts by Netflix, “Beyond the Aquila Rift” literally attracts the viewer's attention. Whether it's because of the characters' photo-realistic looks, or the sci-fi atmosphere present in the story, or the explicit sex scene between the protagonists at one point in its running time, or for its shocking and unexpected twist by its conclusion. One way or another, this particular short will remain in the viewer's head for a good amount of time.)



  1. A GUERRA SECRETA, dirigido por István Zorkóczy – Baseado no conto de David W. Amendola

    (THE SECRET WAR, directed by István Zorkóczy – Based on the short story written by David W. Amendola)

Eu realmente não esperava ter gostado tanto desse curta. A melhor maneira de descrevê-lo seria dizer que o Michael Bay tivesse dirigido um filme da Bad Robot, produtora de J.J. Abrams. É altamente violento; o método de animação, como em muitos dos curtas mencionados acima, é bem realista; e a história é surpreendentemente cativante e agridoce, sendo muito bem desenvolvida ao longo de seu robusto tempo de duração.

(I really didn't expect to like this short this much. The best way to describe it is to say that Michael Bay had directed a film produced by Bad Robot, J.J. Abrams's production company. It's highly violent; the animation methods, as in many of the shorts mentioned above, are really realistic; and the story is surprisingly moving and bittersweet, being very well-developed throughout its robust running time.)



  1. SUGADOR DE ALMAS, dirigido por Owen Sullivan – Baseado no conto de Kirsten Cross

    (SUCKER OF SOULS, directed by Owen Sullivan – Based on the short story written by Kirsten Cross)

A partir desse curta, se encontram os trabalhos que eu considero obras-primas. Um dos únicos curtas animados de forma tradicional, “Sugador de Almas” faz uma mistura improvável entre “Indiana Jones” e “Castlevania”, e acaba funcionando perfeitamente. É um curta muito divertido, extremamente violento e hilário, cujo final deixa um suspense maldito para o que talvez acontecerá depois. Maravilhoso.

(From this short, we find the works I consider to be masterpieces. As one of the only traditionally animated short films, “Sucker of Souls” makes an unlikely mix between “Indiana Jones” and “Castlevania”, and it ends up working perfectly. It's a really fun, extremely violent and hilarious short film, and the ending leaves one hell of a cliffhanger for what might happen next for this band of characters. Just wonderful.)



  1. NOITE DE PESCARIA, dirigido por Damian Nenow – Baseado no conto de Joe Lansdale

    (FISH NIGHT, directed by Damian Nenow – Based on the short story written by Joe Lansdale)

Este, para mim, é um dos curtas mais fascinantes da antologia como um todo. Feito com um dos métodos mais subestimados de animação, o rotoscoping, a história de “Noite de Pescaria” é essencialmente aberta à interpretações. Os dois protagonistas são muito bem desenvolvidos, o visual é um dos mais lindos presentes na série, e o emblemático final abre uma quantidade enorme de espaço para discussões.

(This one, for me, is one of the most fascinating short films in the anthology as a whole. Made with one of the most underrated methods of animation, rotoscoping, the story of “Fish Night” is essentially open to interpretations. The two protagonists are really well-developed, the visuals are some of the most gorgeous in the series, and the ambiguous ending opens an enormous amount of space for discussion.)



  1. OS TRÊS ROBÔS, dirigido por Victor Maldonado e Alfredo Torres – Baseado no conto de John Scalzi

    (THREE ROBOTS, directed by Victor Maldonado and Alfredo Torres – Based on the short story written by John Scalzi)

Pode-se dizer que “Os Três Robôs” foi meio que o carro-chefe de “Love, Death & Robots”, e com razão. O espectador se diverte bastante ao ver os personagens-título explorarem uma cidade completamente destruída, e refletirem sobre os hábitos dos humanos que viveram lá no passado. É um dos curtas mais engraçados presentes na antologia, o CGI é perfeito, e a reviravolta no final com certeza deixará o espectador boquiaberto.

(It can be said that “Three Robots” was kind of the short that Netflix used to draw people to watch “Love, Death & Robots”, and you can see it was the right thing to do. The viewer has a lot of fun seeing the title characters explore a completely wrecked city and reflect on the habits of the humans that lived there before. It's one of the funniest shorts in the anthology, the CGI is spot-on, and the twist at the ending will certainly leave the viewer's jaw dropped.)



  1. ZIMA BLUE, dirigido por Robert Valley – Baseado no conto de Alastair Reynolds

    (ZIMA BLUE, directed by Robert Valley – Based on the short story written by Alastair Reynolds)

Eu amo esse curta por diversas razões. Primeiro, ele combina perfeitamente os três termos presentes no título da antologia (amor, morte e robôs). Segundo, o método de animação usado dá um tom retrofuturista que encaixa direitinho no conceito da história. E terceiro, ele lida com temas filosóficos profundos, como existencialismo, a essência e o propósito da vida de uma pessoa. Ao contrário de muitos curtas presentes aqui, “Zima Blue” coloca o espectador para pensar, e por um ótimo motivo.

