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quinta-feira, 24 de setembro de 2020

"Enola Holmes": um sopro de ar fresco em Baker Street (Bilíngue)

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E aí, meus caros cinéfilos! Tudo bem com vocês? Estou de volta, para trazer a resenha da mais nova produção original da Netflix. Uma subversão um pouco rasa mas criativa na mitologia criada por Sir Arthur Conan Doyle, o filme em questão é impulsionado pela contagiante personalidade de sua protagonista, resultando em uma fonte de sagacidade, humor e bastante diversão para toda a família. Então, sem mais delongas, vamos falar sobre “Enola Holmes”. Vamos lá!

(What's up, my dear film buffs! How are you guys doing? I'm back, in order to review the most recent original Netflix production. A creative yet a bit shallow subversion on the mythology created by Sir Arthur Conan Doyle, the film I'm about to review is bolstered by its protagonist's contagious personality, resulting in a source of wittiness, humor and plenty of fun for the whole family. So, without further ado, let's talk about “Enola Holmes”. Let's go!)



Baseado no primeiro livro da série de mesmo nome, escrita por Nancy Springer, o filme acompanha Enola (Millie Bobby Brown), a rebelde irmã caçula do famoso detetive Sherlock Holmes (Henry Cavill). Ao descobrir que sua mãe (Helena Bonham Carter) está desaparecida, Enola parte em uma jornada para encontrá-la, e acaba cruzando caminhos com um jovem marquês (Louis Partridge) envolvido em uma perigosa conspiração.

(Based on the first book of the series of the same name, written by Nancy Springer, the film follows Enola (Millie Bobby Brown), the rebellious youngest sibling of famous detective Sherlock Holmes (Henry Cavill). When finding out that her mother (Helena Bonham Carter) is missing, Enola sets off on a journey to find her, and ends up crossing paths with a young marquess (Louis Partridge) involved in a dangerous conspiracy.)



Ao ouvir falar que esse filme seria feito, fiquei me perguntando se uma história contada em Baker Street sob o ponto de vista de alguém sem ser o Sherlock ou o Watson daria certo. E ainda, tendo como base algo que nem foi escrito pelo Sir Arthur Conan Doyle, autor original das histórias do detetive. Mas aí, fiquei sabendo das pessoas envolvidas no projeto. Harry Bradbeer (diretor de “Fleabag”) na direção, Jack Thorne (roteirista de “Harry Potter e a Criança Amaldiçoada”, “His Dark Materials” e “Extraordinário”) no roteiro, e grandes nomes britânicos como Millie Bobby Brown, Henry Cavill, Sam Claflin, Helena Bonham Carter, Fiona Shaw e Frances de la Tour no elenco. Quando o marketing começou, minhas expectativas foram aumentando cada vez mais, já com uma mentalidade de que esse não vai ser um filme cotado pra Oscar. “Enola Holmes”, ao contrário de filmes como “Destacamento Blood”, “Estou Pensando em Acabar com Tudo” e “O Diabo de Cada Dia”, chegou ao catálogo da Netflix com um único propósito: puro e autêntico entretenimento. E nesse aspecto, o filme de Bradbeer mostrou a que veio. Eu gostei bastante do roteiro de Thorne, cujo objetivo principal é construir uma identidade própria para sua protagonista, longe da sombra do irmão famoso. O roteirista consegue fazer isso através de frequentes quebras da quarta parede (que, para quem não sabe, é aquele artifício onde o personagem interage com o espectador olhando diretamente para a câmera, o que é um tremendo easter-egg para os fãs de “Fleabag”, também dirigida por Bradbeer), e de flashbacks explorando a dinâmica de Enola com sua mãe, a qual é o fio condutor emocional do filme. A personagem-título tem uma personalidade bem contagiante, e isso acontece na maior parte graças ao enorme carisma de Millie Bobby Brown, mas Thorne consegue fazer o espectador se importar e se investir emocionalmente nela, o que já é um tremendo ponto forte. A história em si não é cheia de mistério nem possui tantas reviravoltas como alguém esperaria de um clássico enredo de Sherlock Holmes, mas o roteiro guarda algumas surpresas bem interessantes que deixarão o espectador boquiaberto. Uma das melhores coisas que o roteirista consegue fazer é dar à Enola uma certa humanidade. Deixa eu explicar isso melhor: na adaptação do trabalho de Doyle para TV estrelando Benedict Cumberbatch como o personagem-título, o Sherlock é interpretado como alguém que raramente comete um erro, o que também acontece aqui com a versão do detetive interpretada por Henry Cavill. No caso da Enola, vemos ela cometendo vários erros, seja através de deduções ou de cenas de luta, o que acaba por dar à protagonista um senso maior de humanidade, ao contrário da aparente invencibilidade do irmão mais velho. E isso pode ajudar o espectador a desviar a atenção dos irmãos mais velhos e direcioná-la à personagem-título, o que é muito bom. Outro aspecto bem interessante do roteiro é a ambientação. Ao invés de não inserir nenhum subtexto que possa dar ao enredo alguma profundidade, Thorne ambienta sua história no início do séc. XX, durante o auge do movimento sufragista no Reino Unido, cujo propósito era conseguir o direito ao voto para as mulheres. E esse contexto sociopolítico combina perfeitamente com o tom de empoderamento que o filme deseja dar à protagonista. Resumindo, mesmo que seja um pouco raso no quesito mistério, o roteiro de Thorne é divertido e envolvente, representando um sopro de ar fresco na mitologia de Baker Street, e o início de uma franquia em potencial para a Netflix.