(I love this short for several reasons. First, it is a perfect combination of the three terms present in the anthology's title (love, death and robots). Second, the animation method that's used here gives a retrofuturistic tone that fits into the story's concept just right. And third, it deals with deep philosophical themes, such as existentialism, the essence and purpose of a person's life. Unlike many of the shorts in “Love, Death & Robots”, “Zima Blue” makes the viewer think, and for a great reason.)



  1. PROTEÇÃO CONTRA ALIENÍGENAS, dirigido por Franck Balson – Baseado no conto de Steven Lewis

    (SUITS, directed by Franck Balson – Based on the short story written by Steven Lewis)

Através da alta quantidade de cenas de ação e violência e dos métodos de animação presentes nesse curta, o mesmo pensamento possivelmente surgirá na cabeça de muitos espectadores: “Proteção contra Alienígenas” daria um ótimo videogame. Mas além disso, temos personagens bem estruturados, e uma surpreendente crítica social ao final de seu tempo de duração, o que dá à um curta aparentemente fantasioso uma profundidade bem realista.

(Because of its high quantity of action and violence scenes and the animation methods displayed in this short, the same thought will possibly come up in many viewers' heads: “Suits” would make one hell of a videogame. But besides that, we have well-structured characters, and a surprising social criticism by the end of its running time, which ends up giving an apparently fantasy-fictional short a really realistic depth.)



  1. QUANDO O IOGURTE ASSUMIU O CONTROLE, dirigido por Victor Maldonado e Alfredo Torres – Baseado no conto de John Scalzi

    (WHEN THE YOGURT TOOK OVER, directed by Victor Maldonado and Alfredo Torres – Based on the short story by John Scalzi)

O teor absurdo presente na premissa desse curta foi o que fez dele um dos meus favoritos da série. Uma tigela de iogurte ganha consciência e assume a presidência dos EUA, resultando em um dos cenários mais distópicos, trágicos e sombrios para toda a humanidade. A crítica sociopolítica presente em “Quando o Iogurte Assumiu o Controle” faz um contraste perfeito com a animação aparentemente “fofa”, o que faz desse curta um dos mais reflexivos, sombrios e relevantes presentes em “Love, Death & Robots”.

(The absurdity present in this short film's premise was what made it one of my favorites in the series. A bowl of yogurt gains conscience and takes over the US presidency, resulting in one of the most dystopian, tragic and dark scenarios for all of mankind. The sociopolitical criticism within “When the Yogurt Took Over” makes a perfect contrast with the apparently “cute” animation, which makes this short one of the most thought-provoking, dark and relevant ones in “Love, Death & Robots”.)



  1. A VANTAGEM DE SONNIE, dirigido por Dave Wilson – Baseado no conto de Peter F. Hamilton

    (SONNIE'S EDGE, directed by Dave Wilson – Based on the short story written by Peter F. Hamilton)

Que curta incrível. Ambientado num cenário distópico, “A Vantagem de Sonnie” é uma mistura perfeita entre “Gigantes de Aço” e “Godzilla”. Absurdamente violento, visualmente vibrante, e com uma história que prioriza o empoderamento feminino (e olha que o conto foi escrito por um homem), o impacto de “A Vantagem de Sonnie” irá permanecer na cabeça do espectador por muito tempo após sua chocante reviravolta no final. Simplesmente espetacular.

(What an amazing short film. Set in a dystopian scenario, “Sonnie's Edge” is a perfect mix between “Real Steel” and “Godzilla”. Absurdly violent, visually astonishing, and with a story that prioritizes female empowerment (and the short story was written by a man), the impact of “Sonnie's Edge” will remain in the viewer's mind for a long time after its shocking plot twist near by its conclusion. Simply spectacular.)



  1. HISTÓRIAS ALTERNATIVAS, dirigido por Victor Maldonado e Alfredo Torres – Baseado no conto de John Scalzi

    (ALTERNATE HISTORIES, directed by Victor Maldonado and Alfredo Torres – Based on the short story written by John Scalzi)

Um dos curtas mais subestimados da antologia, a premissa de “Histórias Alternativas” é simples: apresenta resultados diferentes para eventos históricos. No caso desse curta, a narrativa apresenta 6 alternativas para a morte de Adolf Hitler, e é cada uma mais bizarra do que a outra. Viagem no tempo, blocos gigantes de gelatina, surra de judeus, e cada uma resulta em realidades alternativas para o destino da história. Absurdamente divertido, esse curta poderia facilmente dar origem à uma série onde vários eventos históricos têm alternativas no desenrolar deles. E eu assistiria a cada episódio.

(One of the most underrated short films in the anthology, the premise of “Alternate Histories” is simple: it presents different results for historic events. In this short's case, the narrative presents 6 alternatives for Adolf Hitler's death, and it gets more and more bizarre as it moves forward. Time travel, giant blocks of gelatin, beat to death by Jewish people, and each one results in alternative realities for History's destiny. Absurdly fun, this short could easily originate a spin-off show where several historic events have alternative outcomes as they unravel. And I would watch every episode of it.)



  1. BOA CAÇADA, dirigido por Oliver Thomas – Baseado no conto de Ken Liu

    (GOOD HUNTING, directed by Oliver Thomas – Based on the short story written by Ken Liu)

Esse curta, sem sombra de dúvida, é o mais completo de “Love, Death & Robots”. Faz uma combinação perfeita entre amor, morte e robôs; tem os personagens mais bem desenvolvidos de qualquer curta presente na antologia; e é o que mais parece ter um enredo de longa-metragem. Por mim, esse conto poderia ser esticado em um baita-longa metragem, explorando o que poderia ter acontecido entre os dois pontos temporais pelos quais o curta transita, e aprofundando ainda mais a relação entre os dois protagonistas, que é absolutamente cativante. Um tremendo trabalho de animação, desenvolvimento de personagens, e de temas interessantes, como vingança e redenção.

(This short film, without the shadow of a doubt, is the most complete one in “Love, Death & Robots”. It makes a perfect mix between love, death and robots; it has the most well-developed characters in any short in this anthology; and it's the one that is most similar to a feature-length plot. For me, this short film could be stretched into one hell of a feature film, exploring what might have happened between the two time points that the short travels through, and giving even more depth to the relationship between the two main characters, which is absolutely captivating. A tremendous work of animation, character development, and interesting themes, such as revenge and redemption.)



É isso, pessoal! Espero que tenham gostado! Até a próxima,

João Pedro

(That's it, guys! I hope you liked it! See you next time,

João Pedro)

quinta-feira, 24 de setembro de 2020

"Enola Holmes": um sopro de ar fresco em Baker Street (Bilíngue)

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E aí, meus caros cinéfilos! Tudo bem com vocês? Estou de volta, para trazer a resenha da mais nova produção original da Netflix. Uma subversão um pouco rasa mas criativa na mitologia criada por Sir Arthur Conan Doyle, o filme em questão é impulsionado pela contagiante personalidade de sua protagonista, resultando em uma fonte de sagacidade, humor e bastante diversão para toda a família. Então, sem mais delongas, vamos falar sobre “Enola Holmes”. Vamos lá!

(What's up, my dear film buffs! How are you guys doing? I'm back, in order to review the most recent original Netflix production. A creative yet a bit shallow subversion on the mythology created by Sir Arthur Conan Doyle, the film I'm about to review is bolstered by its protagonist's contagious personality, resulting in a source of wittiness, humor and plenty of fun for the whole family. So, without further ado, let's talk about “Enola Holmes”. Let's go!)



Baseado no primeiro livro da série de mesmo nome, escrita por Nancy Springer, o filme acompanha Enola (Millie Bobby Brown), a rebelde irmã caçula do famoso detetive Sherlock Holmes (Henry Cavill). Ao descobrir que sua mãe (Helena Bonham Carter) está desaparecida, Enola parte em uma jornada para encontrá-la, e acaba cruzando caminhos com um jovem marquês (Louis Partridge) envolvido em uma perigosa conspiração.

(Based on the first book of the series of the same name, written by Nancy Springer, the film follows Enola (Millie Bobby Brown), the rebellious youngest sibling of famous detective Sherlock Holmes (Henry Cavill). When finding out that her mother (Helena Bonham Carter) is missing, Enola sets off on a journey to find her, and ends up crossing paths with a young marquess (Louis Partridge) involved in a dangerous conspiracy.)