(When I heard that this film was going to be made, I was left wondering if a story told in Baker Street under the point of view of anyone else rather than Sherlock or Watson would work. And based on material that wasn't written by Sir Arthur Conan Doyle, the original author of the detective's stories. But then, I heard about who was involved in it. Harry Bradbeer (director of “Fleabag) directing, Jack Thorne (screenplay and theatre writer known for “Harry Potter and the Cursed Child”, “His Dark Materials” and “Wonder”) penning the screenplay, and great British names like Millie Bobby Brown, Henry Cavill, Sam Claflin, Helena Bonham Carter, Fiona Shaw and Frances de la Tour in its cast. When the marketing campaign started, my expectations just kept getting higher, already thinking that this isn't going to be an Oscar-directed flick. “Enola Holmes”, unlike films like “Da 5 Bloods”, “I'm Thinking of Ending Things” and “The Devil All the Time”, arrived at the Netflix catalog with one single purpose: pure and unadulterated entertainment. And in that aspect, Bradbeer's film delivered. I really enjoyed Thorne's screenplay, whose main objective is building a proper identity for its protagonist, away from her famous brother's shadow. The screenwriter manages to do this through frequent fourth-wall breaks (which, for those who don't know, is that device where the character interacts with the audience by looking directly at the camera, which is one hell of an easter-egg for the fans of “Fleabag”, also directed by Bradbeer), and flashbacks exploring the dynamic between Enola and her mother, which is the emotional conductive force of the film. The title character has a contagious personality, which mostly happens due to Millie Bobby Brown's enormous charisma, but Thorne manages to make the viewer care and emotionally invest in her, which is already something great. The story itself isn't filled with mystery or plot twists as one would expect from a classic Sherlock Holmes plot, but the screenplay stores some interesting surprises that could leave the viewer's jaw dropped. One of the best things that the screenwriter manages to do is giving Enola a humanity of sorts. Let me explain this better: in the TV adaptation of Doyle's work, starring Benedict Cumberbatch as the title character, Sherlock is portrayed as someone that rarely makes a mistake, which also happens here with Henry Cavill's version of the detective. In Enola's case, we see her make several mistakes, whether it's on a deduction or during a fight scene, which ends up giving her a bigger sense of humanity, unlike her older brother's apparent invincibility. And that may help the viewer to direct their eyes to her rather than paying attention to her older brothers, which is really good. Another interesting aspect about the screenplay is the setting. Rather than not inserting some subtext that may give the story some depth, Thorne sets his story in the early 20th century, during the peak of the sufragette movement in the UK, whose purpose was to get women the right to vote. And that sociopolitical context perfectly fits the tone of empowerment the film wants to give its protagonist. In a nutshell, even though it's a little shallow on the mystery department, Thorne's script is fun and involving, representing a breath of fresh air to the Baker Street mythology, and the beginning of a potential franchise for Netflix.)



A quantidade de talento no elenco desse filme é quase exorbitante. Pra começar, temos o carisma inegável de Millie Bobby Brown como a personagem-título. A Enola é absolutamente o contrário da Eleven de “Stranger Things”: ao invés de ser expressiva somente com os olhos, Enola é bastante comunicativa (e até demais, o que é uma vantagem). Mas há alguns aspectos presentes nas personalidades das duas personagens: ambas são rebeldes, lutadoras e persistentes. E Brown ainda consegue cativar o espectador apenas com uma expressão facial, através das quebras da quarta parede mencionadas anteriormente. Eu gostei bastante do contraste que claramente há entre o Sherlock do Henry Cavill e o Mycroft do Sam Claflin: enquanto Sherlock é flexível a respeito da educação e personalidade da irmã, Mycroft é absolutamente contra qualquer tipo de pensamento que não seja a ideologia dominante, o que faz dele um “vilão” até um pouco forçado, por assim dizer. A Helena Bonham Carter está em cena por muito pouco tempo, mas a dinâmica da personagem dela com Enola é bem cativante. Eu adorei a Fiona Shaw nesse filme, onde ela interpreta um alívio cômico misturado com antagonista secundário, o que acaba rendendo muitas risadas. Outros destaques incluem Adeel Akhtar (que interpreta o famoso Inspetor Lestrade), Burn Gorman (interpretando um vilão ameaçador), e Louis Partridge (que possui uma boa dinâmica com Brown).