Ao ouvir falar que esse filme seria feito, fiquei me perguntando se uma história contada em Baker Street sob o ponto de vista de alguém sem ser o Sherlock ou o Watson daria certo. E ainda, tendo como base algo que nem foi escrito pelo Sir Arthur Conan Doyle, autor original das histórias do detetive. Mas aí, fiquei sabendo das pessoas envolvidas no projeto. Harry Bradbeer (diretor de “Fleabag”) na direção, Jack Thorne (roteirista de “Harry Potter e a Criança Amaldiçoada”, “His Dark Materials” e “Extraordinário”) no roteiro, e grandes nomes britânicos como Millie Bobby Brown, Henry Cavill, Sam Claflin, Helena Bonham Carter, Fiona Shaw e Frances de la Tour no elenco. Quando o marketing começou, minhas expectativas foram aumentando cada vez mais, já com uma mentalidade de que esse não vai ser um filme cotado pra Oscar. “Enola Holmes”, ao contrário de filmes como “Destacamento Blood”, “Estou Pensando em Acabar com Tudo” e “O Diabo de Cada Dia”, chegou ao catálogo da Netflix com um único propósito: puro e autêntico entretenimento. E nesse aspecto, o filme de Bradbeer mostrou a que veio. Eu gostei bastante do roteiro de Thorne, cujo objetivo principal é construir uma identidade própria para sua protagonista, longe da sombra do irmão famoso. O roteirista consegue fazer isso através de frequentes quebras da quarta parede (que, para quem não sabe, é aquele artifício onde o personagem interage com o espectador olhando diretamente para a câmera, o que é um tremendo easter-egg para os fãs de “Fleabag”, também dirigida por Bradbeer), e de flashbacks explorando a dinâmica de Enola com sua mãe, a qual é o fio condutor emocional do filme. A personagem-título tem uma personalidade bem contagiante, e isso acontece na maior parte graças ao enorme carisma de Millie Bobby Brown, mas Thorne consegue fazer o espectador se importar e se investir emocionalmente nela, o que já é um tremendo ponto forte. A história em si não é cheia de mistério nem possui tantas reviravoltas como alguém esperaria de um clássico enredo de Sherlock Holmes, mas o roteiro guarda algumas surpresas bem interessantes que deixarão o espectador boquiaberto. Uma das melhores coisas que o roteirista consegue fazer é dar à Enola uma certa humanidade. Deixa eu explicar isso melhor: na adaptação do trabalho de Doyle para TV estrelando Benedict Cumberbatch como o personagem-título, o Sherlock é interpretado como alguém que raramente comete um erro, o que também acontece aqui com a versão do detetive interpretada por Henry Cavill. No caso da Enola, vemos ela cometendo vários erros, seja através de deduções ou de cenas de luta, o que acaba por dar à protagonista um senso maior de humanidade, ao contrário da aparente invencibilidade do irmão mais velho. E isso pode ajudar o espectador a desviar a atenção dos irmãos mais velhos e direcioná-la à personagem-título, o que é muito bom. Outro aspecto bem interessante do roteiro é a ambientação. Ao invés de não inserir nenhum subtexto que possa dar ao enredo alguma profundidade, Thorne ambienta sua história no início do séc. XX, durante o auge do movimento sufragista no Reino Unido, cujo propósito era conseguir o direito ao voto para as mulheres. E esse contexto sociopolítico combina perfeitamente com o tom de empoderamento que o filme deseja dar à protagonista. Resumindo, mesmo que seja um pouco raso no quesito mistério, o roteiro de Thorne é divertido e envolvente, representando um sopro de ar fresco na mitologia de Baker Street, e o início de uma franquia em potencial para a Netflix.

(When I heard that this film was going to be made, I was left wondering if a story told in Baker Street under the point of view of anyone else rather than Sherlock or Watson would work. And based on material that wasn't written by Sir Arthur Conan Doyle, the original author of the detective's stories. But then, I heard about who was involved in it. Harry Bradbeer (director of “Fleabag) directing, Jack Thorne (screenplay and theatre writer known for “Harry Potter and the Cursed Child”, “His Dark Materials” and “Wonder”) penning the screenplay, and great British names like Millie Bobby Brown, Henry Cavill, Sam Claflin, Helena Bonham Carter, Fiona Shaw and Frances de la Tour in its cast. When the marketing campaign started, my expectations just kept getting higher, already thinking that this isn't going to be an Oscar-directed flick. “Enola Holmes”, unlike films like “Da 5 Bloods”, “I'm Thinking of Ending Things” and “The Devil All the Time”, arrived at the Netflix catalog with one single purpose: pure and unadulterated entertainment. And in that aspect, Bradbeer's film delivered. I really enjoyed Thorne's screenplay, whose main objective is building a proper identity for its protagonist, away from her famous brother's shadow. The screenwriter manages to do this through frequent fourth-wall breaks (which, for those who don't know, is that device where the character interacts with the audience by looking directly at the camera, which is one hell of an easter-egg for the fans of “Fleabag”, also directed by Bradbeer), and flashbacks exploring the dynamic between Enola and her mother, which is the emotional conductive force of the film. The title character has a contagious personality, which mostly happens due to Millie Bobby Brown's enormous charisma, but Thorne manages to make the viewer care and emotionally invest in her, which is already something great. The story itself isn't filled with mystery or plot twists as one would expect from a classic Sherlock Holmes plot, but the screenplay stores some interesting surprises that could leave the viewer's jaw dropped. One of the best things that the screenwriter manages to do is giving Enola a humanity of sorts. Let me explain this better: in the TV adaptation of Doyle's work, starring Benedict Cumberbatch as the title character, Sherlock is portrayed as someone that rarely makes a mistake, which also happens here with Henry Cavill's version of the detective. In Enola's case, we see her make several mistakes, whether it's on a deduction or during a fight scene, which ends up giving her a bigger sense of humanity, unlike her older brother's apparent invincibility. And that may help the viewer to direct their eyes to her rather than paying attention to her older brothers, which is really good. Another interesting aspect about the screenplay is the setting. Rather than not inserting some subtext that may give the story some depth, Thorne sets his story in the early 20th century, during the peak of the sufragette movement in the UK, whose purpose was to get women the right to vote. And that sociopolitical context perfectly fits the tone of empowerment the film wants to give its protagonist. In a nutshell, even though it's a little shallow on the mystery department, Thorne's script is fun and involving, representing a breath of fresh air to the Baker Street mythology, and the beginning of a potential franchise for Netflix.)



A quantidade de talento no elenco desse filme é quase exorbitante. Pra começar, temos o carisma inegável de Millie Bobby Brown como a personagem-título. A Enola é absolutamente o contrário da Eleven de “Stranger Things”: ao invés de ser expressiva somente com os olhos, Enola é bastante comunicativa (e até demais, o que é uma vantagem). Mas há alguns aspectos presentes nas personalidades das duas personagens: ambas são rebeldes, lutadoras e persistentes. E Brown ainda consegue cativar o espectador apenas com uma expressão facial, através das quebras da quarta parede mencionadas anteriormente. Eu gostei bastante do contraste que claramente há entre o Sherlock do Henry Cavill e o Mycroft do Sam Claflin: enquanto Sherlock é flexível a respeito da educação e personalidade da irmã, Mycroft é absolutamente contra qualquer tipo de pensamento que não seja a ideologia dominante, o que faz dele um “vilão” até um pouco forçado, por assim dizer. A Helena Bonham Carter está em cena por muito pouco tempo, mas a dinâmica da personagem dela com Enola é bem cativante. Eu adorei a Fiona Shaw nesse filme, onde ela interpreta um alívio cômico misturado com antagonista secundário, o que acaba rendendo muitas risadas. Outros destaques incluem Adeel Akhtar (que interpreta o famoso Inspetor Lestrade), Burn Gorman (interpretando um vilão ameaçador), e Louis Partridge (que possui uma boa dinâmica com Brown).

(The amount of talent in this film's cast is almost overflowing. For starters, we have the undeniable charisma of Millie Bobby Brown as the title character. Enola is absolutely the opposite of Eleven from “Stranger Things”: rather than just expressing herself through her eyes, Enola is really communicative (too much, really, which is an advantage). But there are some aspects that are present in both characters' personalities: both of them are rebellious, fighters, and persistent. And Brown still manages to captivate the viewer from one facial expression, through the aforementioned fourth-wall breaks. I really liked the clear contrast between Henry Cavill's Sherlock and Sam Claflin's Mycroft: while Sherlock is flexible regarding his sister's education and personality, Mycroft is absolutely against every kind of thought that isn't the dominant ideology, which makes him a kind of forced “villain”, so to speak. Helena Bonham Carter is onscreen for a small amount of time, but her character's dynamics with Enola is really captivating. I simply loved Fiona Shaw in this film, where she portrays a mix between comic relief and secondary antagonist, which ends up in a lot of laughter. Other highlights include Adeel Akhtar (who portrays the famous Inspector Lestrade), Burn Gorman (playing a threatening villain), and Louis Partridge (who shares a good dynamic with Brown).)



E por último, mas não menos importante, temos os aspectos técnicos, onde se encontram alguns dos pontos mais fortes de “Enola Holmes”. Eu achei bem original o fato da fotografia se concentrar mais no interior da Inglaterra do que em Londres em si, o que acaba por diferenciar o estilo visual do longa, comparando com adaptações do trabalho de Doyle, que têm um caráter mais urbano. A direção de arte é fantástica, da recriação da Londres do início do séc. XX aos castelos e mansões nos quais a protagonista se encontra ao longo do filme. O design de figurino é espetacular, sendo exatamente o que esperávamos de uma adaptação de Sherlock Holmes ambientada na época em que Doyle originou o personagem. A montagem é muito bem feita, transitando entre a jornada de Enola e os flashbacks com perfeição, o que colabora para um amadurecimento cada vez mais evidente da protagonista. Assim como em várias adaptações de Holmes, há sequências onde o raciocínio do detetive é mostrado, e a edição é impecável nesses momentos. Há uma cena de luta sensacional que é mais eficiente graças à montagem, através de um espelhamento entre duas cenas misturadas. Há um uso de CGI em duas cenas aqui, mas não chega a poluir o filme. E a trilha sonora do Daniel Pemberton é bem parecida com o que o David Arnold e o Michael Price fizeram para a adaptação da BBC do trabalho de Doyle, ambientada nos tempos atuais.