(The amount of talent in this film's cast is almost overflowing. For starters, we have the undeniable charisma of Millie Bobby Brown as the title character. Enola is absolutely the opposite of Eleven from “Stranger Things”: rather than just expressing herself through her eyes, Enola is really communicative (too much, really, which is an advantage). But there are some aspects that are present in both characters' personalities: both of them are rebellious, fighters, and persistent. And Brown still manages to captivate the viewer from one facial expression, through the aforementioned fourth-wall breaks. I really liked the clear contrast between Henry Cavill's Sherlock and Sam Claflin's Mycroft: while Sherlock is flexible regarding his sister's education and personality, Mycroft is absolutely against every kind of thought that isn't the dominant ideology, which makes him a kind of forced “villain”, so to speak. Helena Bonham Carter is onscreen for a small amount of time, but her character's dynamics with Enola is really captivating. I simply loved Fiona Shaw in this film, where she portrays a mix between comic relief and secondary antagonist, which ends up in a lot of laughter. Other highlights include Adeel Akhtar (who portrays the famous Inspector Lestrade), Burn Gorman (playing a threatening villain), and Louis Partridge (who shares a good dynamic with Brown).)



E por último, mas não menos importante, temos os aspectos técnicos, onde se encontram alguns dos pontos mais fortes de “Enola Holmes”. Eu achei bem original o fato da fotografia se concentrar mais no interior da Inglaterra do que em Londres em si, o que acaba por diferenciar o estilo visual do longa, comparando com adaptações do trabalho de Doyle, que têm um caráter mais urbano. A direção de arte é fantástica, da recriação da Londres do início do séc. XX aos castelos e mansões nos quais a protagonista se encontra ao longo do filme. O design de figurino é espetacular, sendo exatamente o que esperávamos de uma adaptação de Sherlock Holmes ambientada na época em que Doyle originou o personagem. A montagem é muito bem feita, transitando entre a jornada de Enola e os flashbacks com perfeição, o que colabora para um amadurecimento cada vez mais evidente da protagonista. Assim como em várias adaptações de Holmes, há sequências onde o raciocínio do detetive é mostrado, e a edição é impecável nesses momentos. Há uma cena de luta sensacional que é mais eficiente graças à montagem, através de um espelhamento entre duas cenas misturadas. Há um uso de CGI em duas cenas aqui, mas não chega a poluir o filme. E a trilha sonora do Daniel Pemberton é bem parecida com o que o David Arnold e o Michael Price fizeram para a adaptação da BBC do trabalho de Doyle, ambientada nos tempos atuais.

(And at last, but not least, we have the technical aspects, where we find some of “Enola Holmes”'s strongest forces. I thought that the fact the cinematography focuses more on the countryside of England rather than London itself to be quite original, which ends up differing it from adaptations of Doyle's work, which have a more urban feel to it. The art direction is fantastic, from the recreation of early 20th-century London to the castles and mansions the protagonist finds herself in throughout the film. The costume design is spectacular, being exactly what we expected from a Sherlock Holmes adaptation set during the time Doyle created the character. The editing is very well done, transitioning between Enola's journey and the flashbacks with perfection, which collaborates for a more evident growth from the protagonist. As in many Holmes adaptations, there are sequences where the detective's train of thought is shown, and the editing is flawless in those moments. There is an astounding fight scene here which is more efficient thanks to the editing, through a mirroring between two scenes put together. There's a use of CGI in two scenes here, but it doesn't pollute the film. And Daniel Pemberton's score is much alike what David Arnold and Michael Price did for the BBC adaptation of Doyle's work, set in modern-day times.)



Resumindo, “Enola Holmes” é um sopro de ar fresco na mitologia de Baker Street. Pode até ser um pouco raso no quesito mistério, mas graças à sagacidade do roteiro, o carisma do elenco, e os incríveis aspectos técnicos, Harry Bradbeer e sua equipe conseguem fazer o espectador desejar por mais ao final do filme. NETFLIX, SIGA EM FRENTE COM ESSA FRANQUIA, POR FAVOR.

Nota: 9,0 de 10!!

É isso, pessoal! Espero que tenham gostado! Até a próxima,

João Pedro

(In a nutshell, “Enola Holmes” is a breath of fresh air in the Baker Street mythology. It might be a bit shallow in the mystery department, but thanks to the screenplay's wittiness, the cast's charisma, and the incredible technical aspects, Harry Bradbeer and his team manage to make the viewer wish for more by the end of the film. NETFLIX, MOVE FORWARD WITH THIS FRANCHISE, PLEASE.

I give it a 9,0 out of 10!!

That's it, guys! I hope you liked it! See you next time,

João Pedro)


2 comentários:

  1. Uau! Aprendi mais um tantão sobre cinema. Só não vou poder assisitir, pq cancelei esse streaming. Parabéns, João Pedro!

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