(And at last, but not least, we have the technical aspects, where we find some of “Enola Holmes”'s strongest forces. I thought that the fact the cinematography focuses more on the countryside of England rather than London itself to be quite original, which ends up differing it from adaptations of Doyle's work, which have a more urban feel to it. The art direction is fantastic, from the recreation of early 20th-century London to the castles and mansions the protagonist finds herself in throughout the film. The costume design is spectacular, being exactly what we expected from a Sherlock Holmes adaptation set during the time Doyle created the character. The editing is very well done, transitioning between Enola's journey and the flashbacks with perfection, which collaborates for a more evident growth from the protagonist. As in many Holmes adaptations, there are sequences where the detective's train of thought is shown, and the editing is flawless in those moments. There is an astounding fight scene here which is more efficient thanks to the editing, through a mirroring between two scenes put together. There's a use of CGI in two scenes here, but it doesn't pollute the film. And Daniel Pemberton's score is much alike what David Arnold and Michael Price did for the BBC adaptation of Doyle's work, set in modern-day times.)



Resumindo, “Enola Holmes” é um sopro de ar fresco na mitologia de Baker Street. Pode até ser um pouco raso no quesito mistério, mas graças à sagacidade do roteiro, o carisma do elenco, e os incríveis aspectos técnicos, Harry Bradbeer e sua equipe conseguem fazer o espectador desejar por mais ao final do filme. NETFLIX, SIGA EM FRENTE COM ESSA FRANQUIA, POR FAVOR.

Nota: 9,0 de 10!!

É isso, pessoal! Espero que tenham gostado! Até a próxima,

João Pedro

(In a nutshell, “Enola Holmes” is a breath of fresh air in the Baker Street mythology. It might be a bit shallow in the mystery department, but thanks to the screenplay's wittiness, the cast's charisma, and the incredible technical aspects, Harry Bradbeer and his team manage to make the viewer wish for more by the end of the film. NETFLIX, MOVE FORWARD WITH THIS FRANCHISE, PLEASE.

I give it a 9,0 out of 10!!

That's it, guys! I hope you liked it! See you next time,

João Pedro)


segunda-feira, 21 de setembro de 2020

"Utopia" (UK): uma série original, atual, aterrorizante e ousada (Bilíngue)

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E aí, meus caros cinéfilos! Tudo bem com vocês? Estou de volta, para falar de uma série bem peculiar. Inspiração para a futura adaptação americana da Amazon Prime Video (disponível a partir do dia 25), a série em questão é original, louca, absurdamente engajante e estranhamente realista, se conectando de maneiras impressionantes com a realidade em que vivemos hoje. Então, sem mais delongas, vamos falar sobre a versão britânica de “Utopia”. Vamos lá!

(What's up, my dear film buffs! How are you guys doing? I'm back, in order to talk about a TV show that's quite peculiar. The inspiration for the upcoming American adaptation from Amazon Prime Video (available on September 25th), the show I'm about to analyze is original, bonkers, absurdly engaging and strangely realistic, connecting with our reality in impressive ways. So, without further ado, let's talk about the British version of “Utopia”. Let's go!)



A série segue uma equipe de fãs de quadrinhos que, ao encontrarem o manuscrito da sequência de uma HQ que previu catástrofes e epidemias, são perseguidos por uma organização conhecida como “A Rede”, disposta a matar qualquer um para encontrar tanto o manuscrito quanto a misteriosa Jessica Hyde (Fiona O'Shaughnessy).

(The show follows a group of comic book fans that, by finding the manuscript of the sequel of a comic book that predicted catastrophes and epidemics, are chased by an organization known as “The Network”, that's willing to kill in order to get their hands on both the manuscript and the mysterious Jessica Hyde (Fiona O'Shaughnessy).)



Ok, antes de começar a falar da série em si, vamos aos fatos: britânicos são GÊNIOS. Não há palavra melhor para descrever a criatividade dessas pessoas, responsáveis pela criação de vários dos melhores (e mais originais) programas de TV dos últimos tempos, tais como “Doctor Who”, “Fleabag”, “Black Mirror”, “Sherlock”, “Inside No. 9”, “Peaky Blinders”, “Broadchurch”, “The End of the F***ing World” e “Derry Girls”, só pra dar alguns exemplos. Outra coisa que faz dos britânicos pessoas à frente de seu tempo é a ousadia que eles têm ao mostrar conteúdos explícitos em canais de TV paga. Eles não têm vergonha de mostrar violência tarantinesca, cenas íntimas ou, para tornar tudo mais realista, cenas involvendo o consumo de drogas ilícitas. A exibição desses tipos de conteúdo em plena TV paga pode servir como combustível para uma enxurrada de controvérsias, mas isso acaba por dar um tom menos mecânico e mais humano às histórias que eles desejam contar, o que resulta em uma quase total imprevisibilidade. Com isso dito, vamos falar do roteiro de “Utopia”. A série é criada e roteirizada pelo Dennis Kelly (que também foi responsável por escrever a adaptação musical de “Matilda”), e uma das melhores coisas que ele faz ao nos ambientar nesse universo fictício é pegar todos os artifícios fantasiosos que o enredo dispõe e cimentá-los no mundo real, dando um caráter bem realista às situações retratadas, por mais absurdas que elas pareçam ser. O quanto menos vocês souberem sobre a história, mais irão se impressionar com o que Kelly criou aqui. É uma história engajante, original e imprevisível, que abre portas para discussões sobre a realidade na qual vivemos agora, fazendo conexões incrivelmente bem pensadas com eventos da vida real, como o assassinato do membro do Parlamento Britânico Airey Neave em 1979 e a disseminação da doença da vaca louca. Outra coisa que Kelly acerta em cheio em “Utopia” é o desenvolvimento de seus personagens, e o roteirista faz questão de não colocá-los em categorias, de forma que ninguém aqui é mocinho ou vilão. As mentalidades, as personalidades e as reações desses personagens são muito maleáveis, o que acaba por colocar todos eles em uma zona cinzenta enorme, longe de qualquer extremo ou categoria pré-estabelecida. E isso é uma coisa que não se vê muito nas séries de hoje em dia, especialmente nas séries americanas. E aí temos o que faz de “Utopia” algo bem controverso: as cenas de violência extrema. Eu fiquei MUITO impressionado com a ousadia de Kelly ao retratar a violência na TV (e olha que não é nem no streaming, que aí já é outra conversa). É algo bem pesado, e ao mesmo tempo, alcança seu objetivo de causar desconforto e choque no espectador. (Eu juro que vocês nunca vão olhar para uma colher do mesmo jeito depois de assistirem à série.) A história se desenvolve extraordinariamente bem ao longo de seus 12 episódios, divididos em duas temporadas. Há várias reviravoltas, e um final em aberto, o que muitos podem considerar uma falha, mas eu considero como uma completude (e possível repetição) do ciclo narrativo, consolidando assim a estrutura nada convencional proposta por “Utopia”. Agora, é torcer para que a adaptação americana se mantenha fiel à ousadia da original, e que talvez dê uma continuidade à sua mitologia, pelas mãos da fantástica Gillian Flynn (autora e roteirista de “Garota Exemplar” e “Sharp Objects”), que também é conhecida pela imprevisibilidade de seu trabalho.

(Okay, before I start talking about the series itself, let's face the facts: British people are GENIUSES. There simply isn't a better word to describe these people, who were responsible for creating some of the finest (and most original) TV shows in recent years, such as “Doctor Who”, “Fleabag”, “Black Mirror”, “Sherlock”, “Inside No. 9”, “Peaky Blinders”, “Broadchurch”, “The End of the F***ing World” and “Derry Girls”, to name a few. Another thing that makes the British ahead of their time is their boldness in showing explicit content on television channels. They aren't afraid of showing Tarantino-esque violence, intimate scenes and, to make it even more realistic, scenes involving the use of illicit drugs. The showing of content like that on TV may serve as pure fuel for a tsunami of controversy, but it ends up giving a less mechanic and more human tone to the stories they wish to tell, resulting in an almost complete unpredictability on what to expect next. With that said, let's talk about the screenwriting in “Utopia”. The show is created and written by Dennis Kelly (who also wrote the musical adaptation of “Matilda”), and one of the best things he does while setting us in this fictional universe is taking every fantasy aspect the plot may require and cement them into the real world, giving a more realistic feel to the situations portrayed on-screen, as absurd as they may seem. The less you know about the story, the more you'll be impressed with what Kelly has created here. It's an engaging, original and unpredictable story, that opens discussions about the reality we're living in right now, making incredibly well-thought connections with real-life events, such as the murder of British Parliament member Airey Neave in 1979 and the dissemination of the mad cow disease. Another thing in which Kelly excels at in “Utopia” is in the development of its characters, and the screenwriter manages to not label them into any category: none of them are either good or bad. Their mentalities, personalities and reactions are really flexible, which ends up putting them into this huge grey zone, far away from any extreme or pre-established label. And that's something we don't get to see very often in today's shows, especially American ones. And then we have the thing that made “Utopia” something really controversial: the scenes depicting extreme violence. I was REALLY impressed with Kelly's boldness in portraying violence on television (and it wasn't on streaming, since that's a whole 'nother thing). It's something really heavy to handle, but at the same time, it achieves its objective in causing discomfort in the viewer. (I swear you'll never look at a spoon the same way after watching this show.) The story is developed extraordinarily well throughout its 12 episodes, which were divided into 2 seasons. There are several plot twists, and an open ending, something that many may consider a flaw, but I consider it to be a completeness (and possible repetition) of the narrative cycle, therefore consolidating the unconventional structure of “Utopia”. Now, my fingers are crossed for the American adaptation to be faithful to the original series's boldness, and that maybe it can continue its mythology, under the command of the fantastic Gillian Flynn (writer and screenwriter of “Gone Girl” and “Sharp Objects”), who is also known by the unpredictability of her work.)



O elenco é composto de alguns nomes moderadamente famosos para o público britânico. Na linha de frente, temos a dinâmica entre a Alexandra Roach e o Nathan Stewart-Jarrett, que é explosiva ao mesmo tempo que é instável. Temos bons desempenhos de Oliver Woollford, Adeel Akhtar e Paul Higgins, que são alguns dos personagens mais imprevisíveis da série. Eu simplesmente amei a performance da Fiona O'Shaughnessy, que consegue transmitir perfeitamente na tela o mistério e a ambiguidade que a personagem dela tem no papel. É, de longe, a melhor personagem de “Utopia”. E, pra fechar esse elenco com chave de ouro, temos performances incríveis de Neil Maskell (que interpreta um alívio cômico extremamente ameaçador); Geraldine James (que possui um dos melhores desenvolvimentos, em termos de personagem), e Ian McDiarmid (sim, o Imperador de “Star Wars” está aqui, e interpreta um dos papéis mais surpreendentes da trama). Como dito anteriormente, o quanto menos souberem, mais irão se impressionar, então pra não entrar em território de spoiler, vou parar por aqui.

(The cast is composed by some names that are moderately famous for a British audience. On the front line, we have the dynamics between Alexandra Roach and Nathan Stewart-Jarrett, which is explosive, and at the same time, unstable. We have good efforts by Oliver Woollford, Adeel Akhtar and Paul Higgins, who play some of the most unpredictable characters in the show. I simply loved Fiona O'Shaugnessy's performance. She manages to perfectly transmit onscreen the mystery and ambiguity her character has on paper. She's, by far, the best character in “Utopia”. And, to round up this cast with a bang, we have incredible performances by Neil Maskell (who plays an extremely threatening comic relief); Geraldine James (who has one of the best character developments throughout the series), and Ian McDiarmid (yes, the Emperor from “Star Wars” is here, and he plays one of the most surprising roles in the plot). As previously stated, the less you know, the more you'll be impressed, so, in order for me to not enter any spoiler territory, I'll stop here.)



Nos aspectos técnicos, encontramos um dos maiores acertos da série. A direção de fotografia e a direção de arte de “Utopia” são de tirar o fôlego. Uma das razões do porquê disso acontecer é a escolha de não filmar em fullscreen (tela cheia), mas sim em widescreen (tela plana). Ela possui um visual puramente cinematográfico, com enquadramentos simétricos e tons vibrantes e fortes nas cores destacadas. É muito bom quando uma série tem a mesma quantidade de estilo e substância. Tem um episódio que é ambientado no passado e, por consequência, ele é filmado em 4:3, o que reflete como a televisão seria na época retratada. Outra prova da genialidade e do bom planejamento que os britânicos têm em relação às suas séries. A trilha sonora instrumental do Cristobal Tapia de Veer reflete muito bem o tom cínico e ousado que a série propõe desde o início. Algumas das cenas de violência são estilizadas ao máximo, a ponto de se tornarem até absurdas; outras, no entanto, possuem a crueza e o realismo que um ato de violência teria na vida real. E, pra fechar, temos a montagem. Ao todo, “Utopia” é uma série muito bem montada, e a edição é usada de forma brilhante para suavizar cenas que, mesmo para os britânicos, são explícitas e pesadas demais para serem vistas.

(In the technical aspects, we find one of the show's biggest triumphs. The cinematography and the art direction in “Utopia” are breathtaking. One of the reasons why that happens is the choice of not filming in fullscreen, but in widescreen. It has purely cinematic visuals, with symmetrical frames and vibrant, strong tones in the highlighted colors. It feels really good when a show has the exact same amount of style and substance. There's an episode that's set in the past, and consequently, it's filmed in 4:3, which reflects how television would be in the time shown onscreen. Yet another proof of the British's genius ability of planning out their shows. Cristobal Tapia de Veer's score wonderfully reflects the cynical, bold tone the series proposes from the very start. Some of the violent scenes are stylized to the max, to the point they become absurd; others, however, have the rawness and realism that an act of violence would have in real life. And, to round it up, we have the editing. As a whole, “Utopia” is a show marvelously well put together, and the editing devices are used brilliantly to soften the impact of some scenes that, even for the British, are too explicit and heavy to be witnessed.)



Resumindo, “Utopia” é mais uma prova da genialidade, originalidade e ousadia dos britânicos ao criarem séries. Munido com uma história imprevisível e estranhamente realista, um elenco extremamente competente, e um visual puramente cinematográfico, Dennis Kelly cria uma série nada convencional que manterá o espectador engajado até o último minuto.

Nota: 9,5 de 10!!

É isso, pessoal! Espero que tenham gostado! Até a próxima,

João Pedro

(In a nutshell, “Utopia” is yet another proof of the British's genius, originality and boldness in creating TV shows. Armed with an unpredictable and strangely realistic story, an extremely competent cast, and purely cinematic visuals, Dennis Kelly creates an unconventional show that will keep the viewer engaged all the way through its last minute.

I give it a 9,5 out of 10!!

That's it, guys! I hope you liked it! See you next time,

João Pedro